De Portugal a S. Paulo

Para a dimensão da economia portuguesa, 250,4 mil milhões de euros não é um valor sem significado. Representada em notas de 500 euros, o comprimento da dívida pública mede mais de 8000 kms, ou seja, a distância de Portugal a S. Paulo.

De acordo com os últimos dados do Banco de Portugal, a dívida pública no mês de março situou-se nos 250,4 mil milhões de euros, ou seja, mais 20 mil milhões acrescentados à dívida pública desde que o atual Governo tomou posse. Números são números e não há como os ignorar. Independentemente de as decisões tomadas pelo executivo terem sido as melhores ou não, a realidade é esta.

Apesar de terem existido neste espaço temporal maiores ou menores “almofadas financeiras”, este é o valor da dívida pública, com a agravante de ser quase toda detida por credores internacionais. Na ótica dos critérios de Maastricht, no final de 2018 estima-se que esta tenha representado 121,5% do PIB. As boas notícias é que os juros continuam historicamente baixos e as intervenções que o BCE efetuou no mercado secundário na compra de dívida pública surtiram pleno efeito, caso contrário provavelmente já teríamos por cá outra intervenção externa.

Para a dimensão da economia portuguesa, 250,4 mil milhões de euros não é um valor sem significado. Representada em notas de 500 euros, o comprimento da dívida pública mede mais de 8000 kms, ou seja, a distância de Portugal a S. Paulo, ou quase o tamanho de todas as autoestradas francesas. Se absurdamente alguém conseguisse caminhar 24 horas por dia, demoraria mais de dois meses para chegar ao final da dívida.

Evidentemente todos os países têm a sua dívida pública, mas a portuguesa, em termos relativos do PIB, continua a ser uma das mais elevadas do mundo e a terceira mais elevada da União Europeia.

Caso tenhamos a ambição de colocar a dívida pública dentro dos critérios de Maastricht e esta diminua por ano três pontos percentuais em relação ao PIB, demoraremos 25 anos para atingir 60%. Demoramos apenas dez anos a duplicar o valor relativo da dívida, mas demoraremos 25 (se tudo correr bem) a corrigir os erros e as más decisões tomadas.

Excedentes orçamentais sustentados e crescimentos do PIB é o que necessitamos nas próximas décadas. Instabilidades e irresponsabilidades políticas são completamente desnecessárias e só servem para alimentar notícias e perder o foco no que é realmente importante.

Em termos económicos e visto por pessoas responsáveis, é unânime que dívidas públicas elevadas, instituições fracas e baixas produtividades dos fatores são algumas das causas que provocam fracos crescimentos económicos. Infelizmente, em Portugal verificam-se estes três fatores. As instituições são fracas, as produtividades não descolam e a dívida pública é teimosamente elevada. Já seria uma boa notícia que pelo menos esta última começasse a diminuir ano após ano.

Mas para que tal aconteça é necessário que exista durante este tempo todo um alargado consenso nacional, sendo que por vezes o que parece imperar são irresponsabilidades da classe política que temos.

O povo diz que “cada um tem aquilo que merece”, mas eu não acredito nisso. Da mesma forma que o povo venezuelano não merece que um dos sucessores de Simón Bolivar seja Nicolás Maduro, o povo português merece que os sucessores de D. Afonso Henriques estejam à sua altura.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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