Costa e Marques unidos contra “sujeira” feita por PSD e CDS. “Não é digna da democracia”

Depois de um voo de helicóptero de Paulo Rangel, sobrevoando zonas devastadas pelos grandes incêndios de 2017, o candidato socialista pediu o voto “pela dignidade” contra quem faz política de “oportunismo lamentável” usando a “tragédia das pessoas”. Costa fala em “campanha suja e negra”.

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LUSA/MIGUEL A. LOPES

Foram apenas cinco minutos de discurso numa sala em silêncio absoluto. “Hoje a campanha foi longe demais”, começou por dizer. O início solene, directo, pouco usual em Pedro Marques, fazia prever que o candidato tinha algo de grave para dizer. E assim foi. Pedro Marques teve apenas um tema no que tinha preparado para se dirigir ao público que o esperava em Faro: a condenação da campanha da direita que trouxe para a campanha “a tragédia dos incêndios e das pessoas em 2017”. Costa ajudou-o, num estilo mais agressivo, acusando quem usou os incêndios de uma “sujeira” que “não é digna da democracia”.

O voo de helicóptero de Paulo Rangel sobrevoando zonas devastadas pelos grandes incêndios de 2017 foi a gota de água que fez transbordar o copo do candidato socialista. “Na corrida pelo oportunismo político mais lamentável, Rangel ganhou de longe. Ele escolheu sobrevoar a dor das pessoas e do território, desiludiu os que por lá esperavam, mesmo que com dois anos de atraso, a palavra, um gesto, um momento para ouvir e compreender”, disse Pedro Marques para abrir os discursos nesta noite quente em Faro.

No bolso tinha as críticas de José Brito, autarca da Pampilhosa da Serra (PSD) ao candidato social-democrata, a Paulo Rangel pelo sobrevoo. “Um homem bom”, disse sobre José Brito. “Interpretou o sentimento das suas gentes considerando que esta foi uma afronta à população da Pampilhosa. Falou de um desrespeito total para com as pessoas do território. Compreendo-o bem. Sei bem como aqueles dias foram tão difíceis e como nada substitui a presença, uma palavra de solidariedade, esperança, mas logo a seguir tomar medidas concretas, de ajudas concretas, que era o que a população esperava de nós, dos políticos”, referiu o ex-ministro.

Se esta é a atitude da direita, a dele, referiu por várias vezes, foi diferente, quis demonstrar em conversa com os farenses. Há “uma grande diferença entre quem enfrenta a dor, ganha forças na esperança dos outros, daquelas gentes, faz, trabalha, ajuda, e os que fazem política de longe e depressa para o espectáculo mediático. Uns metem as mãos na massa, sujam as mãos; outros sobrevoam as dificuldades, espreitando cada oportunidade de arrebanhar uns votos que parecem fáceis.”

Crítica atrás de crítica a Paulo Rangel, sem descanso aos longo dos cinco minutos. Marques tentou dar uma lição de como não fazer política: “A dor nunca é fácil, a dor respeita-se. Sim, como diz José Brito, dá vontade de gritar contra políticos superficiais que não conhecem o país e que já só conhecem os corredores de Bruxelas”. Foi por esta atitude que pediu o voto pela “dignidade política”.

A campanha “suja e negra"

A apoiá-lo, Pedro Marques teve António Costa, que subiu ao palco depois do curto discurso do candidato para, sem a subtileza de Marques e num tom mais agressivo, acusar os adversários de estarem a fazer uma campanha “suja e negra”.

Recordando a viagem de helicóptero de Rangel, Costa começou por dizer que “a vida política não se faz a andar de helicóptero, mas faz-se a andar com os pés no chão”.

“A política não é um espectáculo para as televisões. Não são frases engraçadinhas, campanhas sujas e negras que se vão construindo arregimentando artificialmente nas redes sociais perfis falsos para atacar e denegrir os adversários. Isso não é política, é sujeira, não é digno da democracia”, disse o secretário-geral do PS, que fará campanha por Pedro Marques nos comícios nocturnos.

Costa elogiou a campanha do seu candidato e pediu-lhe que se mantivesse na mesma: “Sê igual a ti próprio. Nós somos iguais a nós próprios, não vamos entrar num concurso de piadinhas, nem na campanha suja”, disse. A crítica sobraria também para a comunicação social, mesmo que de forma indirecta, ao dizer que o PS pode “não ter setas para cima nem agradar a comentadores”, mas está bem com a “consciência”. 

No fim fica a dúvida, que nem Costa nem Marques têm desmanchado, se este poderá vir a ocupar outro cargo, nomeadamente de comissário. Costa acabou por deixar cair que não sabe se Marques estará em Bruxelas “seis meses ou dez anos”, mas referiu, em tom de elogio: mesmo que sejam “só seis meses”, será melhor do que Paulo Rangel e Nuno Melo. “Farás mais em seis meses do que Melo em Rangel fizeram em dez anos”, disse.

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