Ao mesmo tempo que suaviza discurso, Trump prepara novas taxas contra a China

Presidente norte-americano diz-se optimista em relação a um entendimento, no mesmo dia em que a Casa Branca publica uma nova lista de produtos chineses alvos potenciais de futuras subidas de taxas alfandegárias.

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LUSA/Chris Kleponis / POOL

Por um lado, manter o nível de ameaça elevado, por outro abrir a porta a um entendimento. Esta parece ser a estratégia dos Estados Unidos no momento em que o conflito comercial com a China atinge outro ponto alto, continuando a provocar perdas acentuadas nos mercados financeiros internacionais.

Ao início da noite desta segunda-feira, algumas horas depois de a China ter anunciado que, como retaliação às novas taxas alfandegárias impostas pelos EUA, iria subir a 1 de Junho as taxas aplicadas a 60 mil milhões de dólares de importações norte-americanas, a Casa Branca deu vários sinais de como pretende gerir as negociações com Pequim.

Por um lado, o representante para o comércio publicou uma lista de produtos chineses que poderão ser alvo de uma nova subida de taxas alfandegárias, no valor de 300 mil milhões de dólares. Na prática, é um alargamento desta medida a praticamente todos os produtos importados da China que até aqui tinham sido poupados pelos EUA, incluindo telemóveis, computadores, vestuário de crianças ou brinquedos.

A publicação da lista é o primeiro passo para uma eventual subida de taxas alfandegárias até aos 25% e serve assim como ameaça à China caso o conflito entre os dois países se continue a agravar.

Ao mesmo tempo, no entanto, em declarações à imprensa, Donald Trump optou no final de segunda-feira por um discurso mais suave em relação à China. Talvez preocupado com as quedas registadas entretanto na bolsa, o presidente norte-americano disse que “dentro de duas ou três semanas” se iria saber de forma mais clara se as negociações com a China seriam bem sucedidas, afirmando depois que tinha “um pressentimento que serão muito bem sucedidas”.

O encontro entre Donald Trump e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, agendado para a reunião do G20 em Osaka, no Japão, no final de Junho, parece ser agora o momento decisivo para a chegada a algum tipo de entendimento entre os dois países.

Donald Trump fez também questão de tranquilizar um dos sectores de actividade que, nos EUA, mais pode ter a perder com o prolongamento de um clima de confronto com a China no comércio, prometendo aos agricultores a entrega de novos subsídios no valor de 15 mil milhões de dólares. O sector agrícola norte-americano, em particular no que diz respeito à produção de soja, tem uma forte dependência das compras provenientes da China e tem vindo a ser afectado desde que as autoridades chinesas subiram as taxas alfandegárias dessas importações.

A lógica de Trump é a de que, com o dinheiro arrecadado com as taxas alfandegárias impostas à China, o governo federal fica com o dinheiro necessário para compensar as perdas dos agricultores. Não refere, contudo, que essas receitas do Estado são na prática o resultado dos preços mais elevados suportados pelos consumidores norte-americanos nos bens importados da China.

Do lado da China – cuja economia baseada nas exportações tem muito a perder com um conflito comercial com o maior consumidor do mundo – o discurso dos responsáveis políticos e os editoriais dos principais jornais têm sido bastante prudentes, abrindo sempre a porta a um entendimento com os EUA. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês preferiu, no dia a seguir ao anúncio da retaliação chinesa, destacar que os dois países “continuam a realizar negociações relevantes”. Ainda assim deixou um alerta para a Casa Branca: “Esperamos que os EUA não leiam incorrectamente a situação e subestimem a determinação e vontade de defender os seus interesses da China”.

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