Irão vai reiniciar parte do seu programa nuclear em resposta aos EUA

Washington enviou porta-aviões para o Golfo Pérsico, embora não tenha indicações de que esteja a ser preparado um ataque contra forças norte-americanas. O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, diz que o objectivo é “enviar uma mensagem clara ao Irão”.

Foto
A bordo do porta-aviões USS USS Abraham Lincoln Garrett LaBarge/Marinha dos EUA/REUTERS

Depois de os EUA terem enviado um porta-aviões e bombardeiros para o Médio Oriente em resposta a “indicações e avisos” do Irão, a República Islâmica prepara-se para reiniciar parte do seu programa nuclear, em resposta à retirada dos Estados Unidos do acordo assinado em 2015.

O Presidente iraniano Hassan Rouahni vai anunciar a 8 de Maio que o seu país reduzirá alguns dos compromissos “menores e gerais” que assumiu ao abrigo do acordo de 2015 – exactamente um ano depois de o Presidente Donald Trump ter anunciado que os Estados Unidos se retiravam do acordo nuclear. A notícia foi avançada pela agência iraniana IRIB, diz a Reuters, citando uma fonte próxima da comissão que gere o acordo.

Outra agência noticiosa semi-oficial, a ISNA, noticiou que na quarta-feira o Irão anunciar “acções recíprocas” em relação à retirada dos EUA do acordo nuclear, citando “fontes bem informadas”. Disse ainda que alguns líderes da União Europeias tinham sido “informados não oficialmente” desta decisão iraniana. Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China assinaram também o acordo, e continuam a apoiá-lo.

Nos termos do acordado em 2015, o Irão restringiu a capacidade do seu programa de enriquecimento de urânio – o processo industrial necessário para vir a desenvolver armas nucleares –, em troca do levantamento da maioria das sanções internacionais. Os inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica têm verificado repetidamente que o Irão cumpre o acordo. Israel e a Arábia Saudita, que não ficaram satisfeitos com este triunfo diplomático da Administração Obama - que não fazia qualquer menção ao desenvolvimento de tecnologia militar, uma preocupação destes Estados do Médio Oriente -, convenceram a Administração Trump a sair do acordo e os EUA repuseram sanções ao Irão.

Quanto ao envio do porta-aviões USS Abraham Lincoln para o Golfo Pérsico, o conselheiro de Segurança Nacional norte-americano, John Bolton, conhecido pela postura agressiva em relação ao Irão, disse que o objectivo era mostrar que Washington responderá com “uma força implacável” a qualquer ataque. “Os EUA não estão à procura de uma guerra com o regime do Irão, mas estamos preparados para responder a qualquer ataque, seja através de intermediários, dos Guardas da Revolução ou das forças regulares iranianas”, afirmou Bolton.

Responsáveis militares dos EUA disseram ao New York Times que na origem da deslocação do porta-aviões estariam ameaças às tropas norte-americanas no Iraque por parte de forças ligadas ao regime iraniano.

As tensões entre os EUA e o Irão aumentaram há um ano, quando o Presidente Donald Trump anunciou a retirada do seu país do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano. Na altura não foram fornecidas provas de que o Irão estivesse a violar esse acordo.

Nos últimos tempos, a Casa Branca anunciou que vai retirar as autorizações à compra de petróleo iraniano, numa tentativa de reduzir as exportações do país a zero, e designou os Guardas da Revolução como uma organização terrorista, uma medida inédita que foi recebida no Irão como uma provocação.

Sugerir correcção
Ler 72 comentários