Trump retira os EUA do acordo com o Irão

Presidente norte-americano disse que voltam a estar em vigor as sanções do país contra Teerão e que estas serão aumentadas. "Vamos instituir as mais pesadas sanções económicas". Macron fala num "acordo abrangente", tentando sossegar os iranianos e não fechar a porta a Trump.

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Reuters/JONATHAN ERNST
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O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira que os Estados Unidos deixam de cumprir os termos do acordo firmado com o Irão em 2015, que levantava as sanções em troca da suspensão do programa nuclear de Teerão. 

"Anuncio hoje que os Estados Unidos se retiram do acordo sobre o nuclear com o Irão", disse Trump. "Dentro de momentos vou assinar um memorando presidencial que começa a repor as sanções contra o regime iraniano. Vamos instituir as mais pesadas sanções económicas", disse.

"No centro do acordo com o Irão está a ficção de que o Irão procura um programa nuclear para fins pacíficos", disse Trump. "Temos provas de que esse programa é uma mentira". Mencionou como prova os documentos mostrados há dias pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que disse que Teerão mantém, desde o acordo, um programa nuclear secreto.

"Nenhuma acção do regime [iraniano] foi mais perigosa do que a procura de armas nucleares", disse Trump. "Em teoria, o chamado acordo do nuclear, devia proteger os EUA e aliados", mas, garantiu, só beneficiou o regime Teerão, que classificou de "regime de terror".

O acordo, disse, que "nunca, mas nunca", devia ter sido feito. "Não trouxe a paz nem nunca a trará".

Trump disse estar aberto a uma renegociação do acordo. Mas Teerão já disse que não o fará.

Horas antes, Donald Trump falou com o Presidente francês, Emmanuel Macron, para lhe anunciar a sua decisão sobre a manutenção ou o levantamento das sanções ao Irão previstas no acordo nuclear. 

A decisão de Trump significa que os EUA repõem todas as sanções que foram levantadas após a assinatura do acordo nuclear, em 2015, durante a Administração Obama.

As sanções americanas vão tornar mais difícil ao Irão vender o seu petróleo e usar o sistema bancário internacional. Porém, trata-se de uma retirada unilateral, os restantes signatários do acordo (Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) mantém o seu compromisso com Teerão.

O acordo prevê uma suspensão das sanções ao Irão que, nos EUA, tem de ser renovada de três em três meses. Trump tinha até 12 de Maio para decidir se renovava as sanções sobre o banco central iraniano e sobre as importações petrolíferas. No entanto, o Presidente norte-americano decidiu antecipar o anúncio para esta terça-feira.

Nos últimos dias os signatários europeus (França, Alemanha e Reino Unido) tentaram convencer Trump a não denunciar o acordo.

A saída dos EUA do acordo foi uma das principais promessas eleitorais de Trump, que o considerou “desastroso”. O Presidente norte-americano critica principalmente o facto de o acordo ser ineficaz no que toca à actuação do Irão na região, argumentando que abre caminho para que Teerão espalhe a sua influência e actue em guerras como a do Iémen e da Síria; de prever a limitação das actividades nucleares apenas até 2025; e de não englobar o programa de mísseis balísticos iraniano.

EUA nunca cumprem, acusa Rouhani

Momentos depois do discurso de Trump, o Presidente do Irão, Hassan Rouhani, reagiu, acusando Trump de "nunca" cumprir os seus compromissos e garantindo aos outros signatários que Teerão vai continuar a cumprir os termos do pacto. 

"O Irão é um país que cumpre os seus compromissos e os EUA são um país que nunca o faz", disse o Presidente iraniano.

Em Bruxelas, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, pediu à comunidade internacional para se manter no acordo, apesar da decisão de Trump. "Estou particularmente preocupada com o anúncio de novas sanções", disse. "A União Europeia está determinada a preservar o acordo. Juntamente com o resto da comunidade internacional, vamos preservar o acordo sobre o nuclear".

A Turquia disse já que vai continuar a negociar com o Irão. "A partir de agora, vamos continuar a negociar com o Irão dentro do quadro possível e não prestará conta a ninguém sobre o assunto", diss eo ministro da Economia, Nihat Zeybekci.

Em França, o Presidente Emmanuel Macron lamentou a decisão de Trump e disse que"o regime de não proliferação nuclear está em risco". "Vamos trabalhar no sentido de haver um esforço colectivo para um acordo abrangente, que cubra a actividade nuclear, o período pós-2015 [a data limite do acordo de 2015], a actividade balística e a estabilidade no Médio Oriente, nomeadamente na Síria, no Iémen e no Iraque", disse Macron no Twitter.

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