Barry Hatton conta a história de Lisboa, que é a de Portugal, e não é cor-de-rosa

Rainha do Mar foi publicado há um ano no Reino Unido e nos EUA e chegou a Portugal pela mão do Clube do Autor. Não é um livro escrito a pensar nos turistas, mas estes podem lê-lo depois de se apaixonarem pela cidade.

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Nuno Ferreira Santos
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Uma semana depois de ter chegado a Portugal, Barry Hatton conheceu aquela que seria a sua mulher. Trinta anos passaram e o jornalista britânico continua a escrever, a um ritmo por vezes diário, sobre o país para a agência Associated Press. Mas não só, já escreveu três livros, um com a sogra, Luísa Beltrão, sobre a única primeira-ministra portuguesa, outro sobre Os Portugueses e agora aventurou-se a contar a História de Portugal centrada na cidade de Lisboa. Rainha do Mar foi publicado há um ano no Reino Unido e nos EUA e chegou a Portugal pela mão do Clube do Autor.

Não é um livro escrito a pensar nos turistas, mas estes podem lê-lo depois de se apaixonarem pela cidade, diz. Também não é um livro histórico porque, embora concentre a pesquisa feita durante seis a oito meses, é escrito por um jornalista, por isso está cheio de ritmo para manter presa a atenção do leitor, refere Hatton à Fugas. “É um livro bom para ler na praia”, define.

E, ao longo de 300 páginas, o leitor viaja no tempo até à Lisboa dos fenícios, dos romanos, da Inquisição, do grande terramoto de 1755 – do qual todos os grandes filósofos europeus falaram –, pela riqueza de um país, de um império fundado nas descobertas marítimas, do renascer das cinzas, do poder plasmado nas embaixadas que seguiam para a Santa Sé com elefantes; mas também convida o leitor a navegar por aspectos menos positivos, menos “cor-de-rosa” do país. Factos que os portugueses gostam pouco de saber ou desconhecem de todo, como a perseguição aos judeus, a mortandade provocada pela Inquisição, o tráfico dos escravos, os negros que fazem parte da cidade desde o século XVI. Há assuntos que parecem ser tabu entre os portugueses e sobre os quais um jornalista estrangeiro pode escrever, acredita Hatton.

“Eu posso focar, por ser estrangeiro”, reforça, acrescentando que o Livro Negro da Expansão Portuguesa, de Ana Barradas, devia ser obrigatório nas escolas nacionais. Os portugueses “têm dificuldade em lidar com os lados mais negros do seu passado, mas é preciso falar e não esconder”, acredita, dando dois exemplos de figuras intencionalmente esquecidas, o Marquês de Pombal e Salazar. Nun'Álvares Pereira, Duarte Pacheco, além de “toda uma sucessão de reis que Portugal teve a felicidade de ter”, foram as figuras que mais o impressionaram.

E depois existem as pessoas anónimas, aquelas com quem se cruzou durante a pesquisa e investigação para o livro, que também têm lugar nas suas páginas – o futuro livro poderá ser sobre elas, avança. Durante os meses de pesquisa, Barry Hatton e a mulher aproveitaram os fins-de-semana para passearem pela cidade e descobrir que, afinal, não a conheciam assim tão bem. “Portugal precisa de manter as coisas que são genuínas e autênticas.”

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