Coreia do Norte está a reconstruir local de testes que tinha prometido destruir

Iniciativa do regime surge como resposta ao falhanço das negociações entre Kim e Trump em Hanói, mas pode dar lugar a mais sanções.

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Reuters/KIM KYUNG-HOON

A Coreia do Norte iniciou a reconstrução das instalações num dos locais de teste de tecnologia balística que tinha prometido desmantelar, de acordo com imagens de satélite divulgadas esta terça-feira. A decisão do regime é vista como uma forma de aumentar a pressão sobre os Estados Unidos, depois do falhanço da cimeira de Hanói na semana passada.

As imagens captadas por satélites no dia 2 de Março mostram o trabalho de reconstrução de algumas estruturas na base de Sohae, utilizada pelo regime para testar o lançamento de satélites espaciais. Parte da tecnologia usada para estes testes é a mesma presente nos lançamentos de mísseis intercontinentais e, por isso, a sua utilização também é proibida pelas Nações Unidas.

As imagens foram divulgadas por dois think-tank que monitorizam a actividade nuclear da Coreia do Norte, depois de os serviços secretos sul-coreanos terem referido que o regime estava a reactivar locais de lançamento de mísseis.

O regime de Pyongyang tinha começado a desmantelar as instalações em Sohae em Agosto, com o objectivo de fazer progredir o processo diplomático com os EUA, e “a actividade actual é deliberada e intencional”, conclui o Beyond Parallel, um dos grupos que publicou as imagens.

As fotografias mostram os trabalhos de reconstrução de uma estrutura usada para transportar os aparelhos de lançamento através de carris e também de uma plataforma a partir de onde se realizam os testes. “Duas gruas de apoio são vistas no edifício, as paredes foram erguidas e um novo telhado foi acrescentado”, escreve o 38 North, outro grupo que analisou as imagens de satélite.

Apesar de ter prometido destruir as instalações no local, o regime de Kim Jong-un nunca utilizou Sohae para fazer testes balísticos, o que pode sugerir que a sua reconstrução tem o objectivo de pressionar diplomaticamente os Estados Unidos e não a retoma dos testes de mísseis nucleares. “Os norte-coreanos provavelmente vêem a reconstrução não como uma parte activa do seu programa de mísseis, mas sim do seu programa espacial civil”, disse à BBC a analista do 38 North, Jenny Town.

A cimeira entre Kim e o Presidente norte-americano, Donald Trump, em Hanói, na semana passada, terminou de forma abrupta depois de os dois líderes terem falhado em chegar a um acordo sobre o processo de desnuclearização. Pyongyang exigiu a retirada gradual das sanções económicas impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, mas os EUA queriam mais progressos da parte do regime.

“Esta actividade renovada pode ser a forma de Pyongyang espicaçar Washington, apenas uma pequena lembrança à Administração Trump de que possui a tecnologia para construir armas e não irá abrir mão dela facilmente”, nota a correspondente da BBC em Seul, Laura Bicker.

Os próximos dias dirão se a aproximação diplomática ensaiada por Kim e Trump – e que garantiu uma acalmia na Península Coreana com poucos precedentes nas últimas décadas – chegou ao fim com o falhanço de Hanói. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que Washington está a ponderar aplicar novas sanções contra o regime, caso não existam progressos no dossiê da desnuclearização.

“Se não estiverem dispostos a isso, (...) eles não terão um alívio das sanções económicas esmagadoras que lhes foram aplicadas e, na verdade, iremos avaliar aumentar essas sanções”, afirmou Bolton, durante uma entrevista à Fox News na terça-feira.

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