Um clássico de peso sob o signo da renovação

Conceição e Lage dispostos a jogar cartada decisiva na discussão do título, no terceiro ano seguido em que FC Porto e Benfica se defrontam separados por um ponto, agora com vantagem "azul-e-branca".

Foto
LUSA/JOSÉ COELHO

Na hora das grandes decisões, como definiu Pinto da Costa o momento actual do clube no editorial na revista Dragões, o presidente do FC Porto antecipou o pontapé de saída do clássico desta noite (20h30) com a renovação-surpresa do contrato de Sérgio Conceição até 2021. A cerca de 24 horas do embate com o Benfica, que deverá ter um papel marcante nas contas do título, o FC Porto jogou o primeiro trunfo, embora o dirigente tenha vincado que o anúncio do acordo para prolongar o vínculo com o técnico por mais um ano não passa de pura coincidência.

A verdade é que a comunicação, feita com pompa e circunstância no exacto local onde o treinador foi apresentado há 21 meses, assume um peso que não pode ser desprezado no que diz respeito à mobilização dos campeões para um jogo vital na renovação do título, enviando uma mensagem clara ao principal rival. Um trunfo que se justifica pelo momento que o Benfica vive desde a chegada de Bruno Lage. É que, depois de fintada a concorrência directa — com Sp. Braga e Sporting reduzidos já ao papel de meros espectadores — é novamente com um apertadíssimo ponto a separá-los que FC Porto e Benfica se apresentam no clássico de todas as resoluções no que respeita ao título de campeão nacional.

Esta diferença tangencial foi, aliás, uma constante incontornável nos últimos dois anos. Apesar do desfecho distinto de uma história, ainda assim, coerente em termos de moral: o empate só serve a quem segue na frente, embora neste ano o sprint se apresente um pouco mais longo, autorizando uma margem de 30 pontos para rectificar as contas pós-jogo do Dragão. 

Antes da novidade do dia, apesar de também ter visto o seu contrato ser renovado há pouco mais de uma semana — entre as goleadas impostas a Desp. Aves e Desp. Chaves —, Bruno Lage relativizou (e justificou com Istambul) a juventude de uma equipa capaz de transportar Luís Filipe Vieira para os anos 60. Ao mesmo tempo que sublinhou a maior experiência de Sérgio Conceição nestas lides, já como treinador consagrado. Especialmente depois de, na edição anterior, o FC Porto ter imposto na Luz uma derrota ao então tetracampeão para assumir a liderança a quatro jornadas do fim

Curiosamente, um ano antes, Nuno Espírito Santo apresentara-se no mesmo palco em condições semelhantes (menos um ponto, mas com sete jogos para disputar). Então, o FC Porto pareceu contentar-se com a igualdade, o que no fim se revelou fatal. Uma lição importante para Lage e Conceição, que, mal termine o jogo da Invicta, podem começar a comparar os respectivos calendários, com o Benfica a ter mais quatro deslocações na Liga, contra cinco dos portistas.

Mas esse é um caminho que o clássico definirá com maior precisão. Algures entre o pragmatismo e a ironia do discurso que o próprio Sérgio Conceição lamenta poder tornar-se repetitivo, o treinador do FC Porto assimila a opinião de Pinto da Costa relativamente ao carácter decisivo do momento, tanto na Champions como no campeonato ou na Taça de Portugal, deixando apenas uma ressalva em relação à Liga, ao aliviar um pouco o peso do clássico, que não deixou de considerar de extrema importância.

Na tentativa de evitar alaridos desnecessários, Bruno Lage dispensou palavras elogiosas ao adversário, mostrando-se preparado tanto para a profundidade de Marega como para a versatilidade de Herrera. Uma vitória no Dragão revelar-se-ia um passo crucial no caminho que o técnico tem vindo a construir nos últimos dois meses, com a sobriedade que cultiva em flagrante contraste com a carreira fulgurante do Benfica: oito vitórias em oito possíveis, na Liga, e apenas uma derrota, na Taça da Liga, frente ao... FC Porto de Sérgio Conceição, que desde então desbaratou vantagem de seis pontos e reanimou o clássico.

Sugerir correcção
Comentar