Rajoy acusa Puigdemont de lhe ter dado como alternativa “referendo ou referendo”

Ex-chefe do Governo espanhol comparece a tribunal para defender actuação do executivo no processo do referendo e da declaração de independência da Catalunha. “O meu limite no diálogo é a soberania, a Constituição e a lei”.

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Mariano Rajoy foi ouvido no Supremo em Madrid como testemunha Reuters

O antigo primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy foi ouvido como testemunha numa sessão que se tornou tensa com as perguntas dos advogados de defesa no processo sobre o referendo e declaração de independência da Catalunha, que decorre no Supremo Tribunal, em Madrid.

A presença de Rajoy, comenta o diário espanhol El País, "aumentou a voltagem política" no processo.

Os réus são 12 independentistas (os membros do Governo que não saíram do país, a líder do parlament, e dois responsáveis de associações culturais), acusados por “rebelião”, “sedição” e “desvio de fundos”.

Mas na troca com os advogados de defesa foi Rajoy quem explicou as decisões do seu Governo, desde o envio de forças policiais (que depois carregaram sobre pessoas que tentavam votar no referendo, classificado como ilegal) para a Catalunha, até à decisão de aplicar o artigo 155 da Constituição, que pôs a Catalunha sob intervenção do Governo central, após a declaração unilateral de independência, até novas eleições.

“Espanha é o que querem os espanhóis e não uma parte dos espanhóis”, disse Rajoy, repetindo-se: “Quem decide o que é Espanha é o povo espanhol e não os representantes de uma comunidade autónoma”, dissera pouco antes.

Mesmo no final da sessão, um dos advogados conseguiu autorização para mostrar a Rajoy imagens das cargas policiais no dia do referendo de 1 de Outubro de 2017. Rajoy lamentou, mas pôs a responsabilidade nos “dirigentes políticos”.

“Se não se tivesse convocado as pessoas para um referendo ilegal e não se tivessem tomado decisões violando a lei, não teríamos de ter visto as lesões que tiveram algumas pessoas e alguns membros das forças de segurança”, declarou.

Já aos pedidos de opinião que os advogados tentaram arrancar ao então chefe do Governo espanhol sobre a mobilização popular na Catalunha, com grandes manifestações a pedir um referendo, foram barrados pelo juiz. Este repetiu que em causa estavam as matérias de facto e não políticas.

Rajoy respondeu às acusações de alguns dos réus de falta de parceiro para diálogo em Madrid. Oriol Junqueras, antigo vice-presidente da Generalitat da Catalunha, afirmou no seu depoimento há duas semanas que o Governo espanhol deixou “a cadeira vazia” face às propostas de diálogo do independentismo catalão. 

Esta versão foi rejeitada por Rajoy: disse que falou várias vezes com os líderes catalães, mas que a escolha que o então líder catalão Carles Puigdemont lhe deu foi “referendo ou referendo”.

Questionado sobre que contraproposta lhes fez, respondeu (o jornal El País nota que o fez de modo irónico): “A proposta mais importante que fiz foi que deixassem de ignorar a Constituição”. Isto porque “o meu limite no diálogo é a soberania, a Constituição e a lei”.

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