ADSE pode invocar interesse público para evitar saída de privados

João Proença, presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, diz ao Negócios que esta é uma possibilidade na resposta aos grupos privados de saúde que ameaçam suspender as convenções.

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João Proença foi eleito presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE em 2017 Miguel Manso

A ADSE poderá invocar o interesse público para evitar que a José de Mello Saúde e a Luz Saúde suspendam as convenções a partir de meados de Abril. A hipótese está a ser avaliada no âmbito da resposta que o instituto que gere o sistema de assistência na doença da função pública irá dar aos grupos privados, anunciou João Proença, presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) da ADSE, numa entrevista ao Negócios.

João Proença afirma que, embora as convenções assinadas entre os privados e a ADSE não prevejam a figura da suspensão, a lei dos contratos públicos permite essa suspensão. Mas para isso, os grupos privados de saúde terão de invocar o não cumprimento das convenções por parte da ADSE.

“É possível pedir [a suspensão], a lei dos contratos públicos permite, mas têm que invocar que a ADSE não cumpriu as regras”, afirmou em entrevista conjunta com a Antena 1, “Além de questionar isso, a ADSE pode ainda invocar o interesse público para evitar a suspensão. Portanto, vai actuar-se nos termos da lei, vamos responder às cartas [dos privados], veremos o que pode acontecer”, acrescentou.

Na perspectiva do presidente do CGS não houve qualquer incumprimento por parte da ADSE. “É evidente que não houve”, reforçou.

“Quando estão em causa dezenas, centenas de milhares de facturas, poderá haver um problema ou outro. Os privados, muitas vezes, apresentaram facturas fora do prazo que são aceites e outras coisas. Portanto há sempre alguma maleabilidade numa relação entre um grande prestador e a ADSE. Agora têm de justificar porque invocam o não-cumprimento da convenção pela ADSE”, desafiou.

Há algumas semanas, a José de Mello Saúde e a Luz Saúde anunciaram a suspensão das convenções a partir de meados de Abril, o que significa que a partir de 12 e 15 de Abril, os beneficiários da ADSE que queiram recorrer aos hospitais destes grupos terão de pagar do seu bolso os cuidados (os grupos anunciaram que teriam tabelas de preços para estes utentes) e depois pedir o reembolso à ADSE.

Os grupos Hospital Particular do Algarve e Lusíadas ameaçaram seguir o mesmo caminho, mas não avançaram ainda para a suspensão ou denúncia das convenções.

Mesmo que estes grupos optem por denunciar as convenções, Proença lembra que o prazo para o fazer é variável. Algumas convenções têm um prazo mínimo de 30 dias, sem qualquer data, e a denúncia pode ocorrer em qualquer altura do ano. As grandes convenções impõem um prazo de 30 dias antes da data da denúncia fixada na convenção que, no caso do Hospital da Luz, em Lisboa, é no próximo ano.

Na origem deste diferendo estão 38 milhões de euros que a ADSE reclama junto dos privados relativamente a actos médios, medicamentos e próteses facturadas acima da média em 2015 e em 2016.

Para João Proença, esse não é a verdadeira origem do problema, mas sim a negociação de tabelas com preços máximos (os chamados preços fechados) nas intervenções cirúrgicas, próteses e medicamento hospitalares. “Queremos os preços máximos e queremos ao mesmo tempo o regime de autorizações prévias”, defendeu.

O responsável voltou a reforçar que quando estas tabelas existirem “acabam as regularizações” e defendeu que se chegue rapidamente a um compromisso.

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