Sim, há coisas a correr bem em Portugal

Numa altura em que rareiam consensos na sociedade portuguesa, os resultados do abandono escolar são a prova de que o empenho colectivo produz resultados.

O défice público de 2018 ficou nos 0.7% do PIB, a taxa de desemprego manteve-se nos 6.7% e no ano passado a rendimento líquido dos trabalhadores por conta de outrem aumentou 3.7%. Boas notícias. Mas uma reflexão mais cuidada, despida de clivagens ideológicas ou de disputas partidárias tenderá a reconhecer que essas novidades não são porventura as mais importantes: o que melhor nos indica uma possível mudança estrutural é um novo recuo na taxa de abandono escolar dos jovens entre os 18 e os 24 anos.

Se na frente económica há muitas maneiras opostas de ler os resultados (o corte no investimento público, as cativações, a boa conjuntura internacional, etc.), o sucesso no combate a um dos mais graves problemas da educação não merece ser sujeito a querelas conjunturais. Haver menos jovens a abandonar as salas de aula antes do tempo é uma conquista colectiva e, como reconhecia o Ministério da Educação, de “todos os que trabalham diariamente nas escolas” em especial. Com menos abandono haverá mais igualdade de oportunidades, menos exclusão social e, no futuro, mais garantias de crescimento económico.

À margem das iniciativas políticas que os diferentes governos tiveram nos últimos anos para atacar o problema, há um factor que ajuda a explicar a redução continuada das taxas de abandono escolar: o reconhecimento pela sociedade dos valores da educação. Há alguns anos começou a instalar-se a perigosa ideia de que a Educação não era um factor de desenvolvimento, antes uma das suas consequências. Foi uma época em que muitos jovens e pais não conseguiam ver um nexo de causalidade entre os estudos e melhores empregos. Hoje, esse absurdo perdeu sentido. A primeira explicação para os dados revelados esta quarta-feira deve encontrar-se num reforço da valorização do papel da Educação por parte dos cidadãos.

Numa altura em que rareiam consensos na sociedade portuguesa, os resultados do abandono escolar são a prova de que o empenho colectivo produz resultados. Há uns anos, Portugal tinha um dos piores registos de abandono escolar da Europa e foi capaz de se aproximar da média europeia (11.8% contra 10.6% da UE – este dado é do ano passado).

Ainda estamos muito longe da Eslovénia (4.3%), mas deixámos já de fazer parte do pelotão da cauda. Não é caso para deitar foguetes, mas, neste país sempre propenso para o lamento e a lamúria, por vezes vale a pena recuperar um pouco de amor-próprio e dar conta das coisas que correm bem.

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