Número de alunos sobe há quatro anos nas universidades privadas

O número de inscritos aumentou 4,4% neste ano face ao anterior e 17% relativamente a 2015/16. Demografia obriga instituições a preparem-se para quebra de procura nos próximos anos.

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Paulo Pimenta

O número de estudantes inscritos em instituições de ensino superior privadas aumentou, no ano lectivo que está a decorrer, cerca de 4%. Este é o quarto ano consecutivo em que a procura das universidades particulares cresce. Os responsáveis do sector consideram, porém, que o fenómeno é “conjuntural” e está prestes a terminar. A quebra do número de alunos a completar o ensino secundário vai obrigar a procurar novos públicos.

O aumento de 4% no número de novos alunos em instituições de ensino superior particulares foi calculado pelo PÚBLICO com base em respostas dadas por 17 instituições de ensino superior do sector, entre as quais estão todas as principais universidades privadas (Católica, Lusíada, Lusófona, Europeia e Portucalense).

Em média, nestas 17 instituições, o número de alunos matriculados no 1.º ano dos cursos aumentou 4,4% no ano lectivo 2018/19. Assim sendo, este é o quarto ano consecutivo de crescimento no ensino superior privado. Nos sete anos anteriores as universidades particulares estiveram sempre a perder alunos.

Entre as instituições que enviaram os dados ao PÚBLICO, as maiores taxas de crescimento são verificadas na Universidade Portucalense, sediada no Porto, que recebeu mais 11% de estudantes no 1.º ano do que no ano lectivo anterior; e a Universidade Lusófona em Lisboa, que teve um crescimento de 8%.

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Aumentar

O aumento do número de estudantes na Lusófona “tem sido constante” ao longo dos últimos quatro anos, afirma o administrador Manuel José Damásio, que desvaloriza, porém, essa tendência: “É uma situação conjuntural”. E “vai acabar”, sublinha o mesmo responsável.

Este ano lectivo “foi o último” em que as instituições de ensino superior sentiram os efeitos de um crescimento no número de alunos que chegou ao 12.º ano – por via do aumento da escolaridade obrigatória. “Estamos a lidar com o último período em que o número de alunos em condições de terminar o 12.º ano está acima dos 65 mil por ano”, explica Manuel José Damásio.

A partir do próximo ano lectivo o sector prepara-se “para uma quebra abrupta”. De resto, nos dados recolhidos junto das instituições privadas nota-se já uma estagnação na procura em várias instituições. Na Universidade Europeia – que agora também inclui o Iade - Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing ​– e nos pólos do Porto e Vila Nova de Famalicão da Universidade Lusíada o número de novos alunos é igual ao verificado no ano lectivo anterior.

O mesmo aconteceu no Instituto Superior de Gestão, sediado em Lisboa, mas o caso é distinto, uma vez que nesta instituição foram ocupadas todas as vagas autorizadas pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, pelo que não havia já margem para crescer.

Nenhuma das 17 universidades privadas que responderam ao PÚBLICO teve quebras no número de colocados neste ano lectivo em comparação com o ano anterior.

Diversificar públicos

Como se responde a uma iminente quebra na procura? Para o administrador da Lusófona, o caminho passa por "encontrar novos públicos". As universidades privadas, tal como as públicas, têm aumentado a sua oferta em pós-graduações, cursos técnicos superiores profissionais e também na captação de estudantes estrangeiros.

Foi esta última a estratégia seguida, por exemplo, pela Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), que tem instituições de ensino superior em Vila Nova de Famalicão e Gandra, no concelho de Paredes.

“Trabalhamos numa área em que é possível antecipar com bastante antecedência o que vai acontecer com a procura e desde 2010 que começamos a trabalhar na diversificação dos públicos”, expõe o presidente do grupo CESPU, António Almeida Dias, sublinhando a particular aposta nos estudantes estrangeiros.

Dos mais de 800 novos alunos que a CESPU recebe neste ano, mais de metade (52,4%) são estrangeiros – 90% dos quais vindos de países da União Europeia. Entre os internacionais, o crescimento na procura em 2018/19 é de mais de 20%. Entre estudantes nacionais, o aumento de inscritos está em linha com a média das restantes instituições.

Tendo por base o crescimento de 4,4% calculado pelo PÚBLICO tendo por base as respostas das instituições de ensino superior privadas, bem como os últimos dados oficiais do número de inscritos – publicados em Outubro pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC)  –, é possível fazer uma estimativa sobre o número de alunos em universidades e politécnicos em 2018/19: serão cerca de 67 mil. 

A confirmarem-se estes dados – os indicadores oficiais só começam a ser compilados no final do ano civil – estes 67 mil estudantes representam o valor mais elevado no sector privado desde 2012/13. O número está, ainda assim, bem distante do que sucedia há dez anos. Em 2008/09, estavam inscritos nas universidades particulares mais de 90 mil alunos.

As universidades privadas têm vindo a recuperar alunos nos últimos anos. Desde 2015/16, o número de inscritos no ensino superior particular cresceu 17%. De acordo com o último Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino Superior — RAIDES 2017, divulgado pela DGEEC, dos 122.811 alunos que no ano lectivo 2017/18 chegaram pela primeira vez ao ensino superior, 18,2% inscreveram-se em universidades e politécnicos privados.

Esta recuperação no privado tem seguido a tendência e o ritmo do que se verifica no ensino público, onde também tinha aumentado a procura nos três anos lectivos anteriores. No entanto, neste ano lectivo, essa tendência foi quebrada: 43.992 estudantes que entraram nas universidades e politécnicos públicos, menos 922 do que no ano anterior.

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