Presidentes egípcios depostos enfrentam-se em tribunal

Hosni Mubarak e Mohammed Morsi voltaram a encontrar-se, desta vez na sala de audiências. O homem que esteve no poder durante 30 anos testemunhou contra o antigo líder da Irmandade Muçulmana.

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Mohammed Mursi ouviu declarações de Mubarak Reuters/© Amr Dalsh / Reuters

Dois protagonistas da história egípcia recente enfrentaram-se em tribunal na quarta-feira, com o Presidente deposto Hosni Mubarak a testemunhar pela primeira vez contra o antigo Presidente afecto à Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi.

Mubarak, 90 anos, testemunhou durante hora e meia num complexo prisional de alta segurança no sul do Cairo, onde Morsi está detido. Vestindo um fato escuro e andando com o auxílio de uma bengala, foi acompanhado para a sala de audiências pelos dois filhos. Morsi envergava o tradicional macacão prisional, sentado numa cela de metal e vidro, juntamente com outras figuras proeminentes da Irmandade Muçulmana que também são réus no caso. Cerca de 30 familiares, a maioria mulheres, levantaram-se para transmitir sinais de apoio aos arguidos no início e no final da sessão.

A audiência fez parte de um novo julgamento em que Morsi e outros são acusados de orquestrar fugas da prisão e de violar as fronteiras do Egipto durante a revolta que levou à deposição de Mubarak em Fevereiro de 2011.

Hosni Mubarak, visivelmente debilitado, foi alvo de dezenas de perguntas do juiz em relação ao desenvolvimento de medidas de segurança durante o avanço da revolta contra o seu regime de três décadas. Falando com uma voz frágil que se foi tornando gradualmente mais forte, pareceu por vezes impaciente, alegando que não possuía informações ou detalhes relevantes para as perguntas.

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Revolução egípcia originou deposição de Mubarak STRINGER/REUTERS

Quando questionado sobre a alegada entrada no Egipto de militantes estrangeiros, Mubarak afirmou que o responsável pelo Departamento de Inteligência lhe disse, a 29 de Janeiro de 2011, que centenas de pessoas atravessaram a fronteira em Gaza para apoiar a Irmandade Muçulmana. “Ele disse-me que havia grupos armados que infiltraram as fronteiras em força, cerca de 800 pessoas”, garantiu Mubarak em tribunal. O ex-presidente negou, porém, responder a perguntas sobre o papel dos grupos militantes, para não discutir segredos de Estado sem autorização. “Quero autorização para falar sobre isto. Vou pedir permissão para não cometer uma ofensa”, finalizou.

Mubarak foi ele próprio preso durante seis anos após a revolução de 2011, aparecendo acamado na cela da sala de audiências. Foi sentenciado a prisão perpétua por orquestrar o assassínio de manifestantes. O ex-Presidente foi libertado após as últimas acusações contra ele terem caído em Março de 2017.

Morsi, primeiro líder democraticamente eleito após a revolução, está na prisão desde que foi deposto por Abdel Fattah al-Sissi, então general das Forças Armadas e actual Presidente do Egipto. Depois do afastamento de Morsi, o Governo perseguiu a Irmandade, o movimento mais antigo e organizado do país, prendendo milhares dos seus membros e classificando o grupo como uma organização terrorista. A Irmandade garante, porém, que está exclusivamente dedicada a activismo pacífico.

Morsi está a cumprir várias penas que totalizam 45 anos, depois de ser condenado por espiar para o Qatar e por ter orquestrado a morte de manifestantes em 2012. O ex-Presidente tinha sido sentenciado à morte no caso das fugas de prisão e recebido penas de prisão perpétua nas acusações de espionagem, mas esses veredictos foram anulados.

Os familiares dos arguidos dizem ter pouca esperança de conseguir justiça. “O tribunal é uma farsa e o caso é também uma farsa”, afirmou um deles, que pediu para permanecer no anonimato. Enquanto Morsi e Mubarak se encontravam em tribunal, Sissi, reeleito para o seu segundo mandato em Março, presidia à cerimónia de inauguração de um grande complexo habitacional na cidade costeira de Alexandria.

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