Mubarak fica detido em Tora, o seu antigo templo de tortura

Foto
AFP

Hosni Mubarak, que durante quase três décadas governou o Egipto com mão de ferro, inicia esta segunda-feira aquela que será a última etapa da sua vida, no papel de detido. O ex-Presidente foi condenado no passado sábado a prisão perpétua e enfrenta agora o complexo prisional de Tora, que durante a sua ditadura serviu como templo de tortura para os seus opositores.

Logo após conhecer a sua sentença, Mubarak sofreu uma crise cardíaca e por isso não foi imediatamente levado para os calaboiços de Tora, localizada no Cairo, mas antes para a unidade hospitalar deste centro de detenção.

Terá sido a perspectiva de viver durante o resto da vida numa prisão que serviu para deter e torturar os seus opositores que causou a crise cardíaca ao ex-chefe de Estado, embora a televisão estatal não tenha fornecido detalhes sobre o episódio.

Até ao momento, Mubarak, de 84 anos, tem estado detido no Centro Médico Internacional do Cairo, por motivos de saúde. De acordo com alguns media locais e internacionais, Mubarak gozava aqui de excelentes condições de vida, incluindo acesso à piscina e visitas regulares da família.

A partir de agora, Mubarak vai partilhar tecto com delinquentes, traficantes de droga e assassinos. Mas com uma diferença: o ex-ditador ficará instalado definitivamente num edifício deste complexo prisional considerado como sendo uma unidade de “cinco estrelas” que alberga já uma série de antigos colaboradores do regime e até familiares de Mubarak.

Está aqui detido, por exemplo, o ex-primeiro-ministro Ahmed Nazif, o ex-chefe do gabinete presidencial Zakaria Azmi e o antitular da pasta do Interior Habib el Adli.

Os filhos do ditador, Alaa e Gamal, também se encontram aqui detidos. Ainda que este domingo tenham sido absolvidos de crimes de corrupção, aguardam agora novo julgamento por especulação bolsista.

O facto de estes homens estarem todos instalados na unidade mais luxuosa da prisão de Tora não deixa os egípcios indiferentes. “Os ladrões eram conhecidos de todos e estão escondidos ou então detidos em Tora”, na sua unidade mais “luxuosa”, indicava recentemente ao diário espanhol El Mundo Girgis el Minawi, um ex-membro do partido no poder, PND (Partido Nacional Democrático, entretanto dissolvido).

Há meses que as autoridades prisionais de Tora aguardam a chegada de Mubarak, que passará a ser o “hóspede” mais conhecido do estabelecimento. Pressionado pelo Parlamento, de maioria islamista, o Ministério do Interior levou a cabo obras de renovação do hospital de Tora.

O procurador-geral egípcio confirmou, porém, neste domingo, a vontade de recorrer das decisões judiciais no julgamento do ex-Presidente Hosni Mubarak. O líder deposto foi condenado a prisão perpétua no sábado, por cumplicidade na morte de 850 manifestantes, durante a revolta de 2011.

Tora: o calvário dos opositores

Ironicamente, Mubarak foi parar a uma das prisões mais conhecidas e de pior fama no país, onde a tortura aos dissidentes do regime era uma prática quotidiana. O El Mundo apelida o local de “templo de tortura”. O realizador Ayman Moktar estreia em breve o seu filme “Carta a Obama” em que narra precisamente o calvário do político liberal Ayman Nur, detido quatro anos em Tora depois de ter “ousado” desafiar Mubarak em 2005 apresentando-se às eleições presidenciais.

Depois de ter conquistado históricos 7% dos votos, o regime de Mubarak enviou-o para o inferno de Tora, escreve o “El Mundo”. O filme que estreia em breve relata o sadismo com que o político foi torturado, tendo-lhe inclusivamente sido negada a medicação diária para controlar a diabetes de que padece.

Apesar de hoje as torturas já não serem uma prática diária - tendo em conta que o regime de Mubarak se desintegrou em Fevereiro do ano passado - há porém registos de actos de sadismo já após o fim da ditadura.

Por outro lado, as “celas de castigo” - cubículos sem camas - são ainda uma realidade para alguns condenados instalados nas unidades mais esquecidas do complexo.

Sugerir correcção
Comentar