Macron pressionado a anunciar ao país "medidas de curto prazo"

Presidente francês reuniu-se com líderes políticos e sindicais, antes de uma comunicação aos franceses, marcada para esta noite. Trabalhadores e patrões insistem na redução da "pressão fiscal".

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A comunicação de Macron está marcada para as 19h locais (20h em Portugal continental) Reuters/POOL

Horas antes de falar ao país sobre os protestos do movimento dos Coletes Amarelos, o Presidente francês, Emmanuel Macron, reuniu-se na manhã desta segunda-feira com dezenas de líderes políticos e sindicais, numa tentativa de criar uma ponte para o diálogo com os manifestantes. À saída da reunião, os participantes disseram que não foram informados sobre as medidas que Macron vai anunciar esta noite, mas frisaram que o país precisa de "uma resposta de curto prazo" em matéria de poder de compra e aumento dos salários.

"Vamos ouvir a comunicação [do Presidente] com muito interesse, mas também com muita apreensão, tendo em vista a situação actual", disse Laurent Berger, presidente da CFDT, uma confederação sindical que representa 875 mil trabalhadores. Numa curta declaração à saída da reunião, Berger referiu-se aos protestos dos Coletes Amarelos como "uma crise democrática muito grave".

Entre as propostas mais discutidas estão o fim de taxas e impostos sobre as horas extraordinárias e medidas "relacionadas com a mobilidade", disse Geoffroy Rouz de Bézieux, líder do MEDEF, a maior organização patronal francesa. O mesmo responsável disse que transmitiu ao Presidente francês "a necessidade imperiosa de reduzir a pressão fiscal".

O líder da confederação das pequenas e médias empresas, François Asselin, disse que alertou Macron para uma factura que os comerciantes terão de pagar nas próximas semanas, devido "a uma significativa descida na actividade".

"Não queremos que as empresas sejam vítimas colaterais de uma inflação fiscal", disse Asselin, sugerindo também o fim de impostos e taxas sobre as horas extraordinárias.

Macron é acusado pelos manifestantes de ser arrogante e de não perceber as queixas da classe trabalhadora que vive fora das grandes cidades. As queixas de falta de diálogo estendem-se também aos sindicatos, que acusam o Presidente francês de tentar esvaziá-los do seu papel de intermediários. Uma questão abordada à saída reunião desta segunda-feira pela presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Exploradores Agrícolas.

"O que importa é que o Presidente e o Governo perceberam a necessidade de trabalharem com os intermediários, que foram descartados nos últimos meses", disse Christine Lambert, salientando o desejo destas organizações de "serem ouvidas para darem realismo e pragmatismo às decisões".

Ao todo, o Presidente Macron recebeu no Palácio do Eliseu 37 pessoas, entre ministros e representantes de outros partidos, de sindicatos e de associações locais.

Impacto desconhecido

É conhecida a insistência de muitos manifestantes em deixarem claro que não se sentem representados por nenhum grupo em particular – seja um partido político ou um sindicato.

Esta ausência de mediação torna ainda mais difícil perceber se as conversações desta segunda-feira e a comunicação de Macron desta noite vão ser suficientes para acalmar os protestos.

No sábado passado, 125 mil pessoas manifestaram-se um pouco por todo o país, repetindo pelo quarto fim-de-semana consecutivo um protesto que começou por se centrar nos aumentos dos impostos sobre o diesel, mas que depressa se transformou num grito nacional contra o aumento do custo de vida.

Entre as dezenas de exigências dos manifestantes – resumidas num documento publicado no início do mês – estão o aumento do salário mínimo, uma reforma do sistema fiscal que favoreça a classe média baixa e um referendo sobre a saída de Macron da presidência.

Apesar de o protesto em Paris, no sábado, ter sido menos violento na Avenida dos Campos Elísios e no Arco do Triunfo do que no dia 1 de Dezembro, a câmara da cidade diz que os prejuízos materiais foram muito mais elevados. Isto aconteceu porque a concentração da polícia nas principais artérias da cidade levou os manifestantes mais violentos a incendiarem 50 veículos e a partirem montras de várias lojas em sítios mais afastados do centro, segundo um dos vice-presidentes da câmara de Paris, Emmanuel Gregoire.

Os custos financeiros dos protestos para a economia do país está também a pressionar o Governo a propor soluções o mais rapidamente possível – até agora, o primeiro-ministro, Édouard Philippe, pouco mais anunciou do que o fim de um novo aumento dos impostos sobre os combustíveis, que estava agendado para 1 de Janeiro. Mas esta cedência não impediu que os manifestantes voltassem às ruas.

Desde o início dos protestos, em meados de Novembro, os centros comerciais do país tiveram menos 17% de clientes do que em anos anteriores, uma quebra muito significativa na época de Natal. E o Governo veio dizer que o crescimento do país neste último trimestre do ano poderá descer 0,1 pontos percentuais, segundo o ministro das Finanças Bruno Le Maire.

Com todas estas condicionantes, o Presidente Macron tem sido pressionado a apresentar ao país medidas concretas e de curto prazo para travar a onda de manifestações que no sábado levaram a um número recorde de detenções em Paris desde o início dos protestos: 1082 pessoas foram detidas, mais de 900 delas passaram a noite à guarda da polícia e 278 vão ser agora ouvidas em tribunal.

A reunião desta manhã com os representantes dos partido políticos e dos sindicatos teve, pelo menos, um resultado positivo para Emmanuel Macron, embora possa ser de curto prazo: o Partido Socialista fez saber que vai esperar pela comunicação do Presidente, a partir das 20h locais (19h em Portugal continental) antes de decidir se sempre vai apresentar uma moção de censura ao Governo.

Os socialistas anunciaram na passada quinta-feira que iriam apresentar uma moção de censura esta segunda-feira, com o apoio do Partido Comunista e do França Insubmissa.

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