Grupo de "coletes amarelos" recusa diálogo com o Governo francês

Um dos porta-vozes informais do movimento diz que foi ameaçado por outros manifestantes que não admitem ser representados por ele. Falta de liderança dificulta ainda mais a posição de Macron.

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Emmanuel Macron LUSA/ETIENNE LAURENT

A distância que separa o Governo francês das exigências dos "coletes amarelos" aumenta a cada dia que passa, à entrada para uma semana de reuniões e conversações para se evitar que Paris volte a ser palco de violência no próximo sábado.

Esta segunda-feira, os partidos da oposição foram dizer ao primeiro-ministro, Édouard Philippe, que é urgente satisfazer algumas exigências das pessoas que protestam nas ruas, mas no Palácio de Matignon a estratégia é outra: antes de qualquer passo em frente, é preciso garantir que a ordem pública será respeitada.

Só que essa tarefa está a ser dificultada pela falta de uma frente unida de interlocutores no lado dos "coletes amarelos", o que faz com que este movimento seja a mais séria ameaça a Emmanuel Macron nos seus 18 meses de presidência.

Em mais um sinal de que a actual crise está ainda longe de ter um princípio de resolução, um dos porta-vozes informais dos "coletes amarelos", Benjamin Cauchy, disse esta segunda-feira que não irá reunir-se terça-feira com o primeiro-ministro, depois de ter recebido "ameaças nas redes sociais" de outros "coletes amarelos".

Cauchy, que é uma das figuras do movimento que apelou ao reinício do diálogo com o Governo, no fim-de-semana, apontou três razões para ter mudado de ideias. Mas só uma delas — a recusa do Governo em congelar um novo aumento dos impostos sobre os combustíveis, agendado para Janeiro — seria considerada normal em negociações entre um Governo e um movimento de protesto unido sob uma liderança conhecida. Para além das ameaças que diz ter recebido de "coletes amarelos" que não querem ser representados por ele, Benjamin Cauchy fez eco de uma das principais palavras de ordem dos manifestantes: a descrença nas elites.

"Não somos marionetas de políticos que querem continuar a dar-nos lições. E é isso que nos diz a linguagem dos deputados do República em Marcha [partido de Macron] nas declarações que têm feito aos media", disse Cauchy.

À saída de uma maratona de reuniões com o primeiro-ministro, os representantes dos partidos da oposição deixaram claro que querem ver uma resposta por parte do Governo o mais rapidamente possível. Até a Europa Ecologia - Os Verdes, que sublinhou o seu apoio ao imposto sobre o carbono, disse que a política ambiental do Governo deve ser corrigida para que se torne "mais justa".

Os líderes do França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, e da União Nacional, Marine Le Pen, insistiram em pedir a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições, e nos Republicanos pede-se um referendo sobre as políticas de transição energética — afinal, foi o aumento dos impostos sobre os combustíveis, para incentivar o uso de energias renováveis, que fez transbordar o copo da classe média francesa que saiu para as ruas nas últimas semanas.

Depois de visitar as ruas de Paris marcadas pela violência do passado sábado, e de ter afirmado que não vai tolerar a sua repetição, o Presidente francês tomou esta segunda-feira o pequeno-almoço numa esquadra de polícia em Paris, para reforçar o apoio às forças de segurança. Na agenda estava um pequeno-almoço com chefs premiados, mas a mudança de planos, em cima da hora e sem aviso prévio, mostra que a crise já tomou conta do calendário oficial do Presidente — o jornal Le Figaro diz que a visita de Macron à Sérvia, marcada para quinta-feira, está em risco.

Até sábado, dia em que os "coletes amarelos" voltam a sair às ruas de Paris e um pouco por toda a França, o Governo "fará uma comunicação", antecipa o correspondente da BBC, Hugh Schofield.

Mas o dilema de Macron é evidente: se não ceder a exigências dos "coletes amarelos", a violência pode repetir-se e até agravar-se; se ceder, "fará lembrar a velha forma de se fazer política em França e destruirá a sua imagem de político que marca a diferença. E pode até travar outras reformas até ao final do seu mandato", diz Schofield.

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