Quantas estrelas Michelin cabem em Portugal?

Lisboa recebe esta quarta-feira a gala do mais famoso e influente guia gastronómico do mundo. Uma cimeira que junta os mais mediáticos chefs de Portugal e Espanha, aos quais se devem juntar novos estrelados. Falta é saber quantos.

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Pedro Almeida, do restaurante Midori, é um dos candidatos à primeira estrela Michelin Oxana Ianin

No dia em que os chefes de governo de Espanha e Portugal realizam mais uma cimeira de primeira importância (em Valladolid), a data pode, no entanto, ficar na história por motivos que nada têm a ver com política ou administração pública. Nesta quarta-feira, 21, é a gastronomia o assunto que está na ordem do dia, com a gala onde são anunciadas as famosas estrelas do Guia Michelin a ter lugar em Lisboa, no Pavilhão Carlos Lopes. Não só por se tratar do mais famoso e influente guia gastronómico, mas fundamentalmente porque este é um sector com crescente protagonismo e é a primeira vez que Portugal recebe o mediático evento. Quanto às estrelas, os vaticínios não escondem a onda de entusiasmo, mas o segredo é marca da Michelin e a surpresa também costuma fazer parte do negócio.

É claro que o país vive um momento de euforia e exaltação, com muitos novos e estimulantes restaurantes e o trabalho apurado de uma nova geração de cozinheiros, e são, por isso, justificados os vaticínios de novas estrelas. Fala-se também da duplicação para alguns dos já estrelados e até do nascimento de um hipotético três estrelas - isso sim, seria verdadeiramente histórico para Portugal.

É por de mais evidente o salto em frente em termos de qualidade e de criatividade, mas isso mesmo tem vindo também a ser reflectido no guia. No início da década eram apenas uma dúzia as estrelas atribuídas a Portugal - e apenas um restaurante com duas estrelas (Vila Joya) - e hoje são já 33, tendo passado para cinco os restaurantes com o duplo distintivo (Vila Joya, Ocean, Belcanto, The Yeatman e Il Gallo d’Oro).

As distinções saíram também do reduto algarvio onde se acumulavam, alargaram-se para Lisboa, Porto e Madeira (ver lista), e por isso é também agora esperado que se alarguem na geografia regional. O facto de a Michelin se ter empenhado e ter trazido a gala a Portugal poderia significar a vontade desse reconhecimento, mas essa é uma lógica que não encaixa na história de grande exigência do guia. E basta recuar apenas três anos, quando a gala se realizou em Santiago de Compostela e a Galiza inteira via nisso o sinal da merecida atribuição da segunda estrela ao restaurante Pepe Solla. Não foi assim – poderá ser agora e bem se justifica -, o que originou até uma espécie de revolta na região contra o guia.

Olhando agora para o nosso panorama, a suprema surpresa seria mesmo o surgimento de um restaurante classificado com as três estrelas, que a acontecer só poderia recair sobre o lisboeta Belcanto ou os algarvios Vila Joya e Ocean. Quanto às duas estrelas, é esperar e ver se os esquivos e exigentes inspectores do guia correspondem à espécie de clamor que se tem gerado, pedindo-as para a cozinha de João Rodrigues, no Feitoria (Lisboa), num contexto onde o Alma (Lisboa), de Henrique Sá Pessoa, também tem sido falado.

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A Cozinha, de António Loureiro, é uma das apostas Hugo Santos

A surpresa, como se sabe, faz parte do negócio da Michelin e os indícios são normalmente dados pelos convites. É certo que os cozinheiros já estrelados são sempre convidados – e os de Lisboa até vão estar nesta noite a cozinhar -, mas há os aspirantes à primeira estrela. E neste caso a grande surpresa não é a presença, mas antes a ausência de Vasco Coelho dos Santos, Euskalduna Studio (Porto), para quem todos apontavam a primeira estrela. Pelos vistos, os inspectores tiverem dificuldade em conseguir mesa no restaurante – as marcações têm levado meses, um bom sinal – e o primeiro contacto acabou por ser um tanto atribulado. Sem estar convidado, seria, portanto, surpresa se fosse nomeado. 

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O chef Oscar Gonçalves, do restaurante G, está entre o leque de convidados para a cerimónia e um dos fortes candidatos à primeira estrela DR

Com convite formal e atempado, vão marcar presença os chefs do Restaurante G (Bragança), Óscar Gonçalves, e do vimaranense A Cozinha, António Loureiro, cuja subida ao palco confirmaria o esperado alargamento da geografia das estrelas. Embora em fase mais tardia, também Pedro Almeida, do Midori, Penha Longa, Sintra, foi convidado a marcar presença.

Para baralhar todos os prognósticos, diga-se que há casos de restaurantes que receberam a estrela e não foram convidados para a cerimónia – Pedro Lemos, por exemplo – e convém também ter presentes as palavras da directora comercial da Michelin, Mayte Carreño, que no lançamento do evento em Lisboa, em Junho, anunciou a presença de um bom número de chefs portugueses, não necessariamente para receber as estrelas. “Além dos galardoados com estrelas Michelin, contaremos com a presença de cozinheiros Bib Gourmand e Prato Michelin, dando assim visibilidade a todas as categorias”, assim falou a responsável.

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