A queda do SPD ameaça a coligação do Governo de Merkel

Resultado desastroso na Baviera pode abrir discussão sobre saída do Partido Social Democrata no Governo.

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Andrea Nahles, líder do SPD, disse que "algo tem de mudar" no Governo alemão FABRIZIO BENSCH/Reuters

Enquanto na Baviera começavam as negociações para a formação de um governo conservador no estado federado após as eleições de domingo, em Berlim continuavam a sentir-se as ondas de choque dos resultados e as potenciais implicações para o Governo de Angela Merkel: e sob os holofotes estava o principal derrotado da votação, o Partido Social Democrata (SPD).

O SPD está há anos numa trajectória descendente, a par de outros partidos de centro-esquerda na Europa. Mas a votação na Baviera foi especialmente desanimadora: foi a primeira vez que o SPD desceu abaixo dos 10% numa eleição num estado federado. Além disso, ficou longe do papel de maior partido da oposição, ficando em quinto lugar, e perdeu cerca de metade dos votos em relação à última eleição, há cinco anos.

A reacção da liderança do partido foi rápida – Andrea Nahles reconheceu a derrota, apontou para problemas como a má performance da coligação no Governo em que o SPD participa, e garantiu que “alguma coisa tem de mudar”. Alguns jornais alemães especulam se dentro do SPD não haverá quem se esteja a posicionar para ocupar o lugar de Nahles, como Die Zeit, que nota a ausência do ministro das Finanças, Olaf Scholz, num momento difícil para o SPD.

O partido não deverá, no entanto, tomar qualquer decisão antes do dia 28 de Outubro, quando o estado de Hesse – onde está a capital financeira, Frankfurt – vai a eleições e onde um forte candidato social-democrata ameaça a coligação entre conservadores e Verdes; a CDU está a descer e o SPD a subir nas intenções de voto.

Depois desta votação, fica aberto de novo o terreno para o eterno debate dentro do SPD: a participação numa grande coligação prejudica o partido, mas uma ida a eleições traria uma descida terrível.  

Nos primeiros meses da mais recente versão da “grande coligação” (como são chamadas as coligações de centro-direita com o centro-esquerda na Alemanha), o SPD tem sido um espectador do mais visível confronto entre os partidos-gémeos da União, a União Democrata-Cristã (CDU) de Angela Merkel e a União Social-Cristã (CSU) do ministro do Interior, Horst Seehofer, sobre refugiados e migração.

As eleições na Baviera mostraram que esta discussão, trazida por Seehofer com objectivo provável de ganhar votos, fez ricochete e prejudicou o partido (a maioria dos eleitores consideraram que o foco da CSU na migração foi excessiva; na lista de preocupações a questão surgia apenas em 4º lugar).

Verdes em vez de SPD

A subida dos Verdes como força claramente pró-europeia e pró-refugiados na Baviera também prejudicou o SPD (embora os votos dos Verdes viessem também de anteriores eleitores de outros partidos, incluindo da CSU). A tendência parece espelhada a nível nacional, onde as sondagens mostram os Verdes a assumir o papel de grande partido da oposição, e a Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) a chegar aos calcanhares dos sociais-democratas – impressionante tendo em conta que o SPD foi o partido que no pós-guerra alternou com a CDU nas lideranças do Governo (com chanceleres marcantes como Willy Brandt ou Helmut Schmidt). O SPD é também o partido com mais filiados de toda a Alemanha, isto além do seu peso histórico como partido opositor aos nazis e o primeiro partido social-democrata europeu.

A queda do SPD acontece independentemente das suas acções no Governo e até da popularidade dos seus ministros: Olaf Scholz, nas Finanças, e Heiko Maas, nos Negócios Estrangeiros, são avaliados favoravelmente, mas a queda do partido nas sondagens continua.

Os alemães não gostam de grandes coligações, e a junção dos dois grandes partidos num só governo faz com que seja difícil distinguir alternativas políticas. Além disso, Merkel moveu a CDU para o centro, roubando espaço político ao SPD, e este sofreu com as mudanças na sociedade, como o fim das indústrias obsoletas, por exemplo das minas no Vale do Ruhr, onde os trabalhadores eram leais eleitores do SPD.

Assim, há quem defenda que só a passagem à oposição pode dar ao SPD a hipótese de se apresentar como alternativa. Mas a vez anteior que foi a votos depois de ter estado na oposição, em 2013, depois de um governo CDU-liberais (o segundo governo de Merkel, que foi marcado por bastantes desentendimentos entre os dois parceiros de coligação), o SPD não conseguiu reverter a queda.

Semanas decisivas

A instabilidade no Partido Social-Democrata é má notícia para Merkel. Os militantes do SPD aceitaram, com relutância, entrar na grande coligação após o falhanço de conversações para uma inédita “coligação Jamaica”, com democratas-cristãos, verdes e liberais.

Em vésperas das eleições na Baviera, o fraco resultado dos conservadores era apontado como uma possível fonte de problemas para a chanceler (embora pudesse trazer um bónus, se levasse ao afastamento do seu ministro do Interior, líder da CSU, que até agora disse apenas que iria ouvir as bases do partido sobre a sua liderança).

Mas cada vez mais parece que o problema poderá vir, afinal do SPD. Se nada mudar na coligação, é possível que a pressão interna para uma saída da coligação aumente, deixando Merkel com duas saídas – um governo minoritário, o que nunca antes foi tentado na Alemanha, ou eleições antecipadas. “A grande coligação enfrenta semanas decisivas”, diz a revista Der Spiegel.

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