No referendo, o SPD vai escolher “entre a peste e a cólera”

Acordo de coligação vai ser sujeito a referendo, por voto postal, entre os membros do partido. O especialista em sondagens Richard Hilmer, director do instituto Policy Matters, explicou ao PÚBLICO, por email, o estado de divisão dos sociais-democratas e o dilema que se segue.

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Como vê a actual divisão no SPD?
O motivo para a divisão no SPD não é tanto um generation-gap. A recusa de uma “grande coligação” com a União [CDU/CSU] é defendida sobretudo pela Juventude do SPD, mas a ala jovem é tradicionalmente muito crítica do partido. O facto de a campanha da Juventude do SPD estar a ter tanto eco no partido mostra que a divisão atravessa todas as suas estruturas.

O apelo à renovação do partido pode ser mais forte entre a ala jovem e esquerda do SPD, a disposição a entrar numa coligação pode ser maior entre os mais velhos e mais à direita — assim como entre os membros do SPD que ocupam actualmente cargos —, mas o verdadeiro motivo para o conflito é a perplexidade sobre os motivos para a queda, que já vem desde 2005, do SPD na preferência dos eleitores, e uma correspondente estratégia para contrariar esta queda.

Como explicar a dimensão desta queda do partido?
A força do SPD enquanto “partido do povo” sempre foi que o partido representou, por um lado, os interesses dos trabalhadores e empregados comuns e, por outro, os da burguesia liberal. Isto já não é suficiente. Tem perdido apoio sobretudo entre os trabalhadores e empregados comuns — para o que também não é indiferente que cada vez se encontrem menos representantes destes estratos nas fileiras do SPD. No entanto, o que é decisivo é que hoje há uma nova linha de fractura na sociedade (não só entre os alemães), que já não tem base socioeconómica mas sim cultural. O conflito é entre uma atitude libertária e autoritária. Este conflito é particularmente evidente na política em relação à migração. Os dois grandes partidos têm dificuldade em conciliar os interesses contraditórios dos seus apoiantes (entre humanidade e ter medo de ser estranho no seu próprio país). Os vencedores são os partidos nos extremos: os libertários Verdes e os autoritários AfD [Alternativa para a Alemanha].

Acha que a campanha da Juventude social-democrata contra a "grande coligação" vai ter efeitos?
A decisão entre a "grande coligação" ou oposição é para o SPD uma decisão entre a peste e a cólera. Se concordarem juntar-se ao Governo, os membros do SPD correm o risco de adiar as mudanças programáticas necessárias e continuar a ver a sua identidade esbater-se. Se recusarem, podem ainda perder mais na próxima eleição, e nem chegar a obter 20%.

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