Negrão garante que não vai deixar cair assunto Sócrates

Vários deputados deram apoio à intervenção do líder parlamentar social-democrata sobre o ex-primeiro-ministro do PS. Carlos César estranha a postura do "novo PSD":

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"Bem precisamos todos de nos apoiar uns aos outros", diz Negrão Miguel Manso

Deputados do PSD como José Pedro Aguiar-Branco, Paula Teixeira da Cruz, Luís Campos Ferreira e Miguel Morgado manifestaram apoio ao líder parlamentar Fernando Negrão a propósito da intervenção sobre o ex-primeiro-ministro José Sócrates, ontem, no debate quinzenal. O incentivo foi dado esta manhã, na reunião da bancada, segundo relatos feitos ao PÚBLICO.

Os deputados deram o seu apoio a esta estratégia de responsabilização política dos ex-ministros de José Sócrates e que também fazem parte do actual Governo. Na resposta aos deputados, Fernando Negrão agradeceu o apoio – "bem precisamos todos de nos apoiar uns aos outros" – assegurou que o assunto não é para deixar cair, embora tivesse reconhecido que não vai ser fácil levar isto por diante.

Um dos deputados, Luís Campos Ferreira, sugeriu até que se ponderasse uma comissão de inquérito sobre os casos de vários ex-governantes socialistas que – recordou – levaram o país à bancarrota. 

O ex-ministro da Justiça José Pedro Aguiar-Branco defendeu que o PSD tem de continuar e “não largar o osso até às eleições”. Essa foi a linha de argumentação de outros parlamentares, considerando que o PSD não pode esgotar o assunto no debate e que agora tem de ser consequente com a estratégia lançada.

Vários sociais-democratas alertaram ainda para o risco desta estratégia. Não só porque a poeira levantada pode recair sobre o PSD mas sobretudo por causa da aproximação que Rui Rio fez ao Governo de António Costa. Ou seja, o PSD tem de se entender sobre o que quer: se pretende fazer acordos com o PS não pode estar a acusar ministros deste Governo.

Na reunião, foi também referido por deputados que o PS estará sujeito a um teste: a recondução ou não da Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal. 

Apesar destes incentivos à estratégia prosseguida por Fernando Negrão, o PÚBLICO sabe que há deputados que discordaram desta opção por considerarem que o ângulo escolhido sobre a responsabilidade política não foi a melhor. O líder da bancada arrancou esta quarta-feira o debate quinzenal por confrontar o primeiro-ministro com perguntas sobre as declarações assumidas por dirigentes socialistas em torno de Sócrates. "Por que razão o PS demorou três anos a demarcar-se de José Sócrates?", questionou Fernando Negrão.

Carlos César fala em "exercício de retórica inútil e ofensivo"

Por outro lado, o líder parlamentar do PS diz estranhar a "crispação" e o "exercício de retórica" do líder da bancada social-democrata. "Achei que houve uma crispação introduzida pelo PSD no debate quinzenal que não contribuiu certamente para o esclarecimento daqueles que puderam acompanhar em directo esse debate", afirmou Carlos César, no final da reunião semanal da bancada socialista, segundo a Lusa.

O deputado recordou declarações recentes de Fernando Negrão, que disse encarar os debates quinzenais na Assembleia da República não como um combate mas como "sessões de trabalho". "Bem, aquilo, na quarta-feira, não foi trabalho nenhum, mas, pura e simplesmente, um exercício de retórica parcialmente ofensivo e no resto inútil. O que é importante é que todos estejamos do lado da procura da verdade em todas as dimensões e do lado do fortalecimento da democracia", reagiu Carlos César.

O presidente da bancada socialista advertiu que se vive "um tempo difícil, não apenas em Portugal, em que há muita desconfiança entre eleitores e políticos". "É preciso recuperar essa confiança com uma melhoria da conduta da parte de todos, como, também, com uma maior eficiência dos sistemas de investigação e de justiça. É preciso haver igualmente preparação de leis que deem maior confiança aos cidadãos. O PS orgulha-se de ter apresentado ao longo destes anos muitos instrumentos para o reforço da transparência na vida política e nas decisões do Estado", sustentou.

Neste contexto, o presidente do Grupo Parlamentar do PS repetiu a sua tese, segundo a qual "há milhares e milhares de políticos e de gestores espalhados pelas administrações central, regional e local, e há milhares e milhares de chefias envolvidas nos serviços públicos". "Mas só estamos a dar ênfase a uns quantos que mancham a actividade dessas pessoas espalhadas por todo o país — pessoas que há muitos anos dão o melhor em nome do interesse nacional".

Carlos César foi logo a seguir confrontado com suspeitas de fraude em subsídios europeus pelo ex-secretário de Estado da Indústria João Vasconcelos, que, no mês passado, também se demitiu de forma inesperada da presidência da Comissão Organizadora do Congresso (COC) do PS, embora alegando razões pessoais. As situações com a justiça, sublinhou, continuam a abranger "poucas pessoas, num contexto de milhares de cidadãos envolvidos na defesa do interesse público aos mais diversos níveis".

"O nosso desejo é o de que todos os que prevaricaram sejam descobertos e, a comprovar-se, sejam punidos com severidade. É isso que é importante que aconteça", acentuou. Carlos César fez depois questão de observar que, ao longo dos anos, "sempre houve corrupção — e provavelmente sempre haverá". "O nosso esforço deve ser o de barrar o caminho a essas pessoas em tudo aquilo que soubermos fazer e, por outro lado, fazendo que elas, se houve prevaricação, sejam devidamente punidas", acrescentou. Com Lusa

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