O Hoje de Diogo Rocha não se cozinha sem o Dão

O livro do chef português reúne receitas tradicionais com toque contemporâneo, mas também uma celebração das origens, dos produtos e das amizades que foi encontrando ao longo do percurso.

Foto
DR/Mario Ambrozio

O “sonho de fazer o primeiro livro tem barbas grandes”, confessa Diogo Rocha numa das páginas iniciais. Celebrados dez anos de carreira e prémios somados com o restaurante Mesa de Lemos, o chef português sente ter atingido “a maturidade necessária” para “transmitir a forma como interpreta a cozinha e a respeita”. O resultado é Hoje Diogo Rocha, uma edição de autor lançada no final de 2016 e que chega agora às livrarias pela mão da Casa das Letras. O livro é uma colectânea de receitas tradicionais com toque contemporâneo criadas pelo cozinheiro de 36 anos, mas também uma celebração das origens, dos produtos e das amizades que foi encontrando ao longo do percurso.

Amadeu Araújo, “contador de histórias e mágico de palavras”, contribuiu na escrita dos textos que formam a primeira parte do livro. Enquanto Mario Ambrozio, fotógrafo e amigo de Diogo Rocha desde os tempos em que partilhavam “os corredores da Escola Secundária de Canas de Senhorim ou os balneários da equipa de andebol”, assume a co-autoria do livro. São dele as imagens que fazem metade do Hoje e que valeram ao livro o prémio Portugal Cookbook Fair 2017, na categoria de fotografia. O chef Vítor Sobral, que acompanhou “sempre de perto” a evolução profissional de Diogo Rocha, assina o prefácio do livro.

Entre textos e fotos, começamos por acompanhar brevemente o percurso de Diogo Rocha até à liderança do Mesa de Lemos, em Silgueiros, considerado “Restaurante Revelação do Ano” em 2015 e 2016 pelo Boa Cama Boa Mesa. Para depois recuarmos às paisagens, às memórias e aos produtos que dão sentido ao trabalho actual do chef português, assumido “embaixador da nova cozinha portuguesa”.

Mergulhamos primeiro no horizonte de “grandezas” que é o Dão, “naco da Beira” onde Diogo Rocha nasceu e cresceu e onde diz encontrar “o melhor da despensa” portuguesa. Um “alpendre virado à Beira” onde se casa “a mesa, a cabeça e o estômago”, “que a vida não é mais que uma comunhão, de gente com a terra, apascentada a herança, enriquecida a gastronomia, degustada a cozinha, generosa a cultura que a terra também se come, também se prova, também se deseja”.

Percorremos, em seguida, o país numa prosa descontraída e rica em expressões regionais, em que ficamos a lambuzar-nos com as azeitonas nacionais e o queijo da serra da Estrela, com o arroz carolino, o bacalhau, o percebe, as maçãs bravas e de Esmolfe, a lebre, o cabrito e o cherne, o marmelo e todos os enchidos.

Só depois, já com uma selecção de produtos portugueses no alforge, é que regressamos à cozinha e às 60 receitas que Diogo Rocha leva ao prato, divididas em três capítulos: Despinhar, Desossar e Adoçar. Nelas voltamos a encontrar aquele património gastronómico, reconhecendo-lhe agora o valor e as origens.

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