A nossa vergonha

Querer que a Catalunha seja independente não pode ser, por definição, uma traição à Espanha.

O Estado espanhol passou todas as marcas na sua campanha punitiva do independentismo catalão, especialmente desde que o nacionalismo espanhol foi tão claramente derrotado nas eleições que Rajoy convocou na Catalunha depois de ter suspendido a autonomia na esperança, perfeitamente explícita, de "decapitar" o movimento independentista. Não é coincidência que, uma vez renovada a vitória independentista, as prisões se encham.

Não escrevi uma única palavra do parágrafo anterior. Foram escritas por Manuel Loff aqui no PÚBLICO sob o título O Curdistão espanhol. No dia seguinte, 1 de Abril, o PÚBLICO publicou o manifesto pela liberdade dos presos políticos catalães, escrito por Manuel Loff, André Freire e Fernando Rosas. O título da notícia era sensacional: BE, PS, PSD, CDU e PAN unidos num manifesto pela Catalunha.

Só ficou de fora o CDS - porquê? Não percebo como é que se discorda duma única palavra de um protesto tão claro, simples, democrático e humanista. Resume-se a isto: é patifaria prender pessoas só porque têm ideias políticas inconvenientes. Querer que a Catalunha seja independente não pode ser, por definição, uma traição à Espanha. Os independentistas só podem traír o país que consideram ser o deles: a Catalunha.

Loff termina a crónica dizendo "eu, por mim, sinto vergonha pela solidariedade dos governos europeus (a começar pelo português) com tamanha indignidade".

Não é só por ele: é uma vergonha europeia e uma vergonha portuguesa. É também uma hipocrisia flagrante.

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