Na plateia do primeiro discurso de Estado da União de Trump, esta terça-feira, valia a pena olhar com alguma atenção para quem estava a assistir. Ninguém se vestiu ao acaso. Por um lado, havia as congressistas que já tinham anunciado que iriam vestidas de preto, em sinal de apoio aos movimentos #MeToo e Time's Up. Por outro, os pins e laços para representar variadas causas. Depois, estavam os membros do Congresso vestidos de kente – um tecido colorido originário do Gana – e as cores da bandeira norte-americana em destaque na bancada conservadora.
Numa categoria à parte, Melania Trump escolheu um fato branco. Causou alguma confusão, dado que quando no ano passado Donald Trump falou às duas câmaras do congresso – num discurso que tecnicamente, não se chamava ainda Estado da União – várias mulheres democratas escolheram essa mesma cor, para mostrarem o seu apoio pelos direitos das mulheres (e indirectamente criticarem as acções do Presidente).
Nesta sessão do Congreso, aparentemente, todos tinham algo para dizer e escolheram a indumentária para o fazer. Olhemos, então, para as escolhas de roupa e acessórios:
Congressistas de preto
Seguindo o exemplo dos Globos de Ouro, várias congressistas democratas foram vestidas de preto. "Estamos a apoiar as mulheres corajosas que se estão a fazer ouvir. Estamos num momento de mudança na luta nacional contra assédio sexual e discriminação e temos de manter o ritmo da acção, para haver verdadeiras mudanças", justifica a líder dos democratas da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, citada pela Refinery 29. Para Carolyn Maloney, do estado de Nova Iorque, "o movimento #MeToo e Time's Up estão ligados a uma mensagem muito importante: unidade".
Pin encarnado
Alguns dos convidados exibiram um pin encarnado a representar Recy Taylor – uma mulher negra do estado de Alabama que foi raptada e violada por seis homens brancos em 1944 e que Oprah inclusive mencionou no seu célebre discurso dos Globos de Ouro. "Não podemos esquecer as muitas mulheres marginalizadas que decidiram falar e que por muito tempo foram ignoradas", escreveu no Twitter a congressista Bonnie Watson Coleman, acrescentando a importância de reconhecer "o falhanço do sistema judicial em aplicar justiça". Recy Taylor denunciou na altura o crime, mas os homens nunca foram a tribunal, apesar de toda a atenção mediática que o caso gerou.
Pin Time's Up
O pin Time's Up, que tem invadido as cerimónias de entregas de prémios, também entrou no Congresso. Nancy Pelosi e Steny Hoyer foram dois dos democratas que decidiram usar o pin criado pela organização apoiada por mulheres que querem pôr fim às injustiças e desigualdades no trabalho.
Laço Roxo
Vários senadores – inclusive Bernie Sanders, Elizabeth Warren e Joe Manchin – levaram na lapela laços roxos. Estes simbolizavam uma das maiores problemáticas da sociedade norte-americana actualmente, a crise dos opiáceos. O abuso destes medicamentos tem causado a morte de dezenas de milhares de americanos por ano e em Outubro de 2017, Trump declarou uma "emergência de saúde pública".
Tecido kente
Alguns dos congressistas negros do partido democrata apresentaram-se com o tecido originário de África kente, de acordo com a congressista Alma Adams, "em honra dos países que o POTUS [o Presidente dos Estados Unidos] proclamou de 'merdosos' na semana passada".
As cores da bandeira
Se azul é tipicamente associado ao partido democrata e o vermelho ao republicano, a junção dos dois com branco faz as cores nacionais. Já é comum que estas sobressaiam na bancada mais conservadora do Congresso, mas desta vez tratou-se de um esforço consciente de grupo. "Queremos mostrar patriotismo ao nosso país", conta a congressista republicana Mimi Walters à CNN.
Melania de branco
Foi uma escolha estranha para muitos e não passou despercebida a quase ninguém. Melania Trump destacava-se claramente na bancada onde estava sentado – ao lado de alguns dos seus convidados – com um fato branco da Dior (e uns saltos altos Christian Louboutin), de acordo com a Vogue. "Exactamente o tipo de conjunto que se tornou o símbolo da rival do seu marido, Hillary Clinton", escreve o New York Times, em referência àquele que a ex-senadora usou no discurso da convenção Democrata, em Julho de 2016. É também uma cor simbólica das sufragistas, que as congressistas democratas escolheram no ano passado em defesa dos direitos das mulheres – e "uma espécie de uniforme anti-Trump", menciona ainda o jornal americano.
Este evento foi a primeira vez que Melania apareceu no mesmo espaço que o marido desde que foram tornadas públicas as alegações de que um advogado de Trump terá pago à actriz porno Stormy Daniels para manter o silêncio sobre um encontro sexual com o multimilionário em 2006 – quando Melania e Trump já estavam casados.