Alemanha mais perto de ter novo Governo, UE mais longe de um ataque de nervos

Foi dado mais um passo para que o país venha a ter um Governo estável entre a CDU/CSU e o SPD. Militantes ainda terão de aprovar o resultado das negociações.

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Foi uma vitória sofrida para Martin Schulz, o líder do SPD, Martin Schulz, e a líder da bancada parlamentar, Andrea Nahles SASCHA STEINBACHIEPA

Ainda faltam dois degraus elevados e escorregadios, mas a chegada da Alemanha ao fim de um longo período sem conseguir formar Governo ficou este domingo mais perto. Num congresso especial, os sociais-democratas do SPD aprovaram o início de negociações formais com os democratas-cristãos da CDU de Angela Merkel, deixando grande parte da Europa a respirar um pouco mais de alívio.

Antes da votação, o líder dos sociais-democratas, Martin Schulz, lançou um apelo emotivo ao voto no "sim", acenando com a possibilidade de um descalabro europeu se o SPD não quiser contribuir para a estabilidade política na Alemanha através da entrada num Governo liderado pelos democratas-cristãos.

Para além disso, Schulz e os defensores de uma coligação com a CDU pensam que podem aproveitar este momento para forçar os democratas-cristãos a fazerem mais concessões internas – principalmente na questão da reunião dos requerentes de asilo com os seus familiares, dos seguros de saúde e dos contratos de trabalho, áreas em que o SPD exige políticas mais à esquerda.

"Não se deve governar a qualquer preço, mas também não se deve aceitar pagar qualquer preço pela recusa em governar", disse Schulz, numa referência ao dilema em que o SPD se encontra, depois de ter sido punido pelos eleitores em Setembro (teve o pior resultado desde o fim da II Guerra Mundial). Se entrar no Governo, pode perder ainda mais influência entre o eleitorado e permitir que a extrema-direita da AfD passe a ser o maior partido da oposição no Parlamento, mas evita sair como responsável pela instabilidade e ganha influência para a sua ideia de uma Europa mais unida e solidária; se não entrar no Governo, e se com isso provocar a repetição das eleições, pode ser ainda mais punido pelos eleitores e contribuir para a continuidade da incerteza na União Europeia, mas pode também ganhar tempo – como dizem os defensores do "não" – para se reorganizar na oposição como uma verdadeira alternativa à CDU de Angela Merkel.

Este domingo, a maioria dos delegados no congresso especial em Bona escolheu o primeiro caminho, com 362 votos a favor do "sim" ao início de negociações formais com a CDU, 279 contra e uma abstenção. Essas negociações formais vão começar nos próximos dias, e se forem bem-sucedidas ainda ficará a faltar outro passo para a luz verde a uma coligação CDU/CSU-SPD: os cerca de 450 mil militantes sociais-democratas terão de aprovar o resultado das negociações formais, o que deverá acontecer até finais de Março.

O processo ainda está longe do fim, porque para além de ser necessária a aprovação dos militantes do SPD, as próprias negociações formais também serão complicadas. No texto aprovado este domingo em congresso não se exige que a liderança dos sociais-democratas imponha novas condições à CDU em relação ao princípio de acordo que já existe, mas muitos militantes e organizações influentes têm essa expectativa; do outro lado, alguns sectores dos democratas-cristãos já disseram que só serão feitos ajustamentos ao que já foi acordado e que não serão discutidas novas condições.

Apesar de ter sido a formação mais votada nas eleições de 24 de Setembro, a CDU/CSU perdeu muitos votos em relação a 2013 e teve de ir bater a várias portas para tentar formar um Governo estável – o que na Alemanha significa um Governo de coligação entre dois ou mais partidos, e nunca um Governo minoritário com apoio parlamentar.

O SPD é o parceiro de coligação do actual Governo, liderado pela CDU/CSU desde 2013, mas após as eleições de Setembro (e da pesada derrota que sofreu) disse que não estava disposto a repetir a dose – o seu líder, Martin Schulz, argumentou então que o partido estava a perder peso no país precisamente por se manter na sombra da liderança de Angela Merkel.

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Delegados da Juventude do SPD com cartazes contra uma nova "grande coligação" (GroKo) SASCHA STEINBACH/EPA

Em Novembro, a CDU deu início ao 2.º round para a formação de um Governo maioritário: negociou com os liberais do FDP e com os Verdes, do centro-esquerda, mas a ideia dessa coligação desmoronou-se com a saída do FDP das negociações. A partir desse momento, ficou apenas um caminho livre para que a Alemanha pudesse manter a tradição de um Governo maioritário: que a liderança do SPD recuasse na sua decisão de não integrar o Governo com a CDU, o que veio a acontecer após uma iniciativa do Presidente Frank-Walter Steinmeier, também ele do SPD.

Angela Merkel e o seu principal aliado na Europa, o Presidente francês, Emmanuel Macron, esperam pelo resultado das negociações entre o SPD e a CDU para poderem começar a trabalhar em vários assuntos da agenda europeia que dependem da continuidade de Merkel no Governo alemão – e que devem ser resolvidos com urgência depois da saída do Reino Unido da União Europeia.

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