UE quer abrir portas e construir pontes com Cuba, garante Mogherini

Em visita a Havana, chefe da diplomacia europeia insistiu na cooperação e diálogo com o regime cubano, e criticou a hostilização e isolamento por parte dos EUA.

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Mogherini passeou pelo centro histórico de Havana com o historiador Eusebio Leal Spengler, à direita ALEJANDRO ERNESTO/EPA

Na sua primeira visita a Havana desde que entrou em vigor o Acordo de Diálogo Político e de Cooperação entre a União Europeia e Cuba, a alta representante para a política externa do bloco europeu, Federica Mogherini, fez questão de distinguir a abordagem diplomática de um e do outro lado do Atlântico. “Perante aqueles que querem construir muros e fechar portas, nós europeus queremos construir pontes e abrir portas através da cooperação e do diálogo”, sublinhou.

A chefe da diplomacia europeia referia-se à reviravolta política operada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deixou cair algumas das medidas assinadas pela anterior Administração Obama no sentido da reaproximação e normalização diplomática e comercial entre os dois países, para retomar a via da hostilização e isolamento do regime cubano.

“Rejeitamos as acções dos EUA contra os cidadãos, as empresas e os interesses cubanos”, afirmou Mogherini, contrapondo ao histórico embargo comercial norte-americano a postura europeia de abertura e também de oportunidade “para levar adiante uma relação que reflicta as ligações históricas, económicas e culturais” entre a Europa e Cuba.

Nesse sentido, a alta representante destacou a importância do acordo assinado entre Bruxelas e Havana depois de anos de intensas negociações, e que Mogherini disse pretender ver posto em prática “de forma rápida e ambiciosa”. O documento foi aprovado pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu, mas para já está em vigor de forma provisória, a aguardar a ratificação pelos parlamentos nacionais.

Federica Mogherini classificou o acordo como “um instrumento sólido para apoiar a modernização económica e social de Cuba”: no actual contexto de abertura ao investimento estrangeiro e liberalização da actividade de alguns sectores, a União Europeia quer assumir uma posição de investidor e parceiro comercial privilegiado. Ao mesmo tempo, a alta representante lembrou que o acordo pode ser suspenso em caso de incumprimento dos compromissos assumidos por Cuba em matérias de direitos humanos – “onde ainda persistem muitas diferenças nas visões dos europeus e cubanos”, assinalou.

Num relatório de informação assinado por Giuseppe Iuliano, o Comité Económico e Social Europeu enfatizou o papel que pode desempenhar a sociedade civil nesse processo de reformas em Cuba. Em declarações ao PÚBLICO, o relator revelou que Bruxelas e Havana estão a preparar um “programa de diplomacia paralela” para o aprofundamento da cooperação e intercâmbio em áreas que vão da economia, à educação e saúde ou voluntariado.

“Há áreas em que a União Europeia pode partilhar a sua experiência acumulada, por exemplo sobre a gestão de pequenas e médias empresas, o movimento cooperativo ou a economia solidária, para apoiar o processo de abertura do sector privado que está em curso em Cuba”, apontou Iuliano. Por outro lado, prosseguiu, existem na ilha “experiências de excelência nos aspectos ligados ao apoio a populações vulneráveis ou à assistência humanitária, que Cuba produz de forma exemplar”.

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