Governo ainda negoceia aumento maior das pensões com PCP

Com o pós-autárquicas a soar o alarme, Costa tenta o equilíbrio de contentamento entre PCP e Bloco. Dossiê das pensões ainda em aberto. Há duas reuniões do Governo na próxima semana

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A semana teria sido perfeita para António Costa. As autárquicas deram uma dupla vitória ao primeiro-ministro - uma vitória contra Passos Coelho e outra batendo o recorde de António José Seguro, de 2013. Teria teria sido exuberamentemente comemorada, não fosse o facto de parte dessa vitória ter sido conseguida à custa de nove câmaras ganhas ao PCP, ligando alguns sinais de preocupação no Largo do Rato. A verdade que é que as negociações do Orçamento não foram interrompidas pela campanha - mas o resultado de domingo acentou uma necessidade: garantir que o PCP saia contente do Orçamento.

A meio da semana, na quarta-feira, o PCP foi o primeiro a retomar conversas oficiais, ao mais alto nível. Com Mário Centeno à mesa, os comunistas foram os primeiros a saber da cedência no IRS, que vai mesmo ter sete escalões no próximo ano.

Mas este não foi o dossiê pelo que os comunistas mais puxaram - e no debate quinzenal isso ficou uma vez mais evidente: Jerónimo de Sousa pede sobretudo que as pensões tenham um novo aumento substancial, que fixou nos 10 euros. Nesse debate, o primeiro pós-autárquicas, António Costa deu uma novidade: a mera aplicação da lei garantirá um aumento real das pensões, tendo em conta os dados que o Governo já tem na mão sobre o crescimento do último trimestre. "Isso dará seguramente dez euros de aumento para pensões acima dos 588 euros", explica ao PÚBLICO uma fonte socialista. Abaixo disso ainda não. "Não está fechado, estamos a trabalhar nisso ainda", admite um membro do Executivo, explicando que a preocupação é mesmo deixar "confortáveis" com a solução final os partidos que apoiam o Governo socialista. De preferência os dois, em equilíbrio.

Durante a semana, o PCP subiu o tom em público: Jerónimo de Sousa e outros dirigentes comunistas começaram a semana apenas a lamentar os maus resultados nas eleições locais, mas terminaram-na culpando PS e Bloco por uma estratégia concertada de ataque aos municípios liderados pelo partido. Dentro das reuniões, porém, nada de substancial mudou: o PCP foi sempre um partido duro nas negociações à mesa, e assim se manteve nas que decorreram discretamente nestes dias.

António Costa deu o mote dentro do Governo. "Dentro da margem que conseguirmos ter", anota um membro do Governo, a ordem é mesmo para aproximar posições. Qualquer tentação de fazer um braço-de-ferro, mais presente nas Finanças, é travada com um argumento simples: um cenário de ruptura é sempre de elevado risco político. Exemplo dado: o que aconteceu no Porto, onde Rui Moreira rompeu a coligação e viu o PS subir face a todas as previsões. "Não chegou para tirar a maioria, mas esteve perto disso", anota este socialista.

A semana que agora começa ainda vai ter muitas conversas pelo meio. Esta sexta-feira houve novo encontro com o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, mas também com o ministro da Educação, por causa da integração de mais professores. Na próxima estão encontros marcados do PCP e BE com Vieira da Silva para discutir pensões e subsídio de desemprego. E ainda uma outra com Mário Centeno e o Bloco, para fechar dossiês. À partida, António Costa já não vai entrar nas conversas - pelo Governo será Pedro Nuno Santos a assegurar a coordenação de medidas. 

Pelo meio, o Governo vai reunir-se duas vezes em Conselho de Ministros - uma primeira mais no princípio da semana, a última na quinta-feira, já para afinar detalhes finais. O objectivo é que o documento seja entregue na sexta-feira no Parlamento, já com pouca margem para afinações na especialidade, onde o PS teria sempre menos margem para negociar. 

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