Macbeth chega em Junho ao S. João, mas há mais cinco estreias até às férias

Nuno Carinhas está já a encenar o seu primeiro Shakespeare, que terá João Reis como protagonista. Tania Bruguera, Alain Platel e Lola Arias serão as presenças internacionais do trimestre.

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Nicht Schlafen, a peça mahleriana de Alain Platel CHRIS VAN DER BURGHT

Em 2002 (e depois de novo em 2003) foi o Hamlet de Ricardo Pais, em 2017 vai ser o Macbeth de Nuno Carinhas: João Reis está de volta ao Teatro Nacional São João (TNSJ) para protagonizar o primeiro Shakespeare da vida do director artístico da casa, “meteórica tragédia da ambição” que tem sido, desde o início do processo de ensaios de mesa, “uma revelação quotidiana” e será a pièce de résistance de um trimestre com mais cinco estreias absolutas e um forte contingente internacional (a artista e activista cubana Tania Bruguera, o coreógrafo belga Alain Platel e a dramaturga e encenadora argentina Lola Arias, mas já lá iremos).

Precedida de um programa de ensaios abertos (o primeiro, em que o poeta e crítico Pedro Mexia olhará para as irradiações de Macbeth no cinema, é já a 5 de Abril; o segundo, com Ana Luísa Amaral a reler o texto de Shakespeare à luz das questões de género, tem lugar no dia 18), a nova produção do TNSJ, que estará em cena de 1 a 22 de Junho, permitirá o reencontro de Carinhas com um actor em tempos muito lá de casa, 20 anos depois (“números redondos; é melhor que sejam redondos”, insistiu Carinhas esta quarta-feira) da última colaboração dos dois.

Além de Macbeth, estreiam-se até ao Verão nos três pólos do TNSJ espectáculos da companhia de novo circo Erva Daninha, levada a explorar o imaginário rural em que se move a associação Binaural, sediada numa aldeia de São Pedro do Sul (E-nxada, de 19 a 23 de Abril), da coreógrafa Né Barros (Muros, de 27 a 29 de Abril, enfrenta o tema da fronteira, que o dispositivo cénico de João Mendes Ribeiro transporá para o palco, forçando a separação entre os corpos dos intérpretes), e do actor e encenador Manuel Wiborg (O Homem da Guitarra, de 6 a 16 de Julho).

Estrada Branca (26 e 27 de Maio), encontro imaginário entre as canções de José Afonso e de Vinicius de Moraes, também terá a sua primeira apresentação no Porto – o projecto dos músicos Mónica Salmaso e José Pedro Gil tem dramaturgia de Carlos Tê e direcção cénica de Ricardo Pais, que aliás também está de regresso à sua antiga casa, já de 6 a 9 de Abril, com uma oportuna reposição (para ajudar à festa do centenário do Ultimatum Futurista e da revista que se lhe seguiu…) da sua singularíssima visão do caleidoscópio Almada Negreiros, al mada nada.  

Ainda em Abril, o Mosteiro de São Bento da Vitória recebe, em estreia mundial, a inédita incursão de Tania Bruguera no teatro, a convite da bienal BoCA (que ali está a levar também por estes dias o Júlio César desconstruído de Romeo Castellucci): a “artivista” cubana imaginou uma gigantesca estrutura cilíndrica que porá os espectadores a verem Endgame, de Samuel Beckett (dias 20 e 21), de cima para baixo, num espectáculo coproduzido pelo Kunstenfestivaldesarts, de Bruxelas, e pelo Festival d’Automne, de Paris.

A seguir, outro festival, o DDD – Dias da Dança, estende-se até ao TNSJ com um gigante da dança europeia, Alain Platel, e a sua celebrada peça mahleriana, Nicht Schlafen (8 e 9 de Maio); também A Perna Esquerda de Tchaikovski, criação de Tiago Rodrigues para a Companhia Nacional de Bailado (5 e 6 de Maio), e a já citada nova peça de Né Barros chegam à Praça da Batalha via DDD (o festival dirigido por Tiago Guedes apresentará o seu programa completo já no próximo dia 6).

Mais robusta ainda, com cinco espectáculos, será a presença do FITEI, este ano a comemorar a sua 40.ª edição, subordinada ao tema Comunidade e memória. Agradecendo o “forte apoio” do TNSJ, o director Gonçalo Amorim chamou a atenção para Campo Minado, revisitação da Guerra das Malvinas a partir das memórias de veteranos dos dois lados da barricada que Lola Arias estreou há um ano no Royal Court, em Londres, e traz ao Teatro Carlos Alberto a 8 e 9 de Junho (depois de uma escala na Culturgest), mas também para Inferno, que O Bando de João Brites está a erguer a partir da Divina Comédia de Dante (15 a 18 de Junho).

O cartaz do TNSJ até ao fim da temporada inclui ainda Boca Muralha, remate de uma trilogia de peças de dança da performer Catarina Martins (6 a 8 de Abril), aqui com o colectivo Soopa; o novo capítulo da saga O Nosso Desperto Preferido, de Gonçalo Waddington (Futuro Distante, de 18 a 28 de Maio); e a remontagem iconoclástica (para usarmos um eufemismo) a que o Teatro Praga submeteu O Despertar da Primavera de Frank Wedekind (13 a 23 de Julho).

Num ano em que o TNSJ tem mais 860 mil euros para gastar, também “o investimento na promoção da acessibilidade dos públicos com dificuldades especiais” será reforçado, garantiu a presidente do Conselho da Administração, Francisca Carneiro Fernandes, que começou a conferência de imprensa (com tradução simultânea em linguagem gestual) a festejar dois feitos de 2016: o crescimento de 22% nas receitas de bilheteira e a subida da taxa média de ocupação para 82%.

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