Alegre alerta a esquerda: é preciso mais debate para evitar outra crise

Histórico socialista defende que PS e os partidos que apoiam o Governo não devem falar só da devolução de rendimentos e que devem passar à reflexão conjunta sobre os pilares do Estado Social: Educação, Segurança Social e Saúde

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Alegre quer mais reflexão conjunta à esquerda NFACTOS / FERNANDO VELUDO

A devolução de rendimentos que tem sido feita pelo Governo PS com o apoio do BE, PCP e PEV é “importante”, mas estes partidos devem fazer “um debate mais aprofundado para que não se repitam casos como o da Taxa Social Única”. O recado é de Manuel Alegre, precursor da ideia de um Governo de convergência de esquerda como o actual, que não quer ver o executivo “viver caso a caso”.

“Preocupam-me os pilares do Estado Social — a Educação, a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde. É o terreno prioritário dos partidos de esquerda e é necessário que eles aprofundem a sua convergência sobre estes direitos sociais", fazendo reflexões conjuntas sobre estes temas", afirmou Alegre ao PÚBLICO, a propósito da intervenção que vai fazer na terça-feira, no Porto.

Mais de 10 anos depois da criação do Movimento de Intervenção e Cidadania (MIC), que apoiou a candidatura do histórico socialista à Presidência da República, Manuel Alegre volta à ribalta da associação cívica e política com o mesmo nome, entretanto legalizada no Porto, para indicar à esquerda caminhos para melhor se entenderem. Será no simbólico 31 de Janeiro — dia em que, em 1891, se ensaiou naquela cidade a proclamação da República —, numa sessão pública organizada pelo MIC/Porto, sob o tema Portugal na Europa, Soberania Nacional, que terá lugar no restaurante Torreão, naquela cidade.

Ao PÚBLICO, Alegre antecipou os três temas sobre os quais vai reflectir na sua intervenção enquanto presidente honorário do MIC/Porto: situação política nacional, mudanças no mundo e o estado do Liceu Alexandre Herculano, encerrado na quarta-feira devido ao estado de degradação em que se encontra.

“Apoiei e apoio a actual solução governativa, que torna Portugal uma excepção na Europa”, afirma o antigo deputado socialista, salientando a boa cooperação do Presidente da República com o Governo, que tem permitido estabilidade, assim como o controlo do défice, que vai permitindo manter a soberania nacional. “Mas nada nunca está garantido, é preciso aprofundar reflexões e convergências”, acrescenta.

Alegre quer agora que a chamada ‘geringonça’ tenha “mais consistência” e recorda ter sido precursor desta solução governativa — primeiro com a criação do MIC, logo após as presidenciais de 2006 e, depois, em 2008, com o Fórum das Esquerdas, que juntou Francisco Louçã e Carvalho da Silva e várias personalidades socialistas, bloquistas, da Renovação Comunista e muitos independentes, num caminho que, mais tarde, em 2011, lhe permitiu ter o apoio do PS, do BE e do PCTP para as eleições presidenciais.

"Os partidos de esquerda têm de aprofundar a sua convergência, tanto em temas fundamentais para o país, como são os direitos sociais, como para o mundo, num momento em que a situação internacional é muito complexa, marcada pela incerteza e imprevisibilidade, sobretudo depois da eleição de Donald Trump”, defende.

Haverá também tempo para falar do estado de degradação em que se encontra a Escola Secundária Alexandre Herculano, no Porto. Alegre, que frequentou o antigo liceu, está indignado: “Nada justifica que um liceu emblemático como este esteja naquele estado. Já se podiam ter tomado medidas, pelo menos já se podia ter evitado que chovesse lá dentro”.

MIC ainda vive no Porto

Após as presidenciais de 2006, nas quais Alegre foi candidato independente contra Cavaco Silva e Mário Soares, foi criado o Movimento Intervenção e Cidadania (MIC). O objectivo: contribuir, através da intervenção cívica, para o aprofundamento da democracia participativa, visando a renovação da vida democrática e a efectivação das metas morais e sociais da Constituição.

Mais tarde, o núcleo do Porto tomou forma de associação cívica e política não partidária, focada sobretudo nas questões locais, como explicou ao PÚBLICO o dirigente José Manuel Silva. Hoje tem mais de 1500 associados de diferentes quadrantes políticos e um vereador eleito nas listas do PS — o arquitecto Manuel Correia Fernandes. Este será um dos oradores da sessão de terça-feira, bem como José Castro, deputado municipal do BE, o economista Jorge Bateira e o dirigente do PS Manuel Pizarro. 

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