De Trump a Putin, os vencedores e vencidos

Quem ganhou em quem perdeu com a eleição de Trump? De Vladimir Putin à família Bush.

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Reuters

VENCEDORES

Donald Trump

Donald Trump vai ser o próximo Presidente dos Estados Unidos da América porque foi capaz de ler, interpretar e explorar, melhor do que os seus adversários republicanos e a sua rival democrática, as motivações e aspirações da maioria de norte-americanos que é necessária para vencer as eleições – no caso da sua campanha, da “maioria silenciosa” de eleitores brancos, com menos qualificações, que moram em zonas rurais ou nos subúrbios. Foi para eles que o magnata do imobiliário talhou a sua mensagem, que batia as teclas do populismo e da política identitária (com o que têm de demagogia e de xenofobia ou racismo). Resultou em cheio.

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Mike Pence

Ao acalmar as dúvidas do establishment sobre Donald Trump, e garantir ao ticket republicano as credenciais conservadoras que o candidato presidencial por si só não assegurava, o governador do estado do Indiana e próximo vice-presidente poderá ter tido uma contribuição decisiva para a vitória. Agora, ficou em posição privilegiada para dentro de quatro ou oito anos se afirmar como o candidato natural à liderança do partido – se os republicanos voltarem a seguir o modelo tradicional, o nome de Pence estará à frente de todos os outros quando for altura de encontrar um sucessor para Donald Trump.

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Chris Christie

O controverso governador da Nova Jérsia, que viu a sua própria carreira política no seu estado desfazer-se durante a campanha presidencial, foi o primeiro a perceber o apelo eleitoral de Donald Trump quando o resto do Partido Republicano ainda o tratava como um pária. A jogada política de Christie, o primeiro dos rivais que insultava Trump nas primárias mas que se passou para o campo do magnata, foi recompensada pelo candidato que o escolheu para liderar a sua equipa de transição e provavelmente lhe entregará uma pasta na nova Administração.

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Reince Priebus

O presidente do Comité Nacional Republicano esteve debaixo de intensa pressão e crítica dos seus pares por causa do seu apoio a Donald Trump, que defendeu das críticas das figuras mais proeminentes do establishment conservador. Priebus percebeu qual era a estratégia eleitoral do candidato presidencial e soube pôr a estrutura e organização do partido ao seu serviço. O resultado: a vantagem que a campanha democrata tinha no terreno acabou por não ser tão significativa.

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Rudy Giuliani

O antigo mayor de Nova Iorque, que também já ambicionou a presidência dos EUA, está a ser apontado como o possível futuro Procurador-geral dos Estados Unidos (equivalente a ministro da Justiça). Foi uma das poucas personalidades com projecção nacional do partido que assumiu o papel de porta-voz da campanha de Trump, substituindo-se ao candidato nos momentos de crítica mais acesa (sobretudo, nos ataques ao carácter e temperamento após os debates televisivos ou o escândalo do vídeo do Access Hollywood).

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Vladimir Putin

Para quem ainda tinha dúvidas sobre o apoio do Presidente da Rússia a Donald Trump, eis a declaração vinda do Kremlin sobre a vitória do candidato republicano à Casa Branca. “A sua primeira declaração [depois de confirmada a eleição] dá-nos esperança que será possível dar passos para melhorar as relações entre os EUA e a Rússia. O resultado não significa que todas as questões pendentes nas nossas relações vão ficar resolvidas. O mais importante é a intenção de resolvê-las pelo diálogo”.

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Julian Assange

O antigo director e fundador do WikiLeaks, convertido num dos principais inimigos de Hillary Clinton, tornou-se um dos intervenientes da campanha ao divulgar milhares de ficheiros informáticos pirateados dos servidores de correio electrónico da campanha democrata (supostamente obtidos de hackers patrocinados pela Rússia).

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VENCIDOS

Hillary Clinton

A candidata democrata Hillary Clinton perdeu muito mais do que a eleição presidencial de terça-feira: perdeu a oportunidade de fazer História ao quebrar o “telhado de vidro” que ainda impede as mulheres de chegar ao cargo mais importante dos EUA, e com essa derrota, perdeu o seu futuro político. É difícil conceber um regresso de Hillary à arena política depois deste resultado, e não apenas por uma questão de idade (69 anos): a democrata, que passou décadas na vida pública, nunca conseguiu convencer os americanos de que também ela pode personificar as ideias da ruptura e da mudança. Pelo contrário, a candidata que sobressai pelo seu pragmatismo e capacidade de trabalho, é a personificação do insider que os eleitores ostensivamente rejeitaram nas urnas. O desgaste provocado pelas primárias contra a “novidade” representada por Bernie Sanders, e depois pelos escândalos dos e-mails e das mensagens divulgadas pelo Wikileaks não lhe permitiram desfazer-se da imagem negativa (de dissimulada ou corrupta) que os eleitores têm dela, e que justifica a falta de entusiasmo na sua candidatura.

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Barack Obama

Com algumas das maiores conquistas políticas dos seus mandatos na Casa Branca debaixo da ameaça de Donald Trump, o Presidente dos EUA (como também a sua mulher Michelle) não regateou esforços no apelo ao voto em Hillary Clinton e nos restantes candidatos do partido. A vitória de Donald Trump, e dos republicanos no Congresso, comprometem algumas das suas principais conquistas legislativas (a mais importante das quais o Obamacare) e acções executivas – que o novo Presidente pode desfazer com apenas uma assinatura. A importância histórica de Obama na Casa Branca não está em causa, mas o seu legado político fica em jogo depois de Janeiro.

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Partido Democrata

Além de falhar a conquista da presidência, o Partido Democrata fracassou no seu grande objectivo de recuperar a maioria do Senado, de roubar espaço à bancada conservadora nas Câmara de Representantes e de colocar mais peças no tabuleiros dos governos estaduais. A grande jornada eleitoral de 8 de Novembro foi um fiasco em toda a linha para o movimento progressista e liberal, e a culpa não pode ser assacada exclusivamente a Clinton – afinal, a candidata produziu uma convenção nacional mais bem sucedida do que a de Trump e teve sempre consigo, aparentemente unido e, os principais nomes do partido. A pergunta que antes da eleição se colocava e relação ao Partido Republicano – qual será o seu futuro em caso de derrota? – incomoda agora as mentes dos democratas. À excepção da reeleição de Barack Obama em 2012, as últimas votações foram más para o partido. A derrota de terça-feira vai ser difícil de aceitar, e custará ainda mais a ultrapassar porque o partido não tem um novo porta-estandarte que mobilize as hostes como o rosto do futuro (seguramente não será Bernie Sanders).

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Paul Ryan

O comunicado congratulatório que o actual Speaker da Câmara dos Representantes e líder dos republicanos no Congresso, Paul Ryan, fez divulgar após a vitória de Trump ter sido anunciada, não é suficiente para que o Presidente eleito e a sua base de apoio (na rua e no Congresso) esqueçam ou perdoem a ambiguidade com que encarou a campanha presidencial. Compreende-se que Ryan queira capitalizar com a vitória de Trump, mas o facto é que em nada contribuiu para que ela acontecesse. E até é mais provável que, por causa disso, possa ser desafiado pela nova ala “trumpista” do Congresso na votação para Speaker na próxima legislatura.

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Família Bush

Mais do que os Clinton, são os Bush que representam uma certa tradição dinástica da política norte-americana que acabou com Donald Trump (noutros tempos foram os Kennedy). A derrota sem apelo nem agravo de Jeb Bush nas primárias, e a irrelevância eleitoral dos dois antigos presidentes George Bush e George W. Bush durante esta campanha são a prova de que essa era acabou.

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Merrick Garland

Com a vitória de Donald Trump, caíram definitivamente por terra as hipóteses de nomeação de um liberal para o cargo que está vago no Supremo Tribunal desde a morte do juiz Antonin Scalia. O nome de Merrick Garland, o juiz do que foi indicado pelo Presidente Barack Obama, saltou automaticamente para fora da lista de possíveis novos juízes – por força da maioria republicana no Senado não chegou sequer a defender o seu currículo numa audiência de confirmação. Agora, desde que concerte a sua escolha com a câmara alta, Trump terá via aberta para nomear um juiz conservador, restabelecendo o antigo equilíbrio de 5-4 que pende para os nomeados republicanos.

Sondagens

Ao longo da campanha, Donald Trump desvalorizou as previsões e estimativas das sondagens que consistentemente apontavam uma vitória de Hillary Clinton e avisou os norte-americanos (e o resto do mundo) para se prepararem para o “’Brexit’ vezes cinco ou 50” quando a contagem dos votos começasse a ser feita. E estava certo, embora da comparação com o “Brexit” só se possa aproveitar o elemento de choque e incredulidade com o resultado da votação: a uma semana do referendo sobre a saída ou permanência do Reino Unido na União Europeia, já era o campo do “Brexit” que liderava as intenções de voto, com uma carta margem que veio a confirmar-se no escrutínio. Os diferentes institutos e empresas de sondagens que desde Junho mediam o favoritismo de Hillary Clinton estarão a esta hora a rever os seus métodos, modelos e amostras para encontrar a falha que os levou a errar tão clamorosamente nas projecções. O mal está feito e foi abalada a credibilidade das sondagens enquanto barómetro do sentido de voto do eleitorado.

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