Festival Todos convida-nos a comer no Jardim das Delícias

Entre 8 e 11 de Setembro, o Todos regressa à Colina de Santana para quatro dias de teatro, dança, música, circo, performance e comidas originais.

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O Piknik Horrifik dos belgas Laika KATHLEEN MICHIELS

Entrar no quadro O Jardim das Delícias de Hieronymus Bosch (1450-1516) e, entre o paraíso e o inferno, comer de formas estranhas coisas estranhas – esta é a proposta do grupo belga Laika para o espectáculo de teatro culinário que baptizou como Piknik Horrifik e que será apresentado nas quatro noites da próxima edição do festival Todos – Caminhada de Culturas, entre 8 e 11 de Setembro, em Lisboa.

Um piquenique que irá acontecer num cenário também improvável: o Hospital Miguel Bombarda, antigo estabelecimento psiquiátrico entretanto encerrado. Isto porque, pelo segundo ano consecutivo, o Todos – que nesta oitava edição tem como tema Surpreender o Quotidiano – volta à zona da Colina de Santana e do Campo Mártires da Pátria.

O objectivo do festival, iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa em parceria com a Academia de Produtores Culturais, é, como lembrou uma das suas organizadoras, Madalena Victorino, trabalhar a relação com diferentes bairros da cidade, cada um “com as suas complexidades e perplexidades”, envolvendo os seus habitantes e, em particular, as comunidades de diferentes origens étnicas. Já passou pelo Intendente, o Martim Moniz, a Rua do Benformoso, a Rua do Poço dos Negros e a Rua de São Bento e ficará na Colina de Santana até 2017.

A apresentação da edição deste ano já revelou um pouco do que é o trabalho dos Laika em torno das questões da comida. Com a ajuda dos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, os belgas apresentaram pratos como “terra comestível com vermes, osso e barro”, uma cabeça comestível feita com mousse de salmão ou ainda um “risotto do inferno”.

O responsável do grupo, Peter De Bie, explicou que Piknik Horrifik partiu do quadro de Bosch, “que é um espelho da sociedade”, e da vontade de discutir a forma como se produz comida no mundo actual. Assim, na peça existe uma “empresa”, chamada Paradise Inc., que “faz comida a partir de tudo” e engana as pessoas com o objectivo de lançar um novo produto no mercado.

Mas os quatro dias do Todos têm muito mais que ver, fazer – e comer. Uma das convidadas deste ano é a funambulista Tatiana Mosio Bongonga, que caminhará sobre uma corda acompanhada por 100 guitarristas de várias nacionalidades residentes em Lisboa, sob a direcção musical de Pedro Salvador (há neste momento uma open call para reunir os guitarristas que quiserem participar).

Haverá também, na descrição feita por Madalena Victorino, “música, jantares em palácios, teatro com uma forte vertente política, danças silenciosas nos jardins e um mini snack-bar do mundo feito pelos cozinheiros do bairro”. Como sempre acontece, o Todos não tem um espaço único, um teatro, por exemplo, precisamente porque quer levar os visitantes a descobrir diferentes espaços no bairro, da Academia Militar ao Instituto Alemão (há também várias visitas guiadas).

Por esses espaços vão passar, por exemplo, a Companhia L’Attraction Céleste, que apresentará um espectáculo de circo “misturando palhaços, música e imagens projectadas”, os Violons Barbares, que trazem sons da Mongólia, com o artista Dandarvaanchig Enkhjargal, conhecido como Epi e que toca khora, o búlgaro Dimitar Gougov, especialista em gadulka, e o percussionista francês Fabien Guyot, que toca doun-doun, gongos ou bendir. E ainda a banda franco-marroquina N3rdistan, que “mistura electro rock com trip-hop, hip-hop e poesia árabe ancestral”.

O programa do Todos inclui a peça Ocidente, de Rémy De Vos, com direcção de Victor Hugo Pontes, espectáculo que “disseca até ao osso o drama de um casal em decomposição”, e um espectáculo de música e palavra escrita, dita e cantada a partir de uma ideia de Miguel Abreu que recupera textos de poetas com problemas de saúde mental (também no Hospital Miguel Bombarda).

Por fim, Madalena Victorino está a organizar uma Fábrica Paraíso: um palácio da Colina de Santana transformar-se-á numa “grande fábrica”, com “comidas cruas, líquidas, comidas animais, feitas com os cereais do mundo e com todas as especiarias” – uma forma de trazer para o Todos os sabores das várias comunidades. O texto de apresentação serve para abrir o apetite: “Como é uma cozinha romena e uma sala de jantar chinesa? E no Cazaquistão como se apresenta a sala onde se cozinha, onde se está e se come também? E como convivem estas casas com os edifícios portugueses?”. Em Setembro descobriremos. 

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