Protecção Civil já registou 1943 ocorrências neste domingo

O alerta mantém-se até às 8h de segunda-feira. Tem havido, sobretudo, quedas de árvores.

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Cheias em Coimbra Adriano Miranda

O mau tempo não parou de fustigar os distritos do litoral ao longo de todo o dia, provocando incidentes sem especial gravidade. Desde as 00h até às 18h00 deste Domingo, o Comando Nacional das Operações de Socorro já registou 1945 ocorrências. Mantinha o estado de alerta até às 8h de segunda-feira.

“São sobretudo quedas de árvores, o que se explica pelo vento e pelo terreno estar saturado de água”, disse o adjunto do comando nacional Carlos Guerra.  Contava 638 quedas de árvores, 361 quedas de estruturas, como placards ou andaimes, 96 inundações, 64 deslizamentos de terra.   

A situação mais preocupante verifica-se em Coimbra, com 186 ocorrências. Seguiam-se Porto, com 160, Aveiro, com 130, Leiria, com 108, Lisboa, com 102, Santarém, com 80, Setúbal com 63. “É toda a faixa litoral que vem do Porto até lisboa e Vale do Tejo”, precisou o mesmo responsável da Autoridade Nacional da Protecção Civil.

Em Coimbra, o caudal dos rios Mondego e Ceira foi baixando "de forma consistente", mas antes as águas voltaram a submergir as esplanadas do Parque Verde, a inundar o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, a transformar o campo de golfe da Quinta das Lágrimas numa grande piscina, a impedir o trânsito nalgumas estradas municipais e caminhos rurais – nesse concelho e nos de Soure e Montemor-o-Velho.

“Já há muito ano que não via água aqui", disse à agência Lusa Graciete, de 88 anos, agarrada a uma vassoura para tirar o lodo do passeio à frente da sua casa. Apesar de a água estar a bater no passeio à frente da sua casa, perto da entrada para o núcleo museológico do mosteiro, a situação não se assemelha com um passado longínquo, em que ela, o marido e os filhos tinham de saltar do 1.º andar da casa "para um barco".

Maria José, a morar numa casa com varanda virada para o mosteiro, não pregou olho a noite toda. Na noite de sábado para domingo, tomou dois comprimidos para se acalmar e "proteger tudo". Na sua cave, mostrava o nível da água, que atingia cerca de 20 centímetros, com todos os objectos em cima de móveis. No quintal, com vasos e pequenas plantas parcialmente submersas, de pouco valeram as toalhas e sacos para conter a entrada de água pela porta. "A água entrou à mesma".

A abertura dos diques numa zona próxima do Choupal permitiu aliviar a pressão nas margens a montante do dique, descarregando a água nos campos agrícolas do Baixo Mondego. “O dique fusível funciona automaticamente. Quando o leito do rio atinge determinada pressão, o dique abre e espraia a água nos campos agrícolas”, explicou o comandante Carlos Tavares, do Comando Distrital de Operações de Socorro. Caso tal não tivesse acontecido, teria havido “consequências mais graves”.

No distrito de Aveiro o dia também ainda foi de sobressalto. Logo pela manhã, por volta das 8h00, foram retomadas as buscas para tentar encontrar o homem arrastado pela corrente ao final da tarde de sábado, quando passava de bicicleta na estrada que liga Cacia (Aveiro) a Angeja (Albergaria-a-Velha). O vento forte e a força da corrente foram dificultando o trabalho dos bombeiros, auxiliados por uma moto de água e dois botes. Eram 17h45 quando resgataram o corpo, informou Carlos Guerra. Estava perto do sítio no qual tinha sido visto pela última vez.

Temeu-se o pior também na Nazaré. Seis pessoas foram durante a tarde retiradas pela Polícia Marítima da zona do Forte de S. Miguel. "O trânsito está cortado mas as pessoas desceram a encosta a pé, até ao Forte de S. Miguel onde foram surpreendidas com ventos muito fortes e não conseguiram fazer o caminho de volta", disse à agência Lusa o comandante da Capitania da Nazaré, Gomes Agostinho.

Outras inundações inspiravam cuidado. A subida do rio Ave inundou o parque das Azenhas, na Trofa, desde a madrugada de sexta-feira, sendo a terceira vez este ano, por exemplo. "Está tudo sinalizado e o acesso vedado, mas é importante apelar a que não usem o espaço", disse o comandante de Protecção Civil, Vítor Pinto.

Em muitas outros locais, operacionais trataram de limpar e desobstruir vias. Foi o caso de Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Penaguião, onde o mau tempo provocou avultados prejuízos. "É tanta coisa que eu nem sei fazer um balanço a isto, já que são tantas as derrocadas, tantos os muros caídos, tantas estradas", dizia à agência Lusa o presidente da Câmara de Mesão Frio, Alberto Pereira.

Ao início da tarde, embora o Baixo Vouga continuasse submerso, a circulação já estava normalizada. Tinha sido reaberta a A25 e a estrada nacional (EN) 109 e retomadas as ligações ferroviárias. “Apenas a estrada da Cambeia, que segue junto ao Vouga, continua encerrada”, disse Adolfo Vidal, que coordena as operações do Serviço Municipal de Protecção Civil de Estarreja.

Mantinha-se até às 8h de segunda-feira, o terceiro mais grave de quatro níveis da protecção civil e significa a previsão de ocorrência de fenómenos que, não sendo invulgares, podem representar um dano potencial para pessoas e bens. "Em termos de previsão meteorológica, só a partir de segunda-feira é que temos algum desagravamento das várias variáveis, nomeadamente, do vento e da agitação marítima", afirmou José Manuel Moura, comandante operacional nacional, numa conferência de imprensa que deu, em Lisboa, à hora do almoço.

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