Oligarca russo quer investir 3,6 mil milhões na Oi e fusão com a TIM

Mikhail Fridman quer criar novo gigante das telecomunicações no Brasil.

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Investimento de Mikhail Fridmana seria através da Letter One Sergei Karpukhin/Reuters
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O segundo homem mais rico da Rússia apontou baterias ao Brasil. O fundo de investimento de Mikhail Fridman, que segundo a Forbes tem uma fortuna de 14,7 mil milhões de dólares, avançou com uma proposta formal de interesse na Oi, desde que a empresa que já foi dona da PT Portugal consiga fundir-se com a TIM Brasil.

Há um cheque de 4 mil milhões de dólares (3,8 mil milhões de euros) que chegará aos cofres da sobreendividada Oi (dívida de 34,6 mil milhões de reais ou 8 mil milhões de euros no final do primeiro semestre) se a sua gestão conseguir convencer a Telecom Itália (que tem como maior accionista a Vivendi) que a fusão das duas companhias é um bom negócio.

A Oi explicou em comunicado que o seu assessor financeiro, o BTG Pactual, recebeu a indicação de que “a Letter One estaria disposta a realizar um aporte de até quatro bilhões de dólares na Oi, condicionada à operação de consolidação [com a TIM]”.

A Letter One é o grupo encabeçado por Mikhail Fridman, que nos seus órgãos de administração tem outros bilionários russos (German Khan e Andrei Kosogov, por exemplo), um ex-ministro russo (Petr Aven), um ex-ministro britânico (Lord Davies of Abersoch) e um antigo primeiro-ministro da Suécia (Carl Bildt), entre outros notáveis. Os seus fundos investem essencialmente nas áreas da energia (a empresa de petróleo e gás DEA) e telecomunicações (a líder de mercado turca Turkcell e a VimpleCom, que está sedeada em Amesterdão e tem actividades em 14 países).

Fridman nasceu na Ucrânia, em 1964. Reza a sua biografia no site da Letter One que se estreou como empreendedor em 1988, na companhia de alguns amigos da universidade, com um negócio de lavagem de janelas. Hoje é dono do grupo Alfa, que controla um dos maiores bancos privados da Rússia, o Alfa Bank, e tem presença noutros sectores de actividade, como o retalho.

Criou a Letter One em 2013 com dinheiro que ganhou com a venda da petrolífera TNK-BP à petrolífera estatal Rosneft (um negócio de quase 51 mil milhões de euros) para investir em projectos internacionais.

Em busca da consolidação
Desde Agosto do ano passado que a Oi andava activamente a procurar de uma forma participar numa operação de consolidação no mercado brasileiro de telecomunicações. Uma das possibilidades que chegou a ser noticiada foi a de comprar a TIM (controlada pela Telecom Italia) e depois repartir os seus activos com a Claro e a Vivo, as suas rivais directas.

Nessa época, a Oi ainda era presidida por Zeinal Bava (que foi demitido em Outubro do ano passado), mas as ondas de choque do escândalo do papel comercial da Rioforte já se faziam sentir, pondo em evidência as dificuldades financeiras da empresa, que estava sobreendividada e sem capacidade de crescimento. Cedo se levantaram dúvidas sobre a capacidade da Oi em liderar uma operação dessa natureza, havendo quem sugerisse que seria esta operadora que acabaria, mais tarde ou mais cedo, por ser integrada numa rival.

Para já, a Oi, que tem como maior accionista a Pharol SGPS (com cerca de 27,5% do capital), a sociedade presidida por Luís Palha da Silva que reúne ex-accionistas da antiga PT, como o Novo Banco, diz que está a analisar a proposta da Letter One com os seus assessores legais e financeiros. Com o anúncio da operação, as acções da Pharol subiram 13% para na bolsa de Lisboa, para 0,382 euros.

A TIM, como já tinha feito no ano passado quando se falou na possibilidade de vir a ser retalhada às postas pelas rivais, veio pôr água na fervura. A empresa liderada por Rodrigo Abreu garantiu em comunicado "que não tem nenhuma negociação em curso" nem com a Oi, nem com o fundo russo tendo em vista "qualquer potencial consolidação no mercado brasileiro".

A TIM é a segunda maior operadora móvel do mercado brasileiro, mas não tem oportunidades de crescimento no fixo e nas ofertas de televisão (no Verão passado saiu derrotada na luta com a Telefónica/Vivo pela GVT, a empresa de televisão paga da Vivendi).

Já a Oi tem uma posição forte no fixo, mas é a quarta do mercado no móvel e só com a compra da TIM estaria em condições de competir com Vivo e a Claro, do mexicano Carlos Slim. No final do ano passado, a Oi e a TIM tinha cerca de 75 milhões de clientes cada uma. A Oi acabou o ano com receitas de 6,6 mil milhões de euros e a TIM de quase 6 mil milhões.

A aposta nas telecomunicações
O investimento de Mikhail Fridman nas telecomunicações ficou marcado por um braço de ferro com a companhia norueguesa Telenor, em 2011. Quer a operadora nórdica, quer o grupo Alfa, do bilionário russo, eram accionistas da empresa de telecomunicações russa VimpelCom, mas ambos tinha ideias diferentes sobre o futuro do negócio.

E foi Fridman que levou a melhor quando conseguiu fazer aprovar a compra da Weather Investments, sociedade onde estavam concentrados activos de telecomunicações do bilionário egípcio Naguib Sawiris, num negócio de mais de 6 mil milhões de dólares (5,4 mil milhões de euros). A Altimo, do grupo Alfa, tinha 45% dos direitos de voto da VimpleCom e a Telenor apenas 36%.

A VimpelCom, que é actualmente gerida através do fundo L1Technology, da Letter One, conseguiu transformar-se naquilo que a Forbes diz ser a sexta maior empresa de telecomunicações do mundo. Com sede em Amesterdão, tem operações em 14 países (Rússia, Itália, Ucrânia, Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Arménia, Quirgiquistão, Laos, Bangladesh, Paquistão e Zimbabué) e oferece serviços de voz e dados fixos e móveis, segundo informação da Letter One.

Um modelo de desenvolvimento regional semelhante ao da Turkcell, que a Letter One diz ser a empresa líder de telecomunicações da Turquia, e em que Fridman tentou reforçar a sua posição ao longo deste ano, apesar da oposição do governo turco. A Turkcell tem 67,9 milhões de clientes na Turquia, Chipre, Moldávia, Geórgia, Azerbaijão, Cazaquistão, Ucrânia, Bielorrússia e Alemanha.

 

 

 

 

 

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