Presidenciais: um combate entre o conservadorismo e a ruptura?

Para José Adelino Maltez, “o cargo presidencial é a negação da direita e da esquerda”. Carlos Jalali e Jorge Reis Novais acreditam que o facto de Sampaio da Nóvoa ser um outsider pode ser uma vantagem. Traz “renovação”.

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Marcelo é visto como um candidato forte António Carrapato

O politólogo José Adelino Maltez acredita que o combate nas presidenciais “não se travará tanto entre a esquerda e a direita”, mas entre um candidato conservador e outro de ruptura. Um ou mais.

O empresário socialista Henrique Neto já apresentou a candidatura. O antigo vice-presidente da Câmara do Porto Paulo Morais também avança. Há uma profusão de possíveis candidatos a Belém: Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Paulo Portas, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, à direita; Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém, António Guterres, Jaime Gama, Guilherme d’Oliveira Martins, Carvalho da Silva, à esquerda.

Embora Maltez se afaste da dicotomia esquerda/direita nas presidenciais, admite que há, pelo menos, duas personalidades que encaixam no seguinte perfil: o comentador Marcelo, a avançar, seria “o candidato do conservadorismo sistémico”, o antigo reitor Sampaio da Nóvoa, “o reformista e da ruptura”.

Por que é que o politólogo prefere estes conceitos aos da esquerda/direita? “Marcelo, a avançar, vai apresentar na candidatura apoios e pessoas de esquerda e Sampaio da Nóvoa à direita. Seja de esquerda ou de direita, o candidato vencedor terá apoiantes de vários sectores. O cargo presidencial é a negação da direita e da esquerda. Essa é a lógica das eleições parlamentares.”

Uma das críticas a Nóvoa é ser pouco conhecido. Mas o politólogo Carlos Jalali entende que tal “pode não ser necessariamente mau”, uma vez que “há uma desconfiança das pessoas em relação aos políticos”. Além disso, já está no terreno: “Estamos a falar muito mais dele.”

Para o professor de Direito Constitucional da Universidade de Lisboa, Jorge Reis Novais, a popularidade “é importante”, é “uma eleição directa, pessoal”, mas há nuances. Por exemplo, se avançar, Marcelo parte com a “vantagem” de ser conhecido”, mas tal também pode funcionar “em sentido contrário” - uma certa “banalização, por estar sempre na televisão, um certo cansaço”: “Não há propriamente novidade”, defende o ex-assessor para os assuntos constitucionais de Mário Soares e Jorge Sampaio.

Já Nóvoa, diz, tem “a desvantagem de não ser conhecido”, mas a vantagem de ser um rosto “novo, de renovação, vindo de fora do espectro partidário”. “Interessa-se pelos assuntos da sociedade, mas fora do espectro partidário. Isso pode ser importante. Na Europa do Sul, há uma grande vontade de renovação, de mudança de protagonistas”, nota o docente.

Já Maltez alerta que Nóvoa “nem nas elites é conhecido, quando muito na universidade”: “Não tem o espaço de ligação com o eleitorado. Mas pode vir a ter, não está derrotado à partida.” Apesar de “a procissão ainda não ter saído do adro”, o politólogo admite que, se Marcelo avançar, poderá “ser o candidato mais forte”.

Direita unida é uma vantagem?
Em 2011, quando se recandidata, Cavaco é apoiado pelo PSD, CDS e Movimento Esperança Portugal – obtém 52,95% dos votos. Na corrida, entraram Manuel Alegre (PS, BE e PCTP), o independente Fernando Nobre, Francisco Lopes, (PCP e Verdes); Manuel Coelho (Nova Democracia), e o deputado socialista que concorreu como independente, Defensor Moura.

Mais significativo foi em 2006 - Cavaco Silva estava a candidatar-se e não a recandidatar-se. Junta os apoios do PSD e do CDS, ganha com 50,54%. Concorreram Manuel Alegre como independente contra Mário Soares, apoiado pelo PS, Jerónimo de Sousa (PCP e Verdes), Francisco Louçã (BE), e Garcia Pereira (PCTP).

A direita tem-se unido mais? A divisão da esquerda, em particular no PS, levou Cavaco ao cargo, como já afirmou Manuel Alegre? Para Jalali, “é muito difícil dizer” que foi essa divisão a levar à vitória de Cavaco em 2006. “O facto de haver vários candidatos à esquerda não impede a eleição de um candidato à esquerda.” E dá como exemplo as eleições de 1986 - na primeira volta, Freitas do Amaral, apoiado pelo CDS e pelo PSD, reúne 46,31% dos votos. Soares, PS, 25,43%. Concorreram Salgado Zenha, com o apoio do PCP e do Partido Renovador Democrático e a independente Maria de Lourdes Pintassilgo. Mas há uma reviravolta e Soares vence Freitas na segunda volta.

“A lógica no nosso sistema eleitoral é que, na primeira volta, se vota com o coração, na segunda com a cabeça. O sistema permite ao eleitor votar no candidato que mais lhe agrada e, numa segunda volta, fazer uma articulação entre o de esquerda ou de direita. Foi o que aconteceu em 1986”, diz Jalali. Porém, admite que “a direita tem sido menos dividida, entende-se melhor” e “a esquerda surge mais dispersa”. “A direita tem, por razões históricas, muito mais tradição de coligações, coliga-se sempre que precisa. A esquerda entende-se menos, é um padrão histórico”, nota.

Reis Novais alerta que, “para se ganhar uma dinâmica vencedora logo na primeira volta, pode ser importante não haver” uma “dispersão” de candidatos da mesma área partidária. Em 2006, admite que terem concorrido dois históricos socialistas – Alegre, como independente, e Soares, pelo PS – “perturba sempre” essa dinâmica. Nas eleições de 2016, se houver, “na área do PS um [só] candidato”, tal contribuirá “para uma dinâmica de vitória”: “A dispersão não gerará essa dinâmica, sobretudo se à direita houver um candidato forte.”

O docente defende que “era importante que houvesse um candidato que conseguisse abranger toda a área da esquerda”: “Desse ponto de vista, Sampaio da Nóvoa, sendo um candidato independente podia chegar a muita gente. Se a própria candidatura quiser chegar a várias áreas, o PS pode ter intenção em apoiá-lo, para apanhar todas as forças da esquerda e pessoas que se têm abstido”.

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