WikiLeaks exige explicações ao Google sobre entrega de emails ao FBI

Motor de busca notificou três dos seus utilizadores que estavam a ser investigados mais de dois anos e meio depois de ter acedido a um mandado de busca do FBI.

Foto
Fernando Veludo/NFactos

O Google terá levado mais de dois anos e meio a informar a WikiLeaks que entregou emails e outros dados de três dos seus membros ao Governo norte-americano, no âmbito de um mandado de busca emitido por um juiz federal. A WikiLeaks exige agora explicações ao motor de busca.

Numa carta escrita pelo advogado da organização em Nova Iorque e presidente emérito do Center for Constitutional Rights, Michael Ratner, citada pelo The Guardian, é manifestado ao director executivo do Google que a WikiLeaks está “atónita e perturbada” por a empresa ter “esperado mais de dois anos e meio para notificar os seus subscritores que tinha sido emitido um mandado de busca aos seus registos”.

Segundo a missiva de Ratner enviada a Eric Schmidt, em causa estão emails e outros dados de Sarah Harrison, editora, Kristinn Hrafnsson, porta-voz, e Joseph Farrell, editor sénior, que terão sido entregues às autoridades norte-americanas no âmbito de uma investigação a actos de espionagem, conspiração para actos de espionagem, roubo ou conversão de propriedade do Governo dos Estados Unidos, violação da lei Computer Fraud and Abuse Act e conspiração.

O advogado indica que os três jornalistas e editores da WikiLeaks só foram notificados a 23 de Dezembro último que os seus dados tinham sido requeridos e entregues sob um mandado do Governo dos Estados Unidos em Março de 2012.

Michael Ratner recorda que o co-fundador da WikiLeaks Julian Assange pediu ao Google, tal como já tinha feito junto do Twitter, que a organização fosse notificada quando solicitada informação sobre os seus membros. “Ficámos surpresos por o Google ter aparentemente falhado na resposta a esse pedido, levando a que os nossos clientes [Sarah Harrison, Kristinn Hrafnsson e Joseph Farrell] fossem alertados com mais de dois anos e meio de atraso”. O advogado da WikiLeaks sublinha que os três membros da organização ficaram, assim, impedidos de “intervir e proteger os seus interesses, incluindo os seus direitos à privacidade”.

Ao contrário do Google, num caso semelhante que envolveu um elemento da WikiLeaks e o Twitter, o site de microblogging exigiu junto do Governo norte-americano o direito de informar um membro da organização quando foram pedidas informações sobre a sua actividade. A justiça aceitou, o que permitiu ao membro da WikiLeaks actuar na defesa dos seus interesses.

À empresa de Eric Schmidt é agora exigido que identifique a informação passada às autoridades, explique por que levou mais de dois anos e meio a notificar os seus três utilizadores e forneça uma cópia do documento do juiz federal a autorizar o mandado aos documentos dos membros da WikiLeaks.

Quando notificou em Dezembro os três utilizadores dos seus serviços, o Google alegou que se manteve em silêncio sobre os mandados de busca por estar sob ordem judicial. A empresa não explicou em que momento deixou de estar sob uma imposição de silêncio e porquê.

Segundo o The Guardian, foi exigido ao Google que entregasse todos os conteúdos dos emails dos três utilizadores, os endereços do envio e recepção de cada email, bem como a data, hora e tamanho dos mesmos. O jornal britânico indica que o FBI pediu ainda todos os dados sobre contas online, incluindo números de telefone e moradas de IP.

Ao diário o Google recusou-se a comentar este caso em particular. Uma porta-voz da empresa disse que quando é recebida uma intimação ou ordem judicial é verificado se estas não violam a lei e se não põem em causa os direitos dos utilizadores.

O pedido de acesso aos dados dos três membros da WikiLeaks estará relacionado com uma investigação lançada em 2010 pelos departamentos de Estado, Defesa e Justiça dos Estados Unidos, após a entrega de Chelsea Manning à organização de perto de um milhão de telegramas diplomáticos norte-americanos e ficheiros do Departamento de Defesa sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque.

Sugerir correcção
Comentar