PCP e Governo concordam que há “injustiça” na distribuição de riqueza

No debate no Parlamento sobre a pobreza, a pedido do PCP, o ministro da Economia fez um duro ataque ao modelo económico comunista.

Numa interpelação ao Governo sobre o combate ao empobrecimento, o PCP começou por apontar a “injustiça” na distribuição da riqueza. Na bancada do executivo, tanto Maria Luís Albuquerque como António Pires de Lima concordaram que há desigualdades. A divergência está na forma como estão (ou não) a ser corrigidas.

"O país está confrontado com uma gigantesca e insustentável injustiça na distribuição da riqueza nacional. Portugal cria por ano cerca de 165 mil milhões de euros de riqueza. Para onde vai e como é distribuída?", questionou  o deputado comunista Jorge Machado, apontando o dedo ao actual Executivo. “Nenhum Governo foi tão longe como o actual no ataque aos salários, do sector público e do sector privado, no ataque aos direitos e outras componentes de redistribuição”, afirmou o deputado, no arranque do debate.

Na resposta, a ministra das Finanças afirmou que é preciso continuar a trabalhar para ter “uma mais justa distribuição de riqueza”, elencando medidas tomadas pelo Governo que considera terem protegido os mais desfavorecidos. Nesse lote incluiu o aumento do salário mínimo: “Vinte euros é pouco mas é uma ajuda.”

Depois de ser acusada pelas bancadas do PS e do BE de fazer um diagnóstico muito positivo do país, Maria Luís Albuquerque retorquiu: “Não fiz o diagnóstico de que está tudo bem. Eu disse que queríamos um país mais justo.” E dirigindo-se à bancada socialista, a ministra recusou qualquer isolamento: “Eu também ando na rua, e também falo com os portugueses e com mais frequência do que a Rua de São Caetano à Lapa [onde fica a sede nacional do PSD], e muitos vêm falar comigo.”

Com o ministro da Solidariedade e Segurança Social ausente do debate – como foi assinalado pelo PS – o maior ataque às bancadas da oposição mais à esquerda viria pela voz do ministro da Economia, António Pires de Lima. Apesar de assumir que “convive mal” com as desigualdades, o centrista questionou directamente as bancadas comunista e bloquista. “Os exemplos históricos da incapacidade de gerar riqueza e de a distribuírem pelos povos não vos dão condição para exibirem essa arrogância moral para quem há muitos anos trabalha e está habituado a distribuí-la”, acusou.

“Quais os exemplos que as bancadas do PCP e BE têm para dar de distribuição de riqueza? Foram os exemplos de desigualdade dos países de Leste, onde os povos eram condenados à pobreza e à fome, ao mesmo tempo que uma nomenclatura vivia nas dachas [segundas casas ou casas de férias] e com luxos?”, apontou.

Mais à frente, a defesa da bancada comunista foi feita pelo líder parlamentar. João Oliveira convidou os membros do Governo e os deputados da maioria PSD/CDS a olharem para a sua lapela e para as políticas que prosseguiram. “O resultado é a criação da fome e da miséria, condenou os portugueses. Não precisam de falar de um país inventado, falem do país que arrastaram para a miséria”, acusou, enquanto os deputados sociais-democratas apontavam para a bancada socialista.

O debate acabou por aflorar a TAP no dia em que o Governo, através do ministro da Economia, anunciou a requisição civil dos trabalhadores. Pedro Filipe Soares, líder da bancada bloquista, lembrou outras privatizações como a da EDP e da ANA, como processos que “empobreceram o país”.

O CDS, pela voz do líder parlamentar Nuno Magalhães, e Pires de Lima acusaram o PS de hipocrisia pelo silêncio em torno da medida tomada pelo Governo para atenuar os efeitos da greve marcada o período entre os dias 27 e 30 deste mês. O deputado socialista Rui Paulo Figueiredo tinha reagido à solução anunciada, fora do plenário, criticando a responsabilidade do Governo na degradação do diálogo entre os sindicatos e a transportadora nacional.

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