Sem dança de professores, colégios têm caminho aberto para o sucesso

Nos colégios os professores entram em norma para ficar e isso faz toda a diferença nos resultados obtidos pelos alunos. É uma das vantagens em relação às escolas públicas destacadas pelos directores dos privados que lideram o ranking do secundário.

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Paulo Pimenta

Bons resultados escolares não conjugam por norma com “professores muito desmotivados e zangados”. E é neste estado de espírito, palpável nas escolas públicas, que a directora do Colégio Moderno, de Lisboa, Isabel Soares, encontra uma das razões que levaram este ano a mais um recuo daquelas no ranking das secundárias, que no PÚBLICO é elaborado com base nas médias obtidas nos oito exames mais concorridos.

Os colégios não se podem queixar de tal. Para além de estável, no Moderno o corpo docente também “acredita no projecto educativo” do colégio, frisa Isabel Soares em declarações ao PÚBLICO.

O Moderno ocupa o segundo lugar no ranking das secundárias de 2014, com um média de 14,2 valores (numa escala de 0 a 20). O primeiro volta a pertencer ao colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, com um resultado de 14,41. Em 2001, quando foram publicados os primeiros rankings, a primeira escola pública da lista aparecia em terceiro lugar com uma média de 13,7. Este ano, é preciso chegar ao 34.º lugar para encontrar uma e a sua média foi de 12,41.

“A estabilidade do corpo docente é muito importante” para garantir boas aprendizagens e esse é um factor que também “não se encontra nas públicas”, destaca Isabel Soares.

Até 2007, era algo que as grandes escolas públicas dos centros urbanos também davam como garantido, mas que colapsou com as sucessivas vagas de reformas antecipadas iniciadas no tempo da então ministra socialista da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Em sete anos reformaram-se cerca de 25 mil docentes. No agrupamento Filipa de Lencastre, em Lisboa, “60% dos professores do quadro foram embora” nesse período, enumera a sua directora, Gabriela Vieira da Silva. Uma das consequências: só no ano passado entraram para este agrupamento 50 novos professores de carreira. “Ainda quase nem houve tempo para passar a palavra, para apreenderam a cultura da escola”, constata, frisando que tal não se faz num período inferior a três anos. “E quando chegarmos lá, se calhar mudam outra vez de escola”, lamenta.   

O agrupamento Filipa de Lencastre está inserido no contexto socioeconómico mais favorável dos três que a Universidade Católica elaborou para o PÚBLICO com base na percentagem de alunos que beneficiam de acção social escolar e na habilitação média dos pais (anos que frequentaram a escola). No primeiro ano dos rankings do secundário, em 2001, esta escola estava em 9.º lugar. Este ano ocupa o 72.º. E é precisamente nesta “nova” instabilidade do seu corpo docente que Gabriela Vieira da Silva encontra uma das razões principais para a descida. “Por causa dos problemas na colocação de professores, este ano lectivo tivemos vários que eram esperados no início de Setembro e que só vieram a 29 de Outubro. Há alunos que perderam 30 aulas de Português e Matemática. Temos algum receio quanto aos resultados”, adverte.

De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Educação 40% dos agrupamentos/escolas não agrupadas têm menos de 80% dos seus professores no quadro.

A importância da “dimensão humana”
O Colégio Nossa Senhora do Rosário, que pertence ao Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, lidera pela terceira vez o ranking do PÚBLICO e esteve sempre presente entre as 20 escolas melhores classificadas. Esta permanência nos lugares cimeiros, que também se verifica no ranking do básico (elaborado com base na médias dos dois exames realizados no 9.º ano), deve-se, segundo o seu director, João Trigo, a uma “cultura instalada de excelência e de procura de todas as oportunidades de melhoria contínua”.

João Trigo não tem dúvidas de que o facto de o colégio ser uma escola católica também tem contribuído para o seu lugar de destaque. É uma escola, descreve, em resposta por escrito, que “para além do foco nos resultados académicos procura também a excelência na formação humana dos seus alunos”. Por exemplo, “muitos deles estão intensamente envolvidos em projectos de voluntariado”.

Ao longo de 14 anos de rankings, só três colégios laicos têm repetidamente conseguido romper com a hegemonia das escolas religiosas. O Moderno é um deles e Isabel Soares aponta também como uma das razões para este feito o facto de terem “um projecto educativo que está centrado na educação para os valores”. “Os valores humanísticos são fundamentais. Fomentamos a tolerância, o sentido crítico, o saber ouvir os outros. Os nossos alunos distinguem-se pela sua formação cívica”, explica.

“Estamos convictos que mais do que formar bons alunos, formamos excelentes pessoas”, realça, por seu lado, João Trigo, para quem estes são, afinal, dois lados da mesma equação: “Pessoas bem formadas são tendencialmente melhores alunos.” O que admira estes responsável é “que muitas famílias e responsáveis de algumas escolas continuem a julgar que é por se sobrecarregar os alunos exclusivamente com aulas e tarefas escolares, que estes terão mais êxito”.

Quanto vale a selecção de alunos?
“Não se pode comparar um colégio privado de uma grande cidade com uma  pequena escola pública do interior do país”, ressalva Isabel Soares. Nos bons resultados do colégio pesam também a origem socioeconómica dos seus alunos — “a esmagadora maioria têm pais com profissões liberais” — e o facto de a maioria destes frequentar o colégio desde a pré-primária até ao final do secundário. “É outra das grandes vantagens de muitas escolas privadas por comparação com as escolas públicas”, diz.

“Haverá escolas públicas com excelentes profissionais, que fazem um excelente trabalho, mas lidam com populações estudantis muito difíceis, com problemas sociais aos mais diversos níveis. A essas não podemos exigir que tenham os mesmos resultados, por muito bom trabalho que realizem”, corrobora João Trigo, ressalvando, contudo, que “há outras  públicas que acabam por não ter alunos assim tão diferentes” dos do seu colégio, mas que “por força de outros constrangimentos, alguns de origem sistémica, não conseguem produzir resultados ao nível do que seria exigível”.

“Nós não podemos seleccionar os nossos alunos e essa é uma grande diferença por comparação ao ensino privado, onde os alunos mais fracos são muitas vezes convidados a sair do colégio a meio do caminho. Temos tido casos desses aqui na escola”, contrapõe Gabriela Vieira da Silva, Tanto Isabel Soares, como João Trigo, negam que esta seja uma prática nas suas escolas. “Temos por princípio que se os alunos trabalham, merecem ir a exames, mesmo sabendo que provavelmente vão ter maus resultado”, garante a primeira. João Trigo assegura que “há escolas que conseguem bons resultados à custa de deixarem muitos alunos pelo caminho”, mas garante que esse não é o caso do seu colégio, precisando, a propósito, que “dos 514 exames realizado no colégio para aprovação, apenas 20 foram realizados por alunos autopropostos e destes só cinco anularam a matrícula por falta de aproveitamento”.

No Moderno, as mensalidades variam entre 400 e 460 euros. No Colégio Nossa Senhora do Rosário vão de 479 a 498 euros.

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