Colégio bilingue brilha a Português. Públicas longe dos primeiros lugares a Matemática e Física

A Matemática, Física e Biologia não há escolas públicas entre as que têm as 10 médias mais altas. A Português há duas. Nesta disciplina acontece algo curioso: um colégio bilingue consegue a segunda melhor média do país.

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Público/arquivo

Matemática
Valsassina é o que melhor se sai com os números

Ela é temida por muitos alunos. E este ano os resultados foram piores do que no ano passado. No grupo das primeiras 10 escolas em destaque no exame da disciplina de Matemática não há nenhuma pública e o Colégio Valsassina, em Lisboa, é o que melhor se sai — de resto, este privado, que era 2.º em 2013, é um habitué no topo dos rankings. E não é o único. Seis dos 10 primeiros estabelecimentos de ensino deste ano já o eram no ano anterior.

No Valsassina  a mensalidade no secundário é de 495 euros. Os 38 alunos internos do colégio lisboeta (dizer que são internos significa apenas que frequentaram a escola o ano todo) que prestaram provas na 1.º fase dos exames nacionais (apenas as provas desta fase são tidas em conta pelo PÚBLICO) conseguiram 15,44 valores (numa escala de zero a 20). O aluno com melhor nota na prova teve 19,2.

Alargando-se o raio de análise às primeiras 20 escolas no ranking da Matemática, já se encontram duas públicas: a Secundária do Restelo, em Lisboa, uma escola do contexto social mais favorecido dos três caracterizados pela Universidade Católica Portuguesa, que colabora com o PÚBLICO neste "especial Rankings", e a única do país com uma taxa de conclusão do 12.º ano de 100%, tem a 14.ª melhor média; e a Secundária de Oliveira do Hospital, que pertence a um contexto intermédio, é 20.ª. A primeira teve uma média de exame de 13,33 valores e a segunda de 12,78 — abaixo das notas dos colégios, mas bem acima da média nacional de 9,2.

Mas nestas listas, que ordenam as escolas do melhor para o pior resultado obtido pelos alunos nos exames nacionais, há outra escola pública a referir: é a Básica e Secundária de Penalva do Castelo. Está em 22.º lugar, mas é a 3.ª estatal com melhor média de exame nesta disciplina e também a que mais supera o valor que se esperaria dela a Matemática tendo em conta o contexto a que pertence — do tipo 1, o mais socialmente desfavorecido, aquele que tem maior proporção de alunos com escalão A de Acção Social Escolar (o que significa que são bastante carenciados) e famílias menos escolarizadas.

De resto, no ranking geral (das oito disciplinas mais concorridas) esta escola foi das que mais subiu de 2013 para 2014 (ocupa a 129.º posição quando era 529.ª há um ano, é uma subida de 400 lugares).

Voltando à Matemática: nas 543 escolas onde se realizaram pelo menos 11 provas (foram essas que o PÚBLICO ordenou da melhor para a pior performance nos exames) as que têm resultados mais fracos (olhando apenas para a média absoluta) a Matemática ficam nas regiões autónomas: Básica e Secundária Bispo D. Manuel Ferreira Cabral (Madeira) e Básica e Secundária de Lajes do Pico (Açores). Com 40 e 17 provas, respectivamente, tiveram 3,6 e 3,35 valores. Perto de dois terços (65,5%) das escolas não conseguiram média positiva.

A qualidade do exame este ano apresentado aos estudantes não foi consensual. A 26 de Junho, depois de mais de 31 mil jovens fazerem a prova, a Sociedade Portuguesa de Matemática considerou-a bem estruturada e adequada ao seu objectivo, mas o vice-presidente da Associação de Professores de Matemática, Jaime Carvalho e Silva, entendeu que ela era “completamente desadequada” e “altamente injusta”. E que ia “cortar as pernas” aos alunos médios. A média nacional viria a baixar, ainda que ligeiramente (de 9,73 para 9,21).

Como se explica neste "especial Rankings", para a maior parte das escolas públicas é possível calcular qual o desempenho esperado para cada contexto socioeconómico  — as escolas estão agrupadas em contextos sociais, definidos em função das habilitações dos pais dos alunos do agrupamento a que pertencem e do peso das crianças abrangidas pela acção social escolar. Na prática, o cálculo deste “valor esperado”, feito pela Católica, permite saber para cada disciplina se uma escola está acima ou abaixo dos resultados conseguidos por outras de igual contexto.

No exame de Matemática, 220 estabelecimentos de ensino ficaram este ano aquém do “valor esperado” e 197 superaram-se. Dois ficaram dentro da média e para os restantes não foi possível calcular o “valor esperado” porque o Ministério da Educação não forneceu dados.

A escola que mais se superou (a sua média esperada era de 8,27), já se disse, foi a de Penalva que, com 13 alunos a exame, conseguiu 12,67 valores de média no exame (o aluno que pior se saiu só teve 4, mas aquele ou aqueles a quem correu melhor o exame levou/levaram para casa a nota máxima, 20 valores).

Por outro lado, a que ficou mais aquém foi a Básica e Secundária Gil Vicente, em Lisboa (também com 13 alunos a prestar provas, obteve uma média de 3,77; o "valor esperado" era 8,68 valores).

2013
Média nacional de exame 9,73
Média interna 13,48
2014
Média nacional exame 9,21
Média interna 13,46

Português
Uma escola bilingue brilha no Português

Nas quatro disciplinas mais concorridas, só a Português (disciplina obrigatória para os alunos de todos os cursos ) há escolas públicas nos 10 lugares de topo do ranking. São elas a Secundária Abade de Baçal, em Bragança, e a Secundária de Carregal do Sal. Conseguiram, respectivamente, 15,22 e 14,86 valores de média. Estas mesmas duas escolas (a de Bragança, pertencendo a um contexto social mais favorecido, do tipo 3, e a de Carregal, de um contexto intermédio, do tipo 2) são as que mais superam o valor que seria esperado tendo em conta as características do contexto onde se inserem.

O Colégio do Minho, em Viana do Castelo, e o Colégio St. Peter’s School, em Palmela, são os primeiros do ranking que ordena as escolas em função da média de exame. No primeiro caso, só prestaram provas 18 alunos, no segundo, 41. E os resultados foram estes: 15,83 e 15,44 valores.

Ou seja, a segunda melhor média pertence a um colégio de ensino bilingue, que promove a cultura anglo-saxónica, onde as crianças começam a falar inglês aos quatro anos (e logo com dez horas semanais de actividades). Isabel Simões, directora pedagógica do St. Peter’s School, explica: “O Ministério da Educação define para Português dois blocos semanais [no mínimo, o equivalente a três horas e meia]. Os nossos alunos têm Português todos os dias, oito horas por semana.” Porquê? “O Português influencia os resultados de tudo o resto, da Matemática, da Física... depois, temos um grupo muito forte de professores de Português e isso é fundamental.”

Todas as semanas, os alunos do St. Peter’s (onde a propina no secundário ronda os 500 euros por mês) têm, então, 8 horas de Português. Mas um mês antes dos exames ainda há um reforço, para 12 horas semanais. Passa-se o mesmo na Matemática. Isto ajudará a explicar os resultados, mas, para além disso, Isabel Simões acredita que a importância que se dá às línguas também influencia “a cabeça dos alunos” e a forma como aprendem. Aqui, as crianças têm mais aulas de Inglês do que é normal — e algumas disciplinas são dada em inglês, caso de “Social Studies” no 1.º ciclo —, mas também aprendem obrigatoriamente espanhol, alemão e latim.

Provenientes de classes sociais e económicas elevadas, nem todos os meninos têm, contudo, estruturas familiares estáveis, nota a directora. Mas também a isso a escola está atenta. Tem uma equipa de cinco psicólogos para os acompanhar.

O PÚBLICO ordenou as 574 escolas onde pelo menos 15 alunos prestaram provas de Português. Num ano em que a média nacional subiu, a esmagadora maioria das escolas conseguiram uma média positiva, ou seja, acima dos 9,5 valores (542). A Associação de Professores de Português considerou em unho que a prova se tinha pautado "pelo equilíbrio e objectividade” mas não deixou de apontar aquilo que considerou serem incorrecções nos critérios de correcção de um dos grupos.

Nos primeiros 10 estabelecimentos há dois repetentes em relação ao ano passado: o Grande Colégio Universal e o Colégio Nossa Senhora do Rosário, ambos no Porto (este último ocupa o 1.º lugar no ranking geral das oito disciplinas mais concorridas).

A média mais fraca pertence ao Colégio Euroatlântico (7,92), em Matosinhos, e à Secundária de Resende (7,54), uma escola situada num contexto de tipo 1, mais desfavorecido. Ambas têm 17 alunos e em ambas os professores atribuíram notas bem mais altas do que aquelas que os alunos conseguiram no exame: a média da classificação interna foi de 14,76 valores, no primeiro caso, e de 12,53, no segundo.

A Secundária de Resende não tem apenas uma média fraca quando comparada com as do resto do país, ficam também bem aquém do que seria esperado em função do seu contexto (3,89 pontos aquém). No total, 208 escolas ficaram aquém do "valor esperado" para o seu contexto e 226 conseguiram superar-se. Para as restantes não existem dados que permitam caracterizar o que seria esperado delas.

2013
Média de exame 9,82
Média interna 13,52
2014
Média de exames 11,62
Média interna 13,44

Física e Química
A primeira pública é 20.ª no ranking geral

Nas primeiras 20 escolas do ranking desta disciplina só há uma pública e está no 20.º lugar. É a Escola Básica e Secundária da Batalha (33 alunos internos conseguem 12,45 valores de média).

A escola que melhor se sai é o Colégio de São Teotónio, em Coimbra, com 21 provas e 15,67 de média. A mensalidade desta escola é de 305 euros. Segue-se o Colégio Moderno, em Lisboa, que, com 47 alunos a exame, consegue 14,14 nesta que é uma das provas mais “difíceis” (é a que tem a pior média das oito disciplinas consideradas nos rankings do PÚBLICO), apesar de até ter melhorado do ano passado para este ano.

De resto, qualquer um os dois estabelecimentos de ensino particular e cooperativo já estava no ano passado entre os 10 primeiros a Física e Química (na verdade, oito dos 10 primeiros deste ano já estavam entre os 10 primeiros no ano passado).

Foram 560 as escolas onde se realizaram pelo menos 11 provas de Física e Química (foram estas que o PÚBLICO ordenou da melhor para a pior performance). Só 183 conseguem uma média de 9,5 valores ou mais. Ou seja, dois terços não conseguem chegar à positiva — uma situação ainda assim melhor do que a observada no ano passado quando 85% das escolas “chumbaram”.

Neste ano lectivo, as escolas com pior média são a Básica e Secundária Prof. António da Natividade, em Mesão Frio (no ano passado era 549.º em 559), e a Secundária Seomara da Costa Primo, na Amadora (era 535.ª). São duas escolas do contexto 1, o mais desfavorecido dos três definidos pelo PÚBLICO, e ambas lideram também a lista das que ficam mais aquém do que seria esperado em função do seu contexto (mais de quatro pontos). As escolas Básica e Secundária da Batalha e Secundária de Pinhel são, por seu lado, as que mais superam o "valor esperado" e conseguem 12,45 e 11,53 valores.

Como já se disse atrás, nem sempre é possível calcular qual seria o "valor esperado" para uma escola A ou B em função do seu contexto. Para aquelas onde esses dados existem, o balanço é este: 195 escolas superam e 244 ficam aquém.

2013
Média de exame 8,12
Média interna 13,3
2014
Média de exame 9,19
Média interna 13,51

Biologa e Geologia
Oito em cada dez escolas conseguem média positiva

O PÚBLICO ordenou as 570 escolas onde se realizaram pelo menos 11 exames de Biologia. Há 107 escolas (18,7%) que não conseguem chegar a uma média positiva de 9,5 valores. Mais de 8 em cada 10 (81,2%) têm um desempenho superior.

O Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, com 50 alunos internos a prestar provas, foi o que conseguiu a melhor média — 15,57. O aluno nesta escola (onde a mensalidade no secundário ronda os 500 euros) que melhor se saiu teve 19,1 e aquele a quem as coisas correram pior 9,8.

A lista ordenada mostra que nos 10 primeiros lugares não há nenhuma pública e que seis das que marcam presença são repetentes no grupo dos primeiros (há muito que têm bons resultados nesta que é uma prova importante para quem quer seguir os cursos de saúde, por exemplo).

Na altura da prova, a Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia considerou, num parecer escrito, que o teste apresentado aos alunos tinha sido melhor do que o dos dois anos anteriores. “A prova configura-se-nos bem construída e mais adequada à avaliação das aprendizagens dos conteúdos e procedimentos elencados no programa, ao nível etário de alunos de 11.º ano, assim como à literacia científica e de língua materna exigíveis neste nível de ensino”, lia-se no parecer da associação. Certo é que a média nacional melhorou bastante de um ano para o outro (de 8,45 para 11,01).

Entre as primeiras 20 escolas a Biologia, consta uma pública: a Secundária da Quinta do Marquês, em Oeiras, com 58 alunos a fazer exame e um resultado de 13,83 valores (o que faz dela, também, uma das escolas que mais supera o valor esperado, que era nesta disciplina de 11,08, ou seja, conseguiu mais 2,75). A Quinta do Marquês (que é, então, 17.ª a Biologia) é uma escola de contexto 3, o mais favorável.

A escola que mais se supera é a Básica e Secundária Dr. Manuel Pinto de Vasconcelos, em Paços de Ferreira ("valor esperado" de 10,4 valores, obteve 13,53). Este estabelecimento de ensino do contexto 1, o mais socialmente desfavorecido, tem a 24.ª melhor média.

A Escola Secundária Matias Aires, Mira-Sintra, também do contexto 1, tem a média de exame mais fraca nesta cadeira (15 alunos prestaram provas e conseguiram 6,71 de média, quando a média esperada em função do seu contexto era de 10,4).

Tendo em conta aquelas para as quais é possível caracterizar o contexto onde se inserem, há 211 que superam o valor esperado e 230 que ficam aquém.

2013
Média de exame 8,45
Média interna 13,76
2014
Média de exame 11,01
Média interna 13,75

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