CP contrata empresa de João Tocha, o homem-telemóvel, por 40 mil euros/ano
Empresa contrata serviços de consultoria de comunicação, apesar de ter um departamento próprio com oito pessoas.
A empresa pública diz que este processo decorreu em conformidade com todos os trâmites previstos para este tipo de procedimento e que “a contratação não podia ser mais adiada” porque vem “reforçar a capacidade de resposta da CP ao nível da comunicação institucional e mediática”. Fonte oficial da empresa refere que esta tem vindo a conquistar clientes e que “tem ainda espaço para continuar a crescer”, pelo que esta contratação “terá um papel fundamental na divulgação da sua actividade e posicionamento”.
O objectivo deste contrato é “o aconselhamento e planeamento estratégico de comunicação, nomeadamente mediática e institucional, e assessoria permanente nas relações com a imprensa”.
No entanto, a CP tem um Gabinete de Comunicação Institucional no qual trabalham oito pessoas e que tem assegurado esta actividade durante os últimos cinco anos, sem ter recorrido à compra ao exterior de serviços nesta área.
O contrato agora assinado resultou de uma consulta ao mercado a três empresas: a Nextpower – Comunicação Lda., a GCI – José Manuel Costa – Consultadoria e Comunicação Lda e a First Five Consulting, SA, que acabaria por vencer.
O PÚBLICO apurou que a F5C, gerida pelo conhecido empresário da comunicação, João Tocha, já tinha tentado entrar na CP durante o anterior conselho de administração, mas sem êxito. Em Outubro de 2010, perante as perguntas do sindicato dos ferroviários e do deputado do PCP, Bruno Dias, acerca da iminente contratação desta assessoria, a empresa sentiu necessidade de tornar público a todos os colaboradores que tal contrato tinha sido equacionado, mas que não se concretizou devido à “necessária contenção orçamental e redução efectiva de custos”.
Agora, a Comissão de Trabalhadores da CP também questionou a administração por este encargo de 40 mil euros anuais numa época em que os trabalhadores estão a sofrer cortes nos seus salários e perguntou por que motivo se compram ao exterior serviços que podem ser feitos pelo pessoal da casa.
Mas, ao contrário da administração anterior, presidida por José Benoliel, a actual, de Manuel Queiró, respondeu que um acto de gestão deste tipo não tem que ser explicado. “Isto está associado à questão do regulamento que saiu há pouco tempo [ver PÚBLICO de 23/09/2014 “CP cria regulamento de comunicação que proíbe trabalhadores de falarem à imprensa”]”, diz José Reisinho, da Comissão de Trabalhadores.
Em declarações ao PÚBLICO este dirigente diz que, depois de terem proibido os trabalhadores de falarem e de ter opinião, a CP trata agora de contratar alguém que venha “maquilhar aquilo que está mal na empresa”. “O que a CP precisa é de novo material circulante, porque é raro o dia em que não são suprimidos comboios, mas a administração prefere pagar para que venham esconder estes problemas”, disse.
A First Five Consulting é uma sociedade anónima criada durante o governo de José Sócrates, com quem João Tocha tinha relações privilegiadas. A empresa teve uma ascensão rápida na organização de eventos públicos do governo socialista, mas sobrevive, naturalmente, no seio do bloco central.
Entre os clientes aos quais prestou serviços de consultoria encontram-se Luís Filipe Menezes (PSD), Carlos César (PS), Fernando Gomes (PS), a Associação Municipal de Municípios (presidida por Fernando Ruas, do PSD e depois por Manuel Machado, do PS) e a Liga de Clubes. Isto dito pelo próprio João Tocha na sua página do Facebook, respondendo a acusações de António Costa a propósito de uma recente polémica que colocava este empresário da comunicação como prestador de serviços de Costa e de Seguro.
Conhecido como o homem-telemóvel (ver PÚBLICO de 23/11/2008), João Tocha é conhecido por gostar de grandes carros, estar sempre ao telemóvel e ter contactos com gente influente. Em 2004, o próprio dizia ser consultor do Presidente Eduardo dos Santos e de “forças políticas em África”.