Sonda já está a caminho de Marte para descobrir como um planeta azul ficou vermelho

A Maven irá demorar dez meses até chegar ao destino e leva instrumentos para estudar a fina atmosfera marciana. A NASA quer descobrir os fenómenos que determinaram o fim da existência de água no planeta.

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O foguetão que transporta a sonda Maven foi lançado a partir da Florida Joe Skipper/Reuters
Uma ilustração artística da sonda Maven em órbita de Marte
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Uma ilustração artística da sonda Maven em órbita de Marte NASA
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AFP/NASA/Bill Ingalls
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Em tempos, correu água na superfície de Marte. Uma animação virtual que a NASA publicou na semana passada mostrava um mundo com mares, mais parecido com a Terra do que o planeta vermelho que conhecemos hoje. Durante décadas, as ciências planetárias foram acumulando provas de que houve água em Marte. Para isso, teria de ter uma atmosfera mais densa. Permanece a dúvida sobre essa atmosfera, para onde foi? A sonda Maven, que foi lançada nesta segunda-feira da base espacial em Cabo Canaveral, às 18h28 (hora de Lisboa), na Florida, Estados Unidos, vai tentar descobrir o mistério.

A Maven, cujo nome completo é Mars Atmosphere and Volatile Evolution – ou seja, uma sonda que vai estudar a atmosfera marciana e a evolução dos seus gases voláteis –, viajará durante dez meses. A data prevista de chegada é a 22 de Setembro de 2014. A sonda, que pesa 2,45 toneladas, foi lançada num foguetão Atlas V, numa altura em que as órbitas entre os dois planetas são as melhores para uma viagem destas.

A missão inicial da agência espacial norte-americana está pensada para um ano terrestre. Durante esse período, a sonda vai fazer órbitas elípticas à volta de Marte, a distâncias entre os 150 e os 6000 quilómetros. Com os seus oito instrumentos, o aparelho poderá medir não só as componentes das camadas mais altas da atmosfera, mas também os efeitos que o vento solar tem na destruição dos átomos que a compõem. É que a culpa da perda da atmosfera de Marte pode ser do Sol.

Os sulcos na topografia de Marte, as marcas de deltas de rios na sua superfície descobertos há mais tempo ou as pedras arredondadas fotografadas pelo robô Curiosity – que a NASA tem a passear por Marte desde Agosto de 2012 – são testemunhos de que houve água no planeta. Isso terá acontecido há milhares de milhões de anos, quando a atmosfera era muito mais densa.

Hoje, ainda que pequena, é maioritariamente constituída por dióxido de carbono, e tem apenas 0,3% da densidade da atmosfera terrestre. As consequências de ser tão rarefeita são directas: se um astronauta chegasse a Marte, com uma temperatura ambiente média de 63 graus negativos Celsius, e despejasse uma garrafa de água, esta não iria congelar, evaporar-se-ia. Ou seja, à pressão atmosférica actual, crónicas marcianas sobre mergulhos no mar seriam fantasia.

Uma das teses mais importantes para o desaparecimento desta atmosfera consiste nas consequências do vento solar, constituído por um plasma de partículas protões e electrões, que o Sol lança continuamente em todas as direcções. Os cientistas pensam que, durante éones, estas partículas, ao atingir Marte, foram erodindo a sua atmosfera, atirando as moléculas da atmosfera para os confins do espaço.


Um planeta sem campo magnético
Na Terra, o campo magnético que envolve o nosso planeta evita aquele fenómeno, mas Marte perdeu a sua magnetosfera há cerca de 4000 milhões de anos, quando a vida ainda nem sequer tinha aparecido por cá. Com isso, o planeta vermelho ficou sem capacidade de deflectir o vento solar. Restam hoje pedaços de magnetosfera nalgumas zonas do planeta, que serão também analisados pela sonda Maven, mas que não evitam os efeitos globais do vento solar.

Outra hipótese provável, que explicará o desaparecimento de apenas uma fracção do dióxido de carbono atmosférico, é este ter sido integrado nos minerais de Marte.

A sonda vai medir a rapidez com que diferentes moléculas na atmosfera marciana estão a ser ejectadas pelo vento solar para, desta forma, inferir como é que este fenómeno foi acontecendo ao longo do tempo. Mas, primeiro, tem de chegar ao destino. A nave, que custou 496 milhões de euros, vai ser alimentada graças a painéis solares. Ainda neste mês, a 5 de Novembro, a Índia lançou uma sonda em direcção ao planeta vermelho que custou apenas 55 milhões de euros, mas que não tem objectivos ambiciosos a nível científico.

A NASA espera que a Maven continue a trabalhar, depois do primeiro ano de missão. No futuro próximo, é possível que a sonda seja a responsável por emitir os dados para a Terra transmitidos pelo Curiosity e ainda pelo Opportunity, outro robô da NASA na superfície marciana desde 2004.
 
 
 
 

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