Abrandamento económico não impede queda forte do desemprego em 2018

Banco de Portugal diz que sem mais produtividade, os salários vão continuar contidos, a economia abrandará e a convergência com a zona euro ficará adiada. Mas a taxa de desemprego pode cair para os 7,3% este ano e chegar aos 5,6% até 2020.

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Carlos Costa antecipa abrandamento na economia Enric Vives-Rubio

Depois do crescimento de 2,7% em 2017, a economia portuguesa vai entrar este ano numa fase de progressivo abrandamento, mas isso não impede que a taxa de desemprego caia em 2018 a um ritmo ainda mais rápido do que no ano passado, registando o nível mais baixo desde 2004 já este ano e caminhando para apenas 5,6% em 2020, prevê o Banco de Portugal.

Nas novas projecções económicas publicadas esta quarta-feira, a autoridade monetária manteve totalmente inalteradas as suas estimativas para o crescimento da economia portuguesa no período de 2018 a 2020. Tal como já o tinha feito em Dezembro, antecipa que a economia tenha atingido o máximo da sua velocidade no ano passado e que agora entre numa fase de abrandamento progressivo. Este ano com um crescimento de 2,3%, em 2019 com 1,9% e em 2020 com 1,7%.

São resultados que estão em linha com aquilo que é esperado pelo BCE para a média da zona euro, o que significa que o Banco de Portugal não acredita que economia nacional consiga, ao contrário do que aconteceu no ano passado, registar uma convergência significativa face aos seus parceiros da moeda única nos próximos três anos.

Para o fazer, volta o banco a avisar neste relatório, seria preciso que Portugal conseguisse garantir, por via de mudanças estruturais, um maior crescimento da produtividade. Mas, não acontecendo isso, aquilo a que se irá assistir é, prevê a entidade liderada por Carlos Costa, a um abrandamento progressivo de todas as componentes do PIB para o ritmo possível, depois da velocidade muito significativa que atingiram em 2017.

É assim especialmente com as exportações e o investimento, que constituíram em 2017 as grandes surpresas que levaram o Banco de Portugal a falhar a sua estimativa feita há um ano em 0,9 pontos percentuais (tinha previsto um crescimento de 1,8% e ele foi de 2,7%).

Agora, no caso das exportações, espera-se que depois do crescimento de 7,9% em 2017, se passe para 7,2% em 2018, para 4,8% em 2019 e 4,2% em 2020. Este abrandamento é explicado por dois factores: por um lado assume-se que a procura externa dirigida à economia portuguesa também irá reduzir o seu ritmo nos próximos anos e por outro antecipa-se que o crescimento muito forte das receitas do turismo (classificadas como exportações de serviços) registado no decorrer de 2017 tenda a reduzir-se ao longo dos próximos anos.

Para além disso, assinala o Banco de Portugal, o ciclo de produção da Autoeuropa aponta também para que se registe uma quebra na exportação de automóveis a partir de 2019. “Os menores ganhos de quota de Portugal nos mercados externos reflectem essencialmente a dissipação gradual do impacto do aumento da produção e das exportações de uma importante unidade industrial do sector automóvel no final de 2017 e início de 2018 e do crescimento extraordinário das exportações de turismo e de serviços relacionados com o turismo em 2017”, escreve o banco.

No caso do investimento, o Banco de Portugal está à espera que, a seguir ao crescimento de 9% do ano passado, se passe para taxas, que embora positivas, serão mais moderadas de 6,5%, 5,6% e 5,4% em 2018, 2019 e 2020. “Antecipa-se uma redução de dinamismo entre 2017 e 2020, num quadro de desaceleração da procura interna e externa”, explica-se no relatório. O abrandamento será particularmente sentido ao nível do investimento empresarial, que continua afectado pelo elevado nível de endividamento das empresas.

Este cenário em que as taxas de crescimento se tornam progressivamente menos fortes não conduz contudo a que o Banco de Portugal seja mais moderado na hora de projectar a trajectória descendente da taxa de desemprego. Pelo contrário, em relação às previsões apresentadas em Dezembro, o banco está agora mais optimista e aponta para uma queda da taxa de desemprego de 8,9% em 2017 para 7,3% em 2018. São menos 1,6 pontos percentuais, um resultado que, não só supera os 1,1 pontos que eram esperados em Dezembro, como é mais forte do que o registado em 2017, o ano de maior crescimento económico.

Depois dos 7,3% de 2018, que a concretizar-se será o valor mais baixo desde 2004, a expectativa é a de que em 2019 a taxa de desemprego diminua para 6,3% e que em 2020 atinja os 5,6%, o valor mais baixo desde 2002.

Estas descidas das taxas de desemprego acontecem num cenário em que o crescimento da criação de empregos abranda, incluindo em 2018, o que significa que o Banco de Portugal está à espera que se processe uma alteração do perfil da população activa e inactiva.

Com o desemprego a chegar aos níveis anteriores à crise, poder-se-ia pensar que a maior escassez de mão-de-obra conduziria a aumentos salariais mais fortes. No entanto, num cenário de aumento muito moderado da inflação, o Banco de Portugal diz que, uma vez que “a projecção tem implícito um crescimento fraco do produto por trabalhador”, continuar-se-á a assistir a “um aumento contido dos salários reais”. Mais uma vez, apenas com maiores aumentos da produtividade se considera ser possível que os portugueses tenham melhores notícias relativamente à sua situação financeira.

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