Um filme está a deixar Marine Le Pen com os nervos em franja

Chez Nous relata a ascensão de um partido de extrema-direita no Norte de França. "É escandaloso" que estreie a poucos meses das presidenciais, dizem os líderes da Frente Nacional.

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O percurso de Marine Le Pen é decalcado no filme Chez Nous CHARLES PLATIAU/REUTERS

Um filme que relata a ascensão de um partido populista na antiga bacia mineira do Norte de França, com uma líder loura, e que vai estrear a 22 de Fevereiro, está a deixar a Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen em polvorosa. É que a história é muito semelhante à forma de como a líder de extrema-direita conquistou o seu feudo eleitoral naquela região, cativando territórios que historicamente eram zonas eleitorais dos partidos comunista e socialista.

O deputado da FN Gilbert Collard não hesitou em dizer que o seu partido estava a ser vítima de algo semelhante à destruição operada pela propaganda nazi contra os judeus. Em causa está o filme Chez Nous, do qual foi tornado público apenas um trailer – a longa-metragem ainda está em fase de montagem. “Émulos de Goebbels, os produtores do sistema fizeram Chez Nous à nossa custa, filme de propaganda anti-FN”, declarou.

Só alguns críticos de cinema viram a versão quase final do mais recente filme do realizador Lucas Belvaux – e nenhum membro da direcção da FN. Sabe-se, no entanto, que decorre numa pequena cidade ficcional do Norte de França, chamada Hénard – mas que é muito parecida com Hénin-Beaumont, que tem como presidente da câmara Steeve Briois, que fez deste local o ponto avançado dos frontistas no Norte do país. As filmagens, aliás, decorreram nesta região, relata o jornal Voix du Nord.

No filme, o partido de extrema-direita é liderado por uma mulher loura – o que remete para Marine Le Pen. E o título remete directamente para a palavra de ordem anti-imigração da FN: “On est chez nous" (estamos em nossa casa).

A história gira em torno de uma enfermeira, oriunda de uma família comunista, que é convencida a candidatar-se nas listas do Bloco Patriótico (que faz de Frente Nacional), mesmo sem partilhar de todo o seu ideário. É uma história comum no Norte de França e também na FN.

O recrutamento de candidatos para as listas eleitorais, sobretudo nas eleições locais, foi um grande desafio para a formação de Marine Le Pen, depois de ter assumido a liderança, que durante décadas foi do pai, Jean-Marie. A falta de quadros qualificados e de militantes foi sempre um problema para um partido que funcionava numa lógica de pequeno grupo, quando quis ganhar uma dimensão nacional.

Florian Philippot, vice-presidente da FN, considerou “escandaloso e inadmissível” que um filme como o de Lucas Belvaux possa chegar às salas de cinema dois meses antes das presidenciais, que têm a primeira volta marcada para 23 de Abril. A indignação dos dirigentes da FN foi reproduzida nas redes sociais pelos militantes, multiplicando-se em inúmeras vozes, desde o que o trailer foi divulgado, a 31 de Dezembro.

O realizador diz ter ficado surpreendido com a violência das reacções que desencadeou. “Quis sobretudo suscitar a discussão”, disse o realizador, citado pelo Le Monde. “Philippot só viu o trailer, portanto isto é uma polémica vazia. Não se está a debater a mensagem do filme”, afirmou Belvaux.

“Este não é um filme militante. É empenhado, mas não é propriamente anti-Frente Nacional. É mais sobre os populistas e sobre a forma como as pessoas se relacionam com a política. O que me interessa são os eleitores, não os partidos”, disse o realizador na televisão BFM.

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