Estados Unidos isolados ficam de fora das negociações

Washington procura contrariar a narrativa da marginalização e perda de importância na região.

No meio das incertezas que ainda rodeiam o cessar-fogo na Síria anunciado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, houve um facto que não deixou qualquer dúvida: a Administração norte-americana foi ostensivamente deixada à margem das negociações para o acordo. Este foi o primeiro documento deste tipo a ser fechado sem a participação e a assinatura dos Estados Unidos, que também estão fora das conversações convocadas para Astana para encontrar uma solução definitiva que ponha termo à guerra civil.

Para a grande maioria dos analistas, este último desenvolvimento – apenas mais uma reviravolta no longo conflito sírio? – é prova de que existe uma nova dinâmica política no Médio Oriente, onde os Estados Unidos e a Arábia Saudita estão em clara perda de importância e influência, e Moscovo, Teerão e Ancara cada vez mais se afirmam como protagonistas capazes de forjar pactos difíceis. Não por acaso, foram estes três actores que acertaram entre si a trégua que permitiu a evacuação do Leste de Alepo, há uma semana – nessa altura, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, elogiou as virtudes do novo modelo diplomático, descrevendo a troika Rússia-Turquia-Irão como o fórum mais eficaz para responder à crise síria.

Desde então, a Administração Obama tem tentado contrariar a narrativa do seu “isolamento”, “irrelevância”, “marginalização” e “exclusão” do palco internacional onde se discute a Síria (e todas as suas ramificações). Washington, que era o apoiante e porta-voz da oposição moderada a Assad nas anteriores rondas negociais, foi vendo a sua preponderância diminuir à medida que os rebeldes foram sendo derrotados pelo Exército sírio, apoiado pela aviação russa e as milícias xiitas.

A política do Presidente Barack Obama para a Síria – principalmente a sua inacção – continua a motivar ferozes ataques dos seus adversários políticos. Obama já reflectiu publicamente, em longas entrevistas, sobre os motivos que justificaram as suas decisões: quando, ao contrário do que prometera ao anunciar uma “linha vermelha”, optou por não responder ao uso de armas químicas pelo regime de Assad; quando recusou envolver militares americanos em operações no terreno, ao lado dos grupos de oposição; quando descreveu o Presidente sírio como um “obstáculo intransponível” que impedia qualquer solução para a crise.

O Presidente eleito, Donald Trump, prometeu (naturalmente) fazer tudo aquilo que Obama não fez na Síria. Já foi “convidado” por Vladimir Putin para integrar a solução que vier a sair das conversações no Cazaquistão, no final de Janeiro.

 

 

 

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