Zika: 1,6 milhões de grávidas podem ser infectadas pelo vírus

Novas estimativas referem que há 93 milhões de pessoas em risco de infecção pelo vírus Zika nos próximos dois a três anos. O foco mais preocupante é o Brasil. E em Espanha nasceu o primeiro bebé com microcefalia.

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Somaram milhares de projecções em locais precisos para cada cinco quilómetros quadrados na América Central e do Sul. No total, o estudo dos investigadores dos EUA e do Reino Unido, publicado na última edição da revista Nature Microbiology, aponta para que existam 93 milhões de pessoas, incluindo 1,6 milhões de grávidas, em risco de ser infectadas pelo vírus do Zika nos próximos dois a três anos. No mapa sobre o futuro desta primeira onda da epidemia, os cientistas assinalam o Brasil como o país que deverá registar mais infecções neste período.

A equipa de investigadores envolveu especialistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, e da Universidade de Notre Dame e Oxford, no Reino Unido. Apesar de se tratarem de estimativas, os autores do estudo acreditem que este tipo de trabalho é um contributo importante para perceber a dimensão da epidemia do Zika e para fornecer indicações sobre a sua possível magnitude de forma a tomarem-se medidas de vigilância e prevenção. “É difícil prever com exactidão quantas mulheres grávidas estarão em risco de ser infectadas quando sabemos que uma grande proporção de casos não apresenta qualquer sintoma. Isto, só por isso, invalida os métodos baseados no registo de casos e apresenta um desafio incrível aos cientistas que querem perceber o impacto provável da doença nas populações”, reconhece Andrew Tatem, geógrafo na Universidade de Southampton. 

Aos casos assintomáticos, que serão cerca de 80% das infecções do vírus Zika, juntam-se ainda as diferenças e inconsistências no registo de casos nos vários locais afectados pela epidemia e o desigual acesso aos cuidados de saúde. Tudo isso prejudica o rigor de uma estimativa. Porém, os investigadores referem que este estudo consegue construir uma imagem da disseminação provável da doença analisando o seu impacto num nível muito localizado, a uma escala de cinco quilómetros quadrados.

O comunicado de imprensa da Universidade de Southampton refere que o estudo teve em conta os padrões de infecção revelados em epidemias semelhantes e também a forma como este vírus se transmite (sobretudo através das picada de mosquitos), as condições meteorológicas e os períodos de incubação do Zika. Além de todos estes factores, a equipa ainda usou os dados existentes sobre a população, fertilidades, gravidezes, partos e condições sócio-económicas das várias regiões para conseguir fazer as estimativas e prever os locais mais afectados pela epidemia.

As estimativas representam o pior dos cenários, nota Alex Perkins, professor na Universidade de Notre Dame e principal autor do estudo. São projecções que não incluem os locais em que, por uma questão do acaso ou por serem remotos e pouco habitados, não vão ser atingidos pelo vírus. “O vírus não vai chegar a todos os cantos do continente.” Porém, apesar de reconhecer todas as incertezas que fazem parte de uma estimativas, Alex Perkins conclui que “mesmo após vários meses de intensa investigação e análise desta epidemia, a nossa projecção deve fazer parte da informação que os decisores têm para se orientar neste momento”.

Primeiro bebé com microcefalia em Espanha

Tal como a febre de dengue, também o Zika é transmitido aos humanos pela picada de mosquitos do género Aedes. Por isso, é necessário haver uma população de mosquitos para que o vírus se instale numa nova região. Foi assim que nos últimos tempos o Zika se espalhou na América do Sul e na América Central, afectando em todo o mundo 60 países, 46 dos quais nunca tinham tido surtos de Zika antes de 2015. Cabo Verde também foi um dos países apanhados pela epidemia, vinda das Américas.

Na maior parte dos casos, o Zika produz apenas borbulhas, uma febre passageira, podendo até passar despercebido. Nalguns adultos, pode provocar a síndrome de Guillain-Barré, em que o sistema imunitário ataca o sistema nervoso periférico, afectando o controlo do movimento dos músculos.

Mas a doença é particularmente perigosa nas grávidas porque, tal como o vírus da rubéola, pode afectar o desenvolvimento do feto. Mais precisamente, provoca microcefalia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), já há 1581 casos de bebés no Brasil com microcefalia ou outros problemas no sistema nervoso associados à presença do vírus nas mães. Cabo Verde já registou seis casos de microcefalia associados ao Zika, a Polinésia Francesa oito e a Europa já importou três casos, dois em Espanha e um na Eslovénia, avança a OMS.

Esta segunda-feira, o jornal El País niticiou o nascimento do primeiro bebé com microcefalia associada ao Zika em Barcelona (Espanha). Será, refere o artigo, o primeiro caso registado na Europa e o recém-nascido é filho de uma mulher que foi infectada por Zika e dengue numa viagem à América Latina.

De acordo com o relatório da OMS de 14 de Julho, 62 países já registaram a transmissão continuada do vírus desde 2015 (65 desde 2007) e 11 países reportaram a transmissão de Zika de indivíduo para indivíduo, provavelmente por via sexual. Portugal tem um plano nacional contra o Zika para reduzir o risco de epidemia. A 13 de Julho 13 países, em todo o mundo, tinham reportado casos de microcefalia ou outras malformações do sistema nervoso central potencialmente associadas à infecção pelo vírus do Zika. As autoridades de saúde norte-americanas registaram até 13 de Julho sete recém-nascidos com defeitos de nascença e cinco gravidezes interrompidas de fetos com problemas que, após análises laboratoriais, foram associados à infecção pelo Zika. 

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