Cabo Verde registou o primeiro caso de microcefalia

Surto do vírus Zika começou no arquipélago cabo-verdiano em Outubro de 2015 e, até agora, mais de 7400 pessoas foram infectadas.

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Mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus Zika LUIS ROBAYO/AFP

Em Cabo Verde, foi registado o primeiro caso de microcefalia que se pensa poder estar ligado à infecção pelo vírus Zika, o que, a confirmar-se, será o primeiro caso no continente africano deste problema neurológico em que os bebés nascem com um volume cerebral reduzido.

A ministra da Saúde cabo-verdiana, Cristina Fontes, disse que o bebé nasceu no principal hospital da cidade da Praia, a capital, a 14 de Março e que a mãe não estava entre as mais de 100 mulheres que estão a ser monitorizadas devido à infecção por este vírus transmitido por mosquitos. “Estamos a recolher amostras [biológicas] da mãe [e da criança], para as enviar para o Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, para análises”, disse Cristina Fontes, citada pela agência Reuters. “Há um caso de microcefalia e nós queremos investigar para ver se existe alguma ligação [à infecção pelo vírus Zika]”, acrescentou a ministra.

O director nacional de Saúde cabo-verdiano, Tomás Valdez, referiu também em conferência de imprensa na terça-feira, citado pelo jornal Expresso das Ilhas, que a mãe terá tido, durante a gestação, sintomas de infecção, mas não se deslocou ao hospital: “Durante o curso da doença, a senhora não procurou os serviços de saúde e durante o pré-natal não fez referência ao quadro clínico referido.”

Mais de 7400 casos de infecção pelo vírus Zika foram registados desde o início da epidemia no arquipélago, em Outubro de 2015. As chuvas mais abundantes do que o normal no Verão passado originaram um aumento do número de mosquitos. O Zika transmite-se aos seres humanos pela picada dos mosquitos da espécie Aedes aegypti, que vive nos trópicos, e da espécie Aedes albopictus, natural do Sudeste asiático, mas que está disseminado por regiões como o Sul da Europa.

O jornal cabo-verdiano A Semana adianta, por sua vez, que os casos notificados de infecção pelo vírus Zika se concentram sobretudo na ilha de Santiago e no município de São Filipe, na ilha do Fogo. Especifica ainda que tinham sido registadas 165 grávidas com suspeitas de infecção pelo vírus Zika e que, até agora, houve partos de 44 grávidas desse grupo. Nenhuma dessas crianças, ainda segundo A Semana, tem uma situação clínica compatível com microcefalia.

O Brasil, onde o vírus Zika chegou em Maio do ano passado, tem registado um aumento do número de recém-nascidos com deficiências, incluindo uma cabeça anormalmente pequena. Esta redução do volume cerebral origina problemas cognitivas, na fala e no comportamento. Há 745 casos de microcefalia “potencialmente associados à infecção do vírus Zika” no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Identificado em 1947, na floresta de Zika, no Uganda, este vírus só ficou globalmente conhecido em 2015, quando atingiu a América do Sul. Mas nas últimas décadas esteve a viajar de África em direcção a leste, até que recentemente atravessou o Pacífico e chegou, em 2007, à Micronésia, em 2013 à Polinésia Francesa e em 2014 à ilha da Páscoa, no Chile.

Em Fevereiro desde ano, a OMS declarou que o vírus Zika é uma emergência internacional de saúde pública. Geralmente, a infecção pode causar sintomas ligeiros, que duram entre dois a sete dias, como febre, conjuntivite, dores nos músculos e nas articulações, mal-estar e dor de cabeça. Mas as provas da relação entre a infecção e a microcefalia têm vindo a acumular-se.

Na última terça-feira, a revista médica The Lancet publicou um estudo, de uma equipa do Instituto Pasteur de Paris, em que se associa a infecção pelo Zika no primeiro trimestre de gravidez à microcefalia. Esta equipa analisou o surto do vírus Zika na Polinésia Francesa, ocorrido entre Outubro de 2013 e Abril de 2014, concluindo que a melhor explicação para a origem de oito casos de microcefalia que apareceram naquela altura é a infecção pelo Zika nos primeiros três meses de gravidez.

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