PSOE, Cidadãos e Podemos sentam-se pela primeira vez à mesma mesa

Partido de Albert Rivera diz que pode aceitar entrar num governo liderado por Pedro Sánchez. Jornal ABC revela que regime chavista financiou fundação que deu origem ao Podemos.

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Albert Rivera (Cidadãos), Pedro Sanchez (PSOE) e Pablo Iglesias (Podemos) discutem um eventual governol espanhol nesta quinta-feira AFP

As negociações para a formação do futuro governo em Espanha parecem longe de chegar ao fim, mas, pela primeira vez desde as eleições de 20 de Dezembro, PSOE, Podemos e Cidadãos vão reunir-se para tentarem chegar a um acordo. A reunião tripartida para desbloquear as negociações está marcada para quinta-feira.

O actual impasse está nos objectivos contraditórios entre os três partidos. Para o PSOE e para o Cidadãos, que estão unidos por um acordo de governo, aprovado em referendo pelos militantes socialistas, o cenário ideal seria a abstenção do Podemos, de forma a conseguirem a investidura de Pedro Sánchez. Por seu turno, Pablo Iglesias quer que o PSOE descarte o Cidadãos da equação governativa, ambicionando um governo que integre o seu partido, os socialistas, a Esquerda Unida (IU) e o Compromis (aliança de esquerda de Valência). O líder do Podemos chegou mesmo a desistir de uma das suas principais exigências, a de assumir a vice-presidência do futuro governo, mas não está disponível para aceitar uma solução em que o seu partido e as restantes formações de esquerda fiquem de fora.

Para complicar ainda mais as negociações, o Cidadãos reafirma que quer entrar num hipotético governo liderado pelo PSOE, por considerar que uma solução governativa de apenas um partido não é suficientemente forte. “Um governo só do PSOE seria demasiado débil para levar a cabo um programa de reformas. É necessário o compromisso dos dois signatários”, afirmou Juan Carlos Girauta, porta-voz do partido no Congresso, citado pelo El País. “A ideia é que o governo para o qual pedimos apoio seja constituído por membros do PSOE e do Cidadãos”, acrescentou.

Anteriormente, o partido de Albert Rivera não tinha descartado a possibilidade de fazer parte de um governo do PSOE ou do PP, mas depois assumiu que o faria caso estivesse em causa um governo que fosse verdadeiramente reformista. Até ao momento, parecia apostar numa solução em que apoiaria um executivo liderado por Pedro Sánchez, que contaria com a abstenção do Podemos. Ao rectificar a sua intenção, o Cidadãos assume uma nova posição para as negociações, consciente de que o cenário mais provável é que as suas pretensões esbarrem no partido de Pablo Iglesias.

É neste complexo braço-de-ferro que vai decorrer a primeira reunião, na qual negociadores dos três partidos estarão sentados à mesma mesa. A possibilidade de sair deste encontro uma solução para o futuro governo espanhol é, no entanto, remota. Contudo, os partidos jogam também com o calendário, estando cientes de que o prazo para a formação do novo governo aperta cada vez mais: se não existir um acordo até dia 2 de Maio, terão que ser realizadas novas eleições.   

Os partidos sabem que, a realizaram-se novas eleições em Junho, serão recompensados aqueles que demonstrarem maior capacidade para estabelecer alianças e para assegurar uma solução governativa. Sabem também que os eleitores poderão punir aqueles que sejam responsabilizados por precipitarem eleições antecipadas.

Polémica na formação do Podemos

E no momento em que se aproxima o prazo para se tomarem decisões em Espanha, mais uma polémica atinge o partido de Pablo Iglesias.

O jornal ABC noticia que o Governo venezuelano, quando era liderado por Hugo Chávez, financiou com mais de sete milhões de euros o Centro de Estudos Políticos e Sociais (CEPS), fundação que daria origem ao Podemos. Segundo este jornal espanhol, que cita um documento assinado pelo ministro das Finanças venezuelano da altura, Rafael Isea, e pelo próprio Chávez, o objectivo destas doações seria “propiciar mudanças políticas em Espanha alinhadas com o regime bolivariano”.  

O valor de sete milhões de euros, doados entre 2003 e 2011, é muito superior ao que já tinha sido divulgado pela própria CEPS, que admitiu ter recebido perto de quatro milhões de euros do então Governo venezuelano. Esta fundação terá trabalhado em conformidade com o regime chavista até 2012, altura em que Pablo Iglesias estava a formar o Podemos, registado oficialmente em Janeiro de 2014.

Na CEPS trabalharam várias figuras importantes do Podemos. Para além do seu líder, Pablo Iglesias, também o seu número dois Íñigo Errejón, a deputada Carolina Bescansa e o antigo número três da formação, Juan Carlos Monedero, fizeram parte da fundação do partido.

O documento divulgado pelo ABC será agora investigado pela Polícia Nacional espanhola, que já estava anteriormente a investigar o alegado financiamento ilegal do Podemos, uma vez que, segunda a lei espanhola, é ilegal um partido político ser financiado por um regime externo.

Texto editado por Cláudia Lima Carvalho

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