Em 2015, naquele que voltou a ser um ano recorde para o turismo, as compras feitas com cartões bancários estrangeiros dispararam 20% em relação a 2014, o que significou mais 498 milhões de euros gastos em hotéis, restaurantes, lojas e outros serviços em Portugal, a que se somam ainda os pagamentos em dinheiro. Ao todo, as compras com cartão chegaram aos 2944 milhões de euros – é o valor mais elevado desde o início da moeda única.

Também os levantamentos de dinheiro em caixas automáticas com cartões estrangeiros aumentaram em 2015, indicam dados do Banco de Portugal. No entanto, a diferença face a 2014 é menor: a subida foi de 3%, o que significou um acréscimo 58 milhões de euros. E, neste caso, parte do dinheiro pode não ter sido gasto na economia portuguesa. Feitas as contas, entre compras e levantamentos, as operações em Portugal totalizaram 4929 milhões de euros entre Janeiro e Dezembro.

O crescimento destas operações na rede Multibanco acompanha uma subida no turismo, cujos números têm estado a subir sucessivamente nos anos recentes, ao longo dos quais sobretudo o Porto e Lisboa aumentaram a vocação turística e passaram a ter maior atenção por parte da imprensa estrangeira e dos guias de viagens. A vinda de turistas foi também impulsionada pela oferta das companhias aéreas low cost, bem como por uma percepção de preços baixos (fruto da crise financeira) e de maior segurança por comparação com destinos turísticos como a Turquia e o Egipto.

Segundo números do Instituto Nacional de Estatística, os estabelecimentos hoteleiros registaram 34,4 milhões de dormidas de residentes no estrangeiro em 2015, que se traduzem num aumento anual de 7%. São dados que não contabilizam os cada vez mais populares alojamentos privados, em que casas e quartos são arrendados temporariamente através de agências especializadas ou de sites como o Airbnb. Esta plataforma, que põe proprietários e turistas em contacto, duplicou o número de hóspedes no ano passado: um milhão de pessoas viajaram até Portugal e ficaram alojadas em apartamentos disponíveis neste sistema. O número de casas para arrendar no Airbnb também cresceu 65%, isto mais de um ano depois da entrada em vigor da nova lei para o alojamento local.

Os principais turistas estrangeiros a visitar Portugal vêm do Reino Unido. Em 2015, as dormidas destes turistas cresceram 9%, para mais de oito milhões (o valor mais elevado desde 2005). Seguem-se os alemães, com aumentos de 11% nas dormidas no ano passado e os espanhóis, com uma subida superior a 3%.

Os turistas chineses são os visitantes não europeus que, em média, mais dinheiro gastam quando visitam Portugal. A Global Blue, empresa que gere operações de tax free (reembolso de IVA), adiantou recentemente que, em 2015, desembolsaram, em média, 641 euros em compras e são já a terceira nacionalidade mais importante no que toca ao turismo de compras, logo atrás de Angola (que representa 43% do total de reembolsos de IVA) e do Brasil (16%). O número global de transacções cresceu 73% e o valor total despendido 18%. Uma das surpresas foi a entrada dos Estados Unidos e de Moçambique na lista dos cinco mercados mais importantes, e a saída da Rússia, até agora um actor importante no turismo de compras, sobretudo de luxo.

Os dados do Banco de Portugal sobre o pagamento com cartões estrangeiros mostram que os meses de Verão foram, como seria de esperar, aqueles em que os cartões bancários estrangeiros mais vezes saíram das carteiras: Julho, Agosto e Setembro representaram em 2015, em termos de valor, 40% de todas as operações.

Já os primeiros meses de 2016 mostram uma quebra, tanto nas compras, como nos levantamentos, sendo a primeira vez esta década que um ano arranca com um recuo no valor total deste género de operações.

Em Janeiro e Fevereiro foram levantados 204 milhões de euros em dinheiro com cartões bancários estrangeiros, menos 22 milhões (ou 10%) do que nos mesmos dois meses do ano passado. A tendência é menos acentuada no caso das compras: estas transacções totalizaram 285 milhões de euros, o que significou uma descida de 11 milhões, correspondente a uma queda de 4%.

É preciso recuar sete anos para se encontrar um arranque do ano marcado por uma descida na utilização de cartões estrangeiros. Em 2009, numa altura em que estes valores eram significativamente mais modestos, as compras tinham recuado 19%, ao passo que os levantamentos tinham descido 4%. Estes dois tipos de operações somaram naqueles dois meses 241 milhões de euros, menos de metade do valor deste ano.

A quebra acontece apesar de um início de 2016 positivo no que diz respeito ao número de turistas. Os estabelecimentos hoteleiros registaram 1,4 milhões de dormidas por pessoas residentes no estrangeiro, o que significa um crescimento de 10% face ao mesmo mês do ano passado.