Só Bush atacou Trump no debate em que republicanos juraram destruir jihadistas

No último debate do ano, quase não houve referência à polémica proposta do milionário para banir muçulmanos dos EUA. Candidatos quiseram mostrar que são mais duros do que os adversários na luta contra terrorismo.

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Ao contrário de Bush, Cruz evitou ataques directos ao líder das sondagens Robyn Beck/AFP

No último debate do ano, os candidatos à nomeação pelo Partido Republicano às presidenciais norte-americanas quiseram arrebatar o troféu do discurso mais duro contra o terrorismo, prometendo usar todo o poderio militar dos EUA para vergar o Estado Islâmico. Donald Trump, que alimenta a sua candidatura de polémicas, foi poupado pela maioria dos adversários, mais interessados em apresentar-se como a alternativa credível ao desbragado milionário, sem contudo o hostilizar.

No debate em Las Vegas, cidade celebrizada pelos seus casinos e combates de boxe, o saco de pancada escolhido por todos foi o Presidente Barack Obama, acusado de ter uma política externa fraca, de ser demasiado brando com o terrorismo e demasiado preocupado com o politicamente correcto. “A América está em guerra”, disse o senador Ted Cruz, a quem as sondagens dão vantagem na eleição do Iowa (o primeiro dos 50 estados a votar nas primárias, a 1 de Fevereiro), e que terça-feira defendeu o bombardeamento maciço das áreas sob controlo dos jihadistas na Síria e no Iraque. “A nossa liberdade foi atacada”, insistiu Jeb Bush, filho e irmão de dois Presidentes que lançaram guerras no Médio Oriente, enquanto o senador da Flórida Marco Rubio assumiu a posição mais intervencionista, defendendo o envio de soldados americanos para combater os jihadistas e uma nova subida nas despesas militares.

O embate, o quinto desde o início da campanha, foi o primeiro entre os candidatos republicanos após os atentados de Paris, a 13 de Novembro, e o ataque que matou 14 pessoas em San Bernardino, na Califórnia, protagonizado por um norte-americano de origem paquistanesa e pela mulher, recém-chegada ao país. Mas num sinal de que, na esteira de Trump, as posições extremadas continuam a fazer caminho entre os republicanos, os adversários evitaram trazer para o debate a tempestade mediática causada pela sua proposta de barrar a entrada no Estados Unidos a todos os muçulmanos.

“Eu compreendo por que é que Donald fez esta proposta”, disse Cruz, senador pelo Texas e favorito do movimento conservador Tea Party, dizendo que os EUA não conseguiram travar novos ataques terroristas “se ficarem presos ao politicamente correcto”. Uma deixa que outros usaram para recusar, uma vez mais, os planos de Obama para acolher dez mil refugiados sírios e iraquianos.

Apenas Rand Paul, representante da ala libertária do partido, e Jeb Bush repetiram em palco as críticas que todos tinham feito antes à proibição defendida por Trump. “Banir todos os muçulmanos vai apenas dificultar aquilo que temos de fazer, que é destruir o ISIS [outra das siglas do EI]”, disse o antigo governador da Flórida, num de vários ataques cerrados ao milionário, a quem acusou ser “muito bom em tiradas, mas um candidato do caos e que seria um Presidente do caos”. Trump – que aproveitou o debate para assegurar que não se candidatará como independente à Casa Branca se não for nomeado pelos republicanos –  atribui as críticas ao desespero de Bush, que é já quinto nas intenções de voto a nível nacional.

Em sentido oposto, tanto Cruz como Rubio evitaram atacá-lo. O senador do Texas, que foi apanhado a criticar o discernimento do milionário num encontro com apoiantes, chegou a trocar elogios com ele, reservando a sua artilharia para uma acesa troca de palavras com Rubio, numa altura em que ambos cortejam o eleitorado tradicional republicano e (mesmo que não o admitam) a liderança do partido. Cruz acusou Rubio de não ter uma política de imigração suficientemente musculada, o senador da Flórida disse que o rival ajudou a Administração democrata a tornar o país mais vulnerável a um atentado ao apoiar restrições aos programas de vigilância electrónica.

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