Mais de 300 empresas já pediram o apoio da linha de crédito para Angola

Nos primeiros quatro meses do ano, as vendas para Angola caíram 24%. E 68% das empresas que vendem para este país dependem quase em exclusivo deste mercado.

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Mais de 300 empresas com negócios em Angola já tinham pedido, até sexta-feira passada, o apoio da linha de crédito criada pelo Governo para aliviar a tesouraria a quem tem negócios com este país africano.

De acordo com o secretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, Pedro Gonçalves, o valor total dos pedidos de financiamento, feito por 312 empresas, é de 121 milhões de euros (cerca de 20% do montante disponível). Isto não quer dizer, no entanto, que todo este valor seja convertido em créditos, já que ainda é preciso confirmar se as empresas têm condições para serem elegíveis, como o depósito do respectivo valor em kwanzas num banco angolano (retido por falta de divisas internacionais). O apoio máximo é de 1,5 milhões para PME Líder e de um milhão para as outras PME, mas o valor pode ser pedido em três tranches. Pedro Gonçalves tem a expectativa de que, durante o corrente mês, estes pedidos de financiamento sejam transformados efectivamente em créditos às empresas.

A linha de financiamento cujo montante global é de 500 milhões, está disponível há poucas semanas. Isto porque só esteve operacional no final de Maio, e não nos últimos dias de Abril, como estava previsto. Para o secretário de Estado, do ponto de vista dos organismos públicos foi tudo feito dentro dos prazos, acrescentando ser normal que este instrumento, totalmente novo, tenha precisado de algum tempo para chegar até às empresas através dos bancos. “Esta não é uma linha qualquer”, sustenta Pedro Gonçalves, acrescentando que é um financiamento que liga “dois países, e duas realidades económicas”.

Os dados disponibilizados pelo Ministério da Economia ao PÚBLICO surgem no mesmo dia em que se confirmou a contracção das vendas para Angola, a braços com uma crise financeira derivada da descida do preço do petróleo. Esta terça-feira, os dados do comércio internacional disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) vieram mostrar que, entre Janeiro e Abril, as vendas de bens para Angola sofreram uma descida de 24,4% face a idêntico período de 2014. Em valor a queda foi de 234 milhões de euros.

Entre os quatro primeiros meses deste ano, o pior foi o de Fevereiro, com uma queda homóloga de 33% (-79 milhões), mas os dados do INE vieram agora mostrar que Abril foi também bastante negativo, com as vendas de bens a sofrerem uma redução de 26,8% (-63,2 milhões de euros). Ao todo, entre Janeiro e Abril deste ano as exportações para Angola não foram além dos 724,9 milhões de euros.

O tema teve direito a uma análise específica por parte do INE, com o instituto de estatísticas a revelar que 6438 empresas portuguesas, das 9440 que exportam para Angola, estão muito dependentes deste país: do total das receitas que fazem com o exterior, entre 76% a 100% das vendas têm este país africano como destino.
Assim, qualquer conjuntura negativa neste mercado, como a descida do petróleo (principal fonte de receitas de Angola), tem um enorme impacto nas contas destas empresas (que têm um peso de 68% no total de exportadores), cuja esmagadora maioria são PME. Em valor, estas 6438 empresas exportaram um total de 2027 milhões de euros, dos quais 1939 milhões dependem de Angola. Ou seja, este mercado vale 95,6% das suas vendas ao exterior.

A rubrica de máquinas e aparelhos foi a mais afectada, seguindo-se os produtos alimentares. Angola, do qual Portugal surge como o principal abastecedor, provocou mesmo o maior contributo negativo em termos de dinâmica das exportações, e já foi ultrapassada pelos EUA na liderança do ranking dos compradores de bens portugueses fora do espaço europeu. Entre Janeiro e Abril os EUA adquiriram bens avaliados em 795,6 milhões de euros (com destaque para combustíveis), contra os 724,9 milhões de Angola.

Importações sobem em Abril
Em termos gerais, os dados do INE mostram ainda que as importações de bens cresceram 16% em Abril face a idêntico período de 2014, enquanto as exportações subiram a um ritmo inferior: 9,7%. Em relação a Março, as exportações diminuíram 2,9% “em resultado da evolução registada em ambos os tipos de comércio, destacando-se em relação aos bens transaccionados o vestuário, calçado e produtos químicos”.

Já as importações desceram apenas 0,2%, devido à evolução do comércio com os outros países da União Europeia, com o INE a destacar uma quebra nas rubricas dos veículos e outro material de transporte e metais comuns, enquanto nas importações de bens produzidos fora do espaço europeu se verificou um aumento. Em valor, as exportações no mês de Abril foram de 4264 milhões de euros (3090 dos quais para países europeus), contra os 5248 milhões das importações (3980 milhões vieram da UE).

Apesar dos dados de Abril, nos primeiros quatro meses as exportações subiram a um ritmo superior às importações (5,2% e 2,8%, respectivamente), o que veio ajudar a diminuir o saldo negativo da balança de bens: este está agora em 2977 milhões, contra os 3267 milhões de idêntico período de 2014. Por outro lado, a subida de mercados extra-UE como os EUA compensaram a quebra de Angola. Entre Janeiro e Abril as vendas para fora da Europa conseguiram crescer 2,6% face a idêntico período de 2014, chegando aos 4412 milhões, valor atingido graças à performance dos dois últimos meses.

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