Para os Queens of the Stone Age, o rock 'n' roll continua a ser o melhor emprego do mundo

Esta sexta-feira, o Rock in Rio prossegue com os americanos Queens of The Stone Age, cultores da mitologia rock 'n' roll. Sábado é dia de Arcade Fire e Lorde. Domingo, Justin Timberlake fecha.

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Queens of the Stone Age Nora Lezano

Os últimos três dias de Rock in Rio estão aí. No sábado, atenções concentradas nos canadianos Arcade Fire e Lorde e domingo em Justin Timberlake. Mas esta sexta são os Linkin Park e, especialmente os Queens of the Stone Age, que estarão em foco.

Há cerca de um ano os últimos estiveram no festival Super Bock Super Rock, mas desta vez é o Rock in Rio que chama por eles. Na perspectiva de um músico os festivais serão todos iguais, perguntamos a Michael Shuman, o baixista dos Queens of the Stone Age? “Não, claro que não, embora a partir de determinada altura possam parecer todos semelhantes”, diz, desatando a rir.

Os americanos são o tipo de banda que faz periodicamente o circuito dos grandes festivais de Verão, embora Michael Shuman não tenha dúvidas de que um concerto em nome próprio possa resultar numa experiência mais recompensadora para os músicos.

“Na maior parte das vezes prefiro os nossos concertos, quando estamos exclusivamente perante a nossa audiência, numa sala que faz sentido para nós, com as nossas condições técnicas. Existe maior controlo. Fazemos exactamente o que queremos fazer e estamos perante pessoas que entendem por que é que o fazemos daquela maneira.” Num festival é diferente, mas também existem vantagens: “Acaba por haver pessoas à volta, encontramos amigos e vemos concertos de outros grupos.”

O grupo do qual faz parte, liderado pelo vocalista e guitarrista Josh Homme, tem sido desde o final dos anos 1990, uma das forças mais consistentes da música rock. São um dos grupos que melhor encarnaram a mitologia rock 'n' roll, embora Michael Shuman observe que parte do que se disse deles, um universo de copos, festas e tumultos, não tenha passado de efabulações.

“Exagerou-se muito em determinada altura sobre a existência do grupo fora dos palcos, mas é normal”, desvaloriza, argumentando que andar em digressão significa um compromisso entre prazer e trabalho. “Gosto de andar na estrada, estou habituado a fazê-lo, toda essa dinâmica das cidades, dos hotéis e dos concertos vivo-a com alguma descontracção. Mas claro que existem momentos em que me farto. É a vida. Faz parte do trabalho, nesse sentido."

O último álbum do grupo, … Like Clockwork, foi editado em 2013, semanas antes do concerto, no Meco, no ano passado. Esta sexta-feira diz que as canções irão soar diferentes. Porquê?

“Somos um grupo experimentado, mas as primeiras vezes que tocamos uma canção nova ao vivo acaba por ser um pouco estranho. De repente, ali estamos com qualquer coisa que criámos em laboratório, a apresentá-la perante uma audiência. As canções do novo álbum não foram fáceis de integrar ao vivo. São mais dinâmicas e têm mais pormenores do que é usual. São como organismos vivos, vão mudando e agora irão soar diferentes.”

O último álbum do grupo é, simultaneamente, semelhante e diferente de anteriores registos como Songs from the Deaf (2002) ou Era Vulgaris (2007), com algumas baladas sinistras, ambientes psicadélicos e um rock barroco e corpulento.

Ao que parece, Josh Homme esteve perto da morte e essa experiência fê-lo navegar por zonas mais obscuras do que o habitual. Depois de uma primeira tentativa, em que gravaram algumas canções de rock directo e cru, acabaram por optar por uma abordagem mais variada. “A feitura de um álbum tem diversos momentos. Não temos propriamente um método de trabalho, utilizamos vários. Por norma damos início ao processo com algumas ideias e depois vamos desenvolvendo alguns desses esboços. Mas também pode acontecer que algumas canções sejam criadas num único dia. Neste caso aconteceu um pouco das duas coisas. Há sempre canções que vão ficando de lado.”

Michael Shuman está no grupo desde 2007. Os fundadores foram Josh Homme e Nick Oliveri, que acabou por sair em 2004, ao que parece devido a excessos. Recentemente, Oliveri voltou a encontrar-se em palco com os restantes, mas foi apenas isso, “uma ocasião fortuita, que acabou por ser divertida”, diz Shuman.

Na altura em que falámos com Shuman, passavam 20 anos sobre a morte de Kurt Cobain e na imprensa voltava a falar-se do estilo de vida romantizado do rock. O  baixista diz que Nevermind, dos Nirvana, foi um dos primeiros álbuns que comprou na vida, “tinha para aí 12 anos”, mas a inspiração que daí adveio foi puramente musical.

“Kurt Cobain foi uma inspiração, mas quando era novo não pensava nos seus problemas com adições, apenas pensava que as suas canções eram fantásticas. Eram canções que respiravam punk-rock, mas ao mesmo tempo tinham qualquer coisa de Beatles e de pop, podendo ser acessíveis e inteligíveis para todos.”

Kurt Cobain lidava mal com a pressão do sucesso. Nem com aqueles que o admirava parecia ter uma relação pacífica. E para um músico que faz parte de uma das bandas mais aclamadas do circuito rock actual? “Sou uma pessoa muito recatada”, diz Shuman. “Nem gosto de álcool, por exemplo. O meu trabalho é a música. É fazer música. Sim, claro que percebo que há pessoas que projectam coisas para cima de mim, julgando conhecer-me, mas não se pode controlar isso. Umas vezes desiludimo-las, outras não.”

Diz que, a música, por si só, já constituiu um convite à transcendência. Parte do seu apelo reside aí. E a experiência de um concerto tem qualquer coisa de irreal, reflecte. “É fácil perder-se a noção da realidade, porque estamos ali, em palco, com milhares de pessoas a gritarem. Às vezes, quando se sai do palco, pode-se continuar a viver nessa dimensão, rodeado de pessoas que nos admiram. Mas na maior parte das vezes só desejo sair na direcção do hotel.” E conclui: “Mas não tenho razões de queixa. Este continua a ser o melhor emprego do mundo.”

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