Morreu Mário Mosqueira do Amaral, um dos refundadores do GES

Referência do núcleo duro de accionistas do Grupo Espírito Santo, ajudou a reconstruir o grupo após as nacionalizações.

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Ricardo Salgado, presidente do BES, recorda-o como um homem com uma “sabedoria profunda" e "muito perspicaz" Enric Vives-Rubio

Mário Mosqueira Amaral faleceu ontem, aos 81 anos. O banqueiro, accionista de referência da holding Espírito Santo Control, com cerca de 16%, era um dos cinco elementos do núcleo duro que controla o Grupo Espírito Santo, e o único que não pertencia à família.

Numa nota enviada ao PÚBLICO, o presidente do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, recorda-o como um homem com uma “sabedoria profunda, muito perspicaz e com sentido de oportunidade”. “O grupo só pode estar muito grato pela sua enorme contribuição para o seu desenvolvimento. É com profunda tristeza que assistimos à sua partida”, afirmou o banqueiro. Administrador do antigo Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) aquando das nacionalizações, teve um papel fundamental no período mais quente da revolução, em 1975.

No testemunho que consta no livro Excomungados de Abril, Mário Mosqueira contou que, a 11 de Março de 1975, recebeu em casa um telefonema a avisar que não deveria ir ao banco e percebeu que estava em vias de ser preso. Nos dias que se seguiram, andou fugido até que soube de um barco alemão que estava atracado em Lisboa e que iria partir para os Estados Unidos. Viajou durante 14 dias, como passageiro clandestino, e esteve escondido durante 30 horas até se apresentar ao comandante. Guardou uma réplica do barco em casa “num lugar de honra”, contou aos autores, Filipe S. Fernandes e Hermínio Santos.

Mário Mosqueira do Amaral participou “activamente na libertação de membros da família Espírito Santo, pela relação que estreitou com Walter Salomon, o banqueiro de origem alemã, mas naturalizado inglês, e através dos contactos que foram desenvolvidos com o ministro dos negócios estrangeiros alemão Genscher e com o ex-presidente francês Giscard d’Estaing”, recorda Salgado.

Nessa altura, acrescenta o banqueiro, foi convidado “a participar com outros quatro membros, Dr. Manuel Ricardo Espirito Santo, Comandante António Ricciardi, Dr. António Espirito Santo, Dr. José Roquette e eu próprio, na refundação do grupo”, que, depois, sofreria uma alteração com a saída de José Roquette e com a entrada de José Manuel Espírito Santo.

Em 1975, fez parte da constituição da Espírito Santo International, no Luxemburgo. Do chamado grupo de promotores que relançou os negócios da família, a partir de Toledo (local onde se reencontraram), Mosqueira do Amaral foi o primeiro a regressar a Portugal logo no final de 1976, como se lê no livro Excomungados de Abril. E, um ano mais tarde, esteve envolvido na fundação da Compagnie Financiere Espirito Santo, em Lausanne, Suíça.

Ricardo Salgado sublinha o “papel muito importante” de Mosqueira do Amaral no relançamento da família Espírito Santo nos negócios, destacando ainda o seu envolvimento na constituição do BIC em 1986, e na reprivatização da Tranquilidade em 1989/90 e do Banco Espírito Santo em 1991/92, para cujo conselho de administração entrou em Setembro 1991. Este é o ano em que morre Manuel Ricardo Espírito Santo, e, após um processo de sucessão do qual Mosqueira do Amaral fez parte, é entregue a liderança da vertente financeira a Ricardo Salgado. Para si ficaria a gestão da Espart, sub-holding ligada ao turismo e ao imobiliário.

Pai de Pedro Mosqueira do Amaral, administrador do BES, Mário Mosqueira do Amaral estava reformado desde 2008, após ter sido participado no desenvolvimento internacional do banco. Nascido em São João do Estoril, licenciou-se em Economia pelo antigo ISCEF (hoje ISEG) e fez uma pós-graduação na London School of Economics. Com Cristina Ferreira

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